Capítulo 78 - Conhecendo alguém novo, déjà vu.

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   Naquele momento ouvia-se apenas o barulho do salto agulha da diretora sobre o piso daqueles corredores vazios do Absoluto.

- Entre, Beatriz. - ela diz estendendo a mão me indicando uma das cadeiras.

   Era o penúltimo dia de aula do ano. Tínhamos as provas finais naquela semana, o que ajudava a passar mais rápido.
  Entrei naquela sala e me sentei completamente distraída, eu pensava em milhões de coisas, menos no espaço ao redor de mim.

- Fique aí e pense no que fez, senhorita. Eu já volto. - ela diz e fecha a porta me deixando só.

   Eu pensava estar só até ver alguém muito familiar sentado ao meu lado.

- O que tu fizeste dessa vez? - o Caíque diz.

- Despertador. Heavy Metal. Lembra? - digo seca.

   Ele dispara a rir.

- Eu não vi nenhuma graça. - digo tirando meu óculos do rosto.

- Você deixou o alarme tocar na sala de aula de novo?

- Foi sem querer, está bem? E você, por que está aqui?

- Esqueci de fazer uma tarefa. Isso me lembra algo. - ele sorriu como se lembrasse de algum fato.

- O quê?

- Quando nos conhecemos. - ele sorri.

   E imediatamente me veio um déjà vu. Eu tinha sido expulsa por desenhar nas aulas de Física e o encontrei. Naquela época mal sabia eu tudo o que aconteceria.

- Lembra? Você disse: Ei, você não é o Caíque da 5.1? - ele imitava minha voz.

- Eu não falo assim, está bem?

- O.k. Você ganhou. - o popstar olha para o chão e me encara - Se a gente soubesse tudo o que aconteceria.

   Se a gente soubesse.

- Se soubéssemos o rumo que as coisas tomariam... - o Caíque gagueja - Você mudaria algo?

   Pergunta difícil. Eu mudaria algo se soubesse o final de tudo?

- Eu vou dar uma chance para vocês dois porque o ano letivo praticamente acabou e eu quero férias. - a diretora nos interrompe - Ai de vocês dois se contarem isso para alguém! Agora podem ir.

   Eu e o Caíque saímos daquela sala o mais rápido que pudemos antes que ela mudasse de ideia e nos castigasse.
   Caminhamos um pouco em silêncio quando o Caíque me encosta na parede com seus braços ao meu lado me impedindo de sair.

- Você mudaria? - ele me encara.

   Eu não sabia aquela resposta. Eram muitas coisas para pensar assim, sob pressão.

- Eu sei que você não quer me perdoar pelo que fiz contigo antes, mas eu me arrependo profundamente e eu gosto de ti como nunca gostei de ninguém. - seus lábios tocaram os meus.

   Senti um choque por todo o meu corpo ao seu toque, mas antes que aquilo virasse um beijo, o sinal tocou e os inúmeros alunos saíram de suas salas.

- Eu tenho que ir. - digo.

                           |•|

   Faziam alguns dias que voltei para a minha casa e eu estava tão feliz por aquilo. Poder acordar e ver meus quadros, a parede azul céu, a minha cama violeta e a minha penteadeira lilás me traziam felicidade. Isso fora o Ramires e a minha mãe.
   Como de costume eu estava deitada no chão com o Ramires ouvindo uma música. A minha cabeça estava tão confusa... E naquele momento, foi como um passe de mágica, lembre-me da borboleta que o Caíque desenhou no gesso do meu braço. E eu guardei aquele pedaço.
  Abri a caixa e encarei aquela bela borboleta desenhada com caneta permanente.

   E sorri.

   Eu sentia falta daquela época, onde eu não tinha problemas reais, onde éramos apenas sinceros amigos e nada de sentimento amoroso tinha acontecido. Naquela época, apenas me preocupava com a Operação Cupido.
   Eu mudaria algo em tudo o que aconteceu? A pergunta do Caique me veio a mente.

- Bia? - era a minha mãe.

   Ela tinha chegado mais cedo.

- Você quem desenhou essa borboleta?

- Foi o Caíque. - digo me lembrando do momento em que ele desenhou.

   Devo ter feito uma expressão muito óbvia porque ela me guiou até a minha cama e nos sentamos.

- Pode me contar tudo, mocinha.

   E contei. Contei tudo. Ela ouvia com bastante atenção. Abri meu coração e contei o que eu sentia. Era tão confuso não saber se queria ou não gostar do popstar, com o Caíque era tudo tão diferente, era mais intenso, a cada escolha que eu fazia parecia ser de vida ou morte. A verdade era que eu era louco pelo seu sorriso ou quando ele tirava o cabelo liso que escorregava no olho. Ou as suas pulseirinhas de couro no pulso, a forma que ele estava sempre disposto ajudar à todos. Era gostava muito dele e uma parte de mim dizia que eu devia correr até ele e dizer que eu não queria ficar longe dele, no entanto a outra metade dizia que devia usar a cabeça e esquecer que gosto dele.

- Bia, depois de amanhã é o seu último dia para decidir o que escolher. Mas olha, pense muito antes de tomar uma decisão, que é só sua e ninguém pode te influenciar, eu só te digo que a vida é curta demais para guardarmos rancor uns dos outros. Ele é uma celebridade e  provavelmente você nunca mais o verá caso não o perdoe. Essa escolha é sua, meu amor. - ela fala e me abraça.

                        |•|

   Acordei naquela manhã determinada. Tomei meu café da manhã e fomos eu, a Gabi e minha mãe para a escola ouvindo "Meu Novo Mundo", do Charlie Brown Jr. Eu estava tão feliz por aquele momento.

- Boa aula, meninas. - a dona Camila diz.

   E olhei para o Absoluto. Era o último dia de aula e eu estava feliz por tudo o que tinha vivido, tudo teve um propósito. Estava feliz por ter aproveitado ao máximo o último ano com o Carlos, por ter descoberto quem o Lucas realmente era, por conhecer os menino da 5.1, o fato de a Gabi namorar o Vítor me deixava extremamente feliz, e o Caíque. O Caíque era o Caíque. E sorri.

- Vamos entrar? - digo sorrindo para a Gabi.

   Fizemos as últimas provas e alguns minutos depois as notas foram divulgadas. Sim, eu tinha passado de ano. E nos minutos finais todos os alunos foram para o auditório e os menino da 5.1 ficaram no palco.

- Eu queria cantar para alguém especial. - o Caíque diz com um violão nos braços.

   Dessa vez não tinha bateria nem guitarra, era violão e voz.
   Ele começou a cantar uma das minhas músicas favoritas:

    Hold On.

   A música era inglês mas eu já tinha estudado a tradução tantas vezes que sabia a letra até de trás para frente.
   Aquela era a oportunidade perfeita, ele terminava de cantar e eu ia até ele e dizia que queria muito que ficassemos juntos. Sim, esse tinha sido o motivo de ter acordado determinada, não ia desperdiçar o tempo por coisas que já se foram.

- Bia, quando ele terminar você vai até ele, não é mesmo? - a Gabi susurrava.

   Sim, eu tinha contado isso para meus amigos também. Eu contava tudo.

- Respira fundo e vai. - o Carlos segura minha mão.

   A música parou, isso significava que era a hora de eu ir até ele e dizer o que sentia.
   Olhei para meus amigos, que sorriram, e quando me levantei todos começaram a assobiar. Meus olhos vão até o palco e eu vejo algo...

   A Alice e o Caíque se beijavam.

   Meu mundo caiu. Literalmente. Caí sentada na poltrona segurando para não chorar ali mesmo enquanto todos assobiavam para aquela cena dos dois.

   E naquele instante o Caíque me olha.
  

O Som do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora