Capítulo 13

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LAUREN PDV


Ainda sentada no colchão eu encarava a TV que continuava a reproduzir o filme que ninguém mais assistia. Na minha cabeça milhares de vozes gritavam e eu tentava organizá-las, mas era quase impossível. Olho para o corredor escuro e, com um tiro de adrenalina, crio coragem em me colocar de pé. Procuro por minhas roupas íntimas no chão e as visto às pressas, dando pulinhos para passar a calcinha por minhas pernas.

Caminho rapidamente pelo corredor e só paro quando a porta de madeira fechada me impediu de continuar. Ergo a mão para bater à porta, mas a coragem parecia ter esvaído. As vozes voltaram gritando para eu parar. Eu queria, queria ir atrás de Camila, mas o medo não me deixava fazer isso.

Medo? Sim, medo!

Você não sabe o real peso da responsabilidade até que pessoas começam a depender de você. Não sabe o valor de uma vida até que só vê morte passando por seus olhos. Não sabe o preço que uma escolha errada tem quando toma algumas.

Simplesmente o preço é a sua morte.

Se ligar a alguém no mundo atual é o mesmo que pegar metade da carga pesada que o outro carrega e a colocar em suas costas. É o mesmo que dar as mãos à beira de um precipício e esperar que um dos dois se jogue e leve o outro.

É ter mais reponsabilidade em cima de você.

Minha mãe adorava a frase "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". Dizia que quando unimos nossa vida à de outra pessoa, por meio do casamento ou por meio da alma, é um acordo silencioso com Deus e isso é eterno.

Deus não estava aceitando pedidos no momento, então cabia a mim pessoa atar ou não minha vida à de outra pessoa.

E de algum modo eu sentia que isso lentamente estava acontecendo comigo e com Camila. Eu sabia que se continuássemos aquilo iria se desenvolver em algo perigoso tanto para mim quanto para ela.

Tínhamos pessoas que contavam conosco. Pessoas que precisavam de nós. Tínhamos responsabilidades pessoais.

Por isso eu entendia sua linha de pensamento. Entendia sua indecisão. O peso em nossas costas já estava grande demais e mais pessoas significa mais carga.

E foi por isso que eu não bati à porta. Sucumbi-me ao medo e dei um passo para trás desistindo de pegar aquela carga para mim. Deixaria que as coisas desenrolassem e o que tivesse que acontecer... aconteceria.

***

Nenhuma palavra foi dita naquela manhã.

Nenhuma uma provocação, nenhum comentário sarcástico e nem ao menos o "Bom dia" que havíamos aprendido dizer uma para outra todas as manhãs na casa de campo.

Quando acordei na cama do quarto adolescente eu me levantei e fui até o banheiro do corredor. Usufrui pela última vez da água quente do local e guardei alguns shampoos e produtos de limpeza pessoal dentro de um saco.

Desci as escadas e já encontrei todas as coisas que levaríamos embora em cima do sofá na sala. Camila organizava tudo em silêncio e nem ousou levantar a cabeça para mim.

Eu não queria aquelas atitudes infantis, eu não queria aquela tensão toda depois de todos os passos que demos em nossa "amizade". Eu queria conversar, mas, infelizmente, não sabia quais palavras utilizar. E o que argumentaríamos?! Se explanássemos o óbvio... não teríamos outra escolha do que arcar com as consequências. Então deixei que a sua insegurança ditasse o caminho, uma vez que eu sequer sabia qual direção tomar. Se ela queria silêncio, eu respeitaria.

Into The DeadOnde histórias criam vida. Descubra agora