Capítulo 12 - Fobias vem à tona.

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    Abri os olhos sentindo minha costela doer mais do que o restante do meu corpo. Meu braço estava engessado. Olhei em volta e vi que não estava em casa ou na escola. Era lá que eu deveria estar, não? Então o que estava fazendo no hospital?

- Bia?! V-você abriu os olhos?! - era minha mãe - Que bom que acordou, meu amorzinho!

- O que aconteceu comigo? - disse com dor de cabeça enquanto minha mãe apertava um botão verde na parede.

- Você não se lembra? - ela disse confusa.

- Olá... Beatriz! Como se sente? Dor? Náuseas? - disse a enfermeira entrando no quarto.

- Dor.

- Logo, logo o efeito do remédio irá agir no seu corpo. Você irá sentir sono, mas é bom que você descansa um pouco mais. - ela dizia colocando algo no soro que entrava nas veias das costas da minha mão.

   Depois disso minhas vistas escureceram e eu caí em um sono profundo.

                          |•|

    Alguns diziam que os sonhos são o oculto da nossa mente, outros dizem que são mensagens do nosso subconsciente e uma parte acreditava que eram premonições e avisos do futuro. Se eu acreditava em alguma delas? Eu não sabia ao certo. Mas sonhar com uma parede completamente branca e, de repente, aparecer um quadro escrito "mudanças" era difícil saber em qual das "funções" que o sonhos tinham que ele se encaixava. Só que eu realmente tinha sonhado com isso, e o significado eu não sabia.
    Abri os olhos novamente e vi minha mãe sentada em uma poltrona folheando uma revista qualquer.

- Mãe? - disse com a voz fraca.

- Bia! Que bom que acordou. Está sentindo alguma coisa? - ela dizia acariciando meu cabelo.

- Agora não mais. Por quanto tempo eu estou aqui?

- Bem... Desde o momento em que tudo ocorreu... - ela dizia olhando para o "além" e fazendo algumas contas nos dedos - Quinze dias!

   O quê?!

- Q-quinze dias?

- Bem, você estava em coma. Mas eu estou tão feliz que você acordou! - ela dizia com lágrimas nos olhos - Que bom que chegou! - disse olhando a enfermeira que entrava.

- Como está se sentindo, Beatriz? - disse a enfermeira.

- Bem.

- Isso é muito bom! Deixe-me trocar seu soro. E logo seu jantar será servido.

- Obrigada!

   Somente quando ela falou em comida que eu percebi que estava com fome de arroz e feijão.
   Era estranho saber que eu estava em coma. Parecia com a mesma sensação que eu tinha quando dormia bem tarde e acordava depois do almoço. É como se tivessem passado algumas horas.

- Olá! Boa noite! Aqui está o seu jantar. - disse uma outra enfermeira com um carinho. - Coma tudo! - disse sorrindo e logo se foi.

    Todo aquele taboo sobre comida de hospital ser apenas sopa aguada e sem sal não existia mais em minha cabeça, pois eu estava diante de uma enorme bandeja com arroz, feijão, peito de frango picado, purê de batatas e salada.

- Uou! - digo pasma. - Isso está divino! - digo colocando uma garfada bem generosa na boca.

  Minha mãe ri.

- Você está mesmo com fome! - diz limpando o canto da minha boca. - Vai com calma antes que você engasgue, Bia!

- Você não tem noção do quanto esta comida está boa. Quer um pouco? - digo apontando o garfo com comida. - Eu disse um pouco, está bem?

- Não, obrigada. Comi faz pouco tempo.

   Se as coisas continuassem desse jeito no hospital, comida boa, pessoas educadas... Eu realmente não me importaria em ficar aqui por mais algum tempo.
   Meus pensamentos sempre me levavam para tão longe que, quando percebi, a bandeja com aquele tanto de comida tinha sumido, sumido para um lugar que eu sabia muito bem aonde era.

- Com licença! - disse um médico. - Boa noite, você deve ser a Beatriz!

-  Beleza? - digo.

- Sim. Como está se sentindo? - ele diz anotando algo em sua prancheta.

- Bem.

- Nenhuma dor? Tontura?

- Não. - digo e ele anota mais coisas.

- Amanhã de manhã você toma um banho porque temos de fazer uma bateria de exames para ver a situação de sua costela, principalmente.

- Como assim?

- Ué, você quebrou a costela.

  Como assim, gente? Nem sabia disso.

- Mais alguma coisa aconteceu comigo?

- Deixe-me ver. - diz folheando sua prancheta. - Aqui. Fratura na costela direita, no braço direito e... E só.

  Só?! Para mim é muita coisa!

- Deixe-me colocar este remédio na sua veia. Você sentirá sono. Até amanhã.

                        |•|

    Despertei do meu belo sono com alguém me cutucando. Era uma das enfermeiras.

- Bom dia, Beatriz! Você precisa tomar banho para fazer os exames. - ela dizia tirando o fio que passava o soro, deixando apenas a agulha na palma da minha mão.

   No final das contas, minha mãe me ajudou a tomar banho (era ela ou as enfermeiras, o que seria hiper estranho) e só então percebi o quão relaxante era sentir aquela água molhar meu cabelo e percorrer cada centímetro do meu corpo.
    Acho que nunca fiz tanto exame na vida. Passei a manhã inteira fazendo todos os exames possíveis, alguns eu nem sabia que existiam.

- Bia, você acordou! - disse a Gabi quase correndo - Como eu senti sua falta!

- Sem grude, está bem? - disse sorrindo.

- A educação em pessoa! É uma pena o horário de visitas ser tão curto. - disse desanimada - Quase que me esqueço, o Carlos não pôde vir, você sabe que ele tem medo de hospital, não é?

- Sei sim! - digo rindo - Gabi, me conte uma coisa: O que realmente aconteceu no dia em que eu machuquei?

- Você não se lembra?

- Não.

- Foi assim...

     E a cada palavra que ela dizia era como se eu revivesse cada momento novamente.

"... - Bia, pensa rápido! - dizia o menino jogando uma... Aranha?!

  Quem me conhecia sabia que eu tinha fobia à aranhas, e não era um medinho qualquer, a fobia chegava a ponto dos meus braços se atrofiarem por alguns horas, ou ocorrer desmaios e convulsões. Não importava se era de plástico, se era um desenho ou real, eu tinha pavor.
    Quando vi aquela aranha - de plástico - cair em minhas mãos eu surtei. Gritos e mais gritos saíam da minha boca até que dou um pé em falso e me vejo cair da escada, uma mão até tenta me ajudar mas elas se soltam uma da outra e lembro de sair rolando escada abaixo e sentir muita dor. Depois disso, tudo escureceu..."

- O Caíque até tentou te segurar mas as mãos de vocês se soltaram. - ela dizia.

- Uou, eu realmente não me lembrava disso.

- Aí o Breno levou uma suspensão por ter provocado com a aranha, ele só não foi expulso porque ele disse que foi na "inocência". - disse fazendo aspas com as mãos.
   Enquanto a Gabi falava eu ficava imaginando o quanto o Caíque era gentil. Mas eu queria mesmo que o Lucas que tivesse me salvado.

O Som do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora