Capítulo 68 - Uma cartinha atrás de uma foto.

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   Acordamos, tomamos café da manhã e fomos arrumar nossas malas. Iríamos embora naquela manhã.
   E pela última vez entrei naquele quarto, agora ele estava completamente vazio, sem as minhas coisas. Eu não sei porquê fiz isso, mas resolvi levar comigo a foto em que estou de cavalinho no meu pai. Por mais doloroso que fosse lembrar, era bom saber que alguma vez, há muito tempo, fomos felizes juntos. Olhei uma última vez para aquele cômodo e saí de lá tentando não esquecer todas as vezes em que fui feliz aqui.

- Você não vai ficar? - era a Moana.

- Não, vou viajar com a minha mãe esta semana.

- Então nos vemos nas próximas férias?

- Também não. Eu... Eu não trabalho mais aqui, é melhor para mim. - digo.

- Mas você ama este lugar!

- Realmente. Só que eu não quero ver meu pai mais.

- Entendi. Me dê um abraço então porque apesar de você ser meio doida, gosto muito de ti! - e nos abraçamos.

- Ano que vem eu volto aqui com a escola. Tchau, Moana! - aceno e entro no ônibus.

   Tchau, Raio de Luz.

   Eu iria sentir falta de trabalhar aqui, mas era a melhor coisa que eu poderia fazer por eu mesma.
   Dessa vez eu fui sentada com o Carlos no ônibus. A Gabi foi com o Vítor e o Caíque nem mesmo me olhou naquela manhã, o que foi melhor assim. Nem mesmo saberia como agir quando o encontrasse, fingiria que nada aconteceu? Diria que gosto dele mais do que amigos? Pediria desculpas por tê-lo beijado?
   Eu estava com a pior sensação da vida, ver o seu amigo sendo traído pela namorada juntamente com um ex amigo? Há quanto tempo aquilo acontecia? É óbvio que jamais contaria, ele precisaria ver com os próprios olhos para acreditar. Mas eu não podia negar que a minha vontade era socar a cara daqueles dois e perguntar o porquê de fazerem isso com o Caíque. Só que tinha outro fato, beijei o namorado dela duas vezes e isso também era uma traição, ou seja, a minha cabeça estava completamente confusa diante àqueles inúmeros pensamentos.

                          |•|

   O céu estava escuro, isso significava que estávamos chegando em Porto Alegre. O Carlos ainda dormia e pelo jeito grande parte dos alunos também, ouvia-se pequenos murmúrios mas nada demais.
   Fixei meu olhar na estrada que passava diante dos meu olhos e revivi o que eu tinha feito.

"... Abri a última gaveta da minha cômoda para tirar todas as minhas coisas daquele quarto, já que eu não trabalharia mais no Acampamento. E bem no fundo encontro uma foto, a mesma do porta retrato. Ela sempre me faria sorrir quando a visse.
   Eu sabia que seria uma tolice fazer, porém fiz mesmo assim. Acho que não queria aceitar as coisas como são. E mesmo assim peguei a foto e atrás dela escrevi as seguintes palavras:

   Pai,

   Sei que muitas coisas mudaram entre nós e que não somos mais pai e filha, apenas temos estes títulos e nada mais. Mas tudo bem, eu respeito suas escolhas, nós temos o direito de escolher com quem viver e quem amar, e você fez a sua. Eu só queria agradecer por ter me proporcionado momentos felizes. E se um dia quiser voltar a ser como antes, me procure.

   Bia. <3 (ou Beatriz como atualmente me chama)

   Peguei a foto, coloquei em cima da sua escrivaninha do escritório e saí em direção aonde os ônibus estariam..."

   E de repente os ônibus param, o que significava que havíamos chegado. Realmente quando estamos pensando em algo o tempo passa mais rápido.

- Pessoal, desçam devagar e peguem suas malas, entendido? - diz a professora de Literatura.

   Nos levantamos e descemos do ônibus, como era bom poder esticar as pernas. Fomos em direção ao motorista que entregava a mala de cada um e lá longe, vi a dona Camila com o Ramires na coleira. Era bom poder vê-los, e imediatamente uma empolgação surge em mim.

- Bia! - ela me abraça enquanto o Ramires dá vários pulos.

- Oi! - digo abraçando os dois - Que saudade! - sorrio.

   Por menor que fosse o tempo que tínhamos ficado no Raio de Luz, tinha sentido falta daqueles dois loucos em minha vida.

- O que acha de pedirmos uma bela pizza? - ela diz empurrando minha mala.

- De brócolis? Quero.

- Olha só, pedimos então a de brócolis! - ela ri.

                           |•|

   Naquela manhã estávamos: eu, a dona Camila, o Ricardo, os pais da Gabi e os pais do Carlos no aeroporto. Tínhamos uma semana de férias antes que as aulas voltassem e naquele dia íamos para a praia em Porto Seguro.
   Eu não conseguia guardar tanta empolgação dentro de eu mesma e dava para ver que todos estavam ansiosos para aproveitarmos o máximo possível.

O Som do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora