O Som do Coração

Capítulo 7 - Só eu que não sabia disso?

   Eu havia acordado com um objetivo.

"... De início vi apenas um prato com uma gigante lasanha gorda.

- Bia, não coloque os cotovelos na mesa! - minha mãe dizia enquanto tirava seu avental revelando seu vestido azul marinho que ia até o joelho.

- Mãe, você está maravilhosa! - disse olhando seu cabelo loiro quase cacheado preso em um coque com alguns fios no rosto.

- Obrigada, foi boa a sua dica. O Ricardo adorou!

- An?

  Até que olhei em volta e vi que estávamos na sala de jantar do nosso apartamento e o Ricardo estava entrando com um sorriso.

- Obrigada por permitir nosso namoro, Bia! - dizia ele muito sorridente.

- Como assim? Vocês estão namorando?

- Filha, você está bem?

- Eu prometo fazer sua mãe muito feliz! ..."

  Depois desse sonho tive mais outra certeza de que o Ricardo era o homem ideal para minha mãe. Agora só faltava juntar os dois.

- Filha? - dizia minha mãe com apenas o rosto a mostra ao lado daquela porta cheia de filtros do sonho.

- Oi, mãe. - disse bocejando.

- Arruma seu café da manhã porque eu vou sair mais cedo hoje e só volto mais tarde, está bem?

- De novo?

- É que eu estou atrasada com algumas pinturas na galeria. Não atrasa porque daqui a pouco o pai da Gabi chega.

- Sim, mãe.

- Bom dia e boa aula, meu amorzinho! - disse dando um beijo em minha cabeça.

                         |•|

   Desde o momento em que saímos do carro do pai da Gabi a escola estava bastante tumultuada, parecia ser o primeiro dia de aula. Todos pareciam estar bastante empolgados com algo que aparentemente eu não sabia o que era e as meninas eram as mais sorridentes. Será que teria rodízio de suspiros? Digo, o doce não suspiro de suspirar por algo.
   Estávamos em uma aula de Física completamente entediante com o professor Leonardo e às vezes eu achava que eu jamais aprenderia aquela matéria. Quem gosta de Física? Na verdade, nem todos da minha classe pensavam como eu já que  vários alunos estavam super concentrados na explicação - inclusive a Gabi - e eu como sempre ficava desenhando as coisas mais improváveis que minha mente imaginava.
   Eu já estava a ponto de debruçar na mesa com tamanho tédio que eu sentia mas fui salva pelo gongo.

"... Senhores alunos, compareçam ao auditório imediatamente para esclarecermos algumas pendências..."

- Será que tem haver com o fato de todo mundo estar empolgadinho demais hoje? - disse guardando meu óculos.

- Eu ouvi algumas meninas dizerem que terão alunos novos, mas não sei em qual série estão.

- Mas isso tudo por causa de alguns novatos? - disse enquanto caminhávamos por aquele extenso corredor.

   A escola onde eu estudo desde sempre era enorme. Era muito fácil se perder com todos aqueles corredores que davam para todos os lugares.
   Naquele momento tive a impressão de que somente eu e a Gabi não sabíamos o que estava acontecendo porque todos os alunos estampavam um sorriso no rosto enquanto procuravam um assento naquele auditório que mais parecia um teatro com aquele palco e as inúmeras poltronas vermelhas. Todos nos sentamos e o murmúrio dos estudantes era evidente naquele gigantesco cômodo.

- Senhores alunos, silêncio por favor! - dizia a diretora com um enorme sorriso. - Silêncio, por favor!

   De repente, todos os cochichos desapareceram e os nossos olhares se voltaram para aquela mulher que mal contia sua empolgação.

- Bom dia à todos! - disse limpando a garganta. - Este ano  receberemos alguns alunos novos que vocês provavelmente já viram na televisão ou na internet e eu queria pedir que tratassem todos eles como qualquer outro aluno porque eles estão aqui para estudar, entendido?

- Se eu descobrir que alguém estiver importunando algum deles levará suspensão, entenderam? - ela dizia gesticulando cada palavra dita - Por favor recebam os nossos novos alunos: Guilherme, Vítor, Pedro e Caíque! - ela disse estendendo o braço em direção aos garotos.

- Os meninos da banda 5.1? - cochichei no ouvido da Gabi que estava paralisada.

   A Gabi era fã de carteirinha da 5.1, sempre ia aos shows, tinha todas as músicas no celular e sabia todas elas de cor. Eu gostava bastante das músicas - que era rock nacional - mas não era fã como a Gabi. Ela era apaixonada por cada um deles.

- Enfim, alunos, peço que tratem cada um deles normalmente, isso inclui nada de autógrafos e muito menos ataques de fãs malucos. Espero que tenham entendido o recado! Agora podem ir para o intervalo porque tomamos muito tempo do terceiro horário.

   Depois do recado da diretora o restante da aula passou bem rápido e todos os estudantes estavam completamente eufóricos com a ideia de dividir o mesmo espaço com quatro garotos famosos. Ainda bem que a diretora - que eu tinha desconfianças de que era fã da banda - havia proibido os inúmeros ataques de fãs estéricos - inclusive da Gabi - que poderiam acontecer. Eu só queria que as aulas acabassem o mais rápido possível e que logo eu pudesse entrar na faculdade.

- Adivinha quem está na minha sala? - disse Carlos quase se jogando em cima de mim e da Gabi.

- Oi para você também, Carlos! - disse.

- Quem? - disse a Gabi.

- Bia como sempre muito educada, não é mesmo? E Gabi, jamais deixe a Bia tirar sua doçura!

   Ele tinha razão. Eu e a minha melhor amiga éramos o oposto, enquanto sempre tive uma personalidade forte, ela sempre foi doce, embora seja meio maluquinha às vezes. Mas era isso o que nos unia, seria entendiante ter alguém igual a você, e às vezes eu achava que as nossas diferenças que nos unia. 

- Muito engraçado, Carlos! - disse sorrindo.

- Fala logo o que você queria contar! - disse Gabi impaciente.

- É verdade, tinha me esquecido! Dois meninos da 5.1, o Vítor e o Caíque! - ele dizia em meio à pulinhos.

- Sério? Ai, meu Deus! Acho que vou ter um infarte! Como eles são? Me conta tudo e não esconda nada! - nossa amiga dizia quase surtando.

- Só eu que não sabia disso? Digo, que eles iriam estudar aqui? - disse.

- Acho que sim, ficamos sabendo disso nas férias mas é porque você estava no acampamento do seu pai, Bia. - ele disse digitando algo em seu celular.

- Mas eu também não sabia!

- Só que você nem conta porque parece uma borboleta de tanto que voa, Gabi!

   E fomos à pé para nossas casas com os surtos de felicidade da Gabi e as informações valiosas que o Carlos nos contava.