Naquele dia eu não iria para a escola. Sim, mais uma vez eu estava faltando. Por mais que eu nunca gostasse de ir à escola, eu não era do tipo que faltava ou que matava aula, e acho que este ano faltei mais do que em toda minha vida, o que não era legal. Ainda mais quando existe um certo professor que não vai com a sua cara e faz de tudo para te prejudicar.
Nesse meio tempo desde a minha saída do hospital - que foi ontem - até agora, pensei em como eu tinha sido egoísta. Não me conformei em não poder participar da peça, desobedeci minha professora de dança, me machuquei, fiz minha mãe faltar ao serviço mais uma vez, faltei à escola e agora, principalmente não poderei dançar. Parabéns, Beatriz! Algora não é mais só Beatriz do Azar e sim Beatriz do Azar Teimosa.- Acho que você está com fome, acertei? - disse para o Ramires que ia em direção à cozinha - Pelo jeito acertei.
Agachei com muito esforço e coloquei ração naquela tigela verde-água com bolinhas brancas.
- Eu espero que você não seja teimoso assim como eu, Ramires! - disse enquanto ele comia - Você viu o que aconteceu comigo? Agora sou obrigada a usar essa faixa horrorosa por baixo da blusa! Ou seja, sempre obedeça as regras.
Por mais estranho que pudesse parecer, eu amava conversar com o Ramires. Eu realmente acredito que eles entendam o que nós dizemos, caso contrário, ele não estaria tão carinhoso comigo desde que me machuquei.
Eu estava cansada de ficar dentro de casa o tempo inteiro. Acho que não faria mal algum se eu desse uma volta pela vizinhança.- O que acha de darmos uma volta, Ramires?
Aqui vai mais uma prova de que os animais nos entendem: dessa vez meu cachorrinho não saiu correndo me arrastando por aquela coleira amarelo. Graças à alguém muito legal - ou o próprio Ramires - ele andou calmamente por aquelas pessoas, o que evitou que eu pudesse sentir dores por ser puxada por uma coleira. Muito obrigada, Ramires, você irá ganhar um petisco.
Por ser uma sexta feira, as calçadas estavam mais movimentadas com pessoas entrando e saindo de diversas lojas carregadas de sacolas. Até que eu vi uma vitrine repleta de piercings dos mais variado modelos. Sim, eu queria furar. Provavelmente minha mãe não deixaria? Provavelmente. Mas a verdade é que já eu tinha três furos em cada orelha, e na esquerda eu tinha um piercing na ponta dela. Mas com certeza eu iria pedir para a minha mãe.- Quem sabe a gente volte aqui? - disse para aquele cachorrinho que coçava sua orelha.
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Esperei minha mãe chegar da galeria para fazer o pedido à ela. Eu realmente esperava que ela me deixasse furar a orelha direita.
- Oi, Bia! - disse carregando as sacolas com nosso jantar - Já trouxe nossa comida!
Ela estava diferente.
- Mãe, eu queria... - ela realmente estava diferente - Espera um pouco... Que sorrisinho é esse?
- Que sorrisinho?
- Esse mesmo!
- Não tem nenhum sorrisinho, Beatriz Almeida. Agora vá lavar as mãos!
- Me conta, mãe! Você viu o Ricardo?
Quando falei o nome dele, ela parou de colocar a comida no prato e me encarou.
- Está bem, Beatriz. Eu te conto.
- Por favor.
- Bem, eu acho que estou me interessando pelo Ricardo. - ela se sentou e apoiou o rosto na mão enquanto sorria - É que ele é um homem tão legal, sincero...
- Sério? - pulei em seu colo - Eu estou muito feliz, mãe! Que máximo! - disse não contendo minha felicidade.
A dona Camila era uma típica ariana que não precisava de um par para ser feliz. Mas a verdade é que às vezes aparenta que ela sente falta de ter alguém para abraçar, para dizer que é seu amor. E é óbvio que ela nunca admitiria isso, mas o Ricardo chegou em um ótimo momento.
- E vocês se viram hoje? - disse.
- Sim. Quando eu fui pagar a conta ele estava entrando no restaurante e conversamos um pouco. - e sorriu - Agora chega de falar no Ricardo e vamos comer.
Parte da Operação Cupido estava dando certo:
1. Ele era um cara legal;
2. Eles tiveram um quase encontro;
3. Ele já provou ser uma pessoa do bem;
4. Ela estava começando a gostar dele.
Agora eu só precisava armar outro encontro com eles para se aproximarem cada vez mais e fim, eles começariam a namorar. E a Operação Cupido seria realizada com êxito. Minha mãe estaria feliz, o Ricardo também e eu mais ainda.
Eu estava tão concentrada em meus pensamentos de juntar a dona Camila com o Ricardo que, quando percebi, minha mãe não estava mais sentada, ela estava abrindo a porta para alguém.Era a minha professora de dança. A Dagmar.
O que ela está fazendo aqui?
- Bia, olha quem está aqui! - minha mãe disse - Ramires, não pode latir esse horário!
- Oi, Bia! Desculpe o horário é que eu soube que você se machucou. - ela disse se sentando.
Se eu conseguia dizer algo? Não. Eu esperava de verdade que ela não falasse nada para a minha mãe sobre minha desobediência.
- Ela quase me matou do coração. - a Dona Camila disse - Quando eu soube que ela tinha se machucado dançando... Não gosto nem de lembrar!
- Espere. - disse a Dagmar - Você andou dançando? Eu pensei que tinha caído, pelo menos foram isso que as meninas do ballet me disseram.
Ai, não...
- Mas ela não podia dançar? - minha mãe disse.
- Não, no dia em que ela foi no stúdio eu disse que não podia por dois meses.
- Bia? Você não vai dizer nada?
A verdade era que eu estava em choque demais para dizer algo. Como as coisas sempre aconteciam comigo?
- E-então... É que eu pensei que um teste bem rápido não me faria mal. - disse extremamente nervosa.
- Bia, eu te falei que você não podia dançar por um tempo!
- Mas é que tem uma peça na escola que eu queria muito participar!
- Beatriz Almeida, você trouxe sérios problemas para ti! - a dona Camila dizia muito séria.
Se eu iria ouvir muito? Sim, eu iria.
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O Som do Coração
Genç Kurgu"O que você faria se um popstar se tornasse seu melhor amigo?" "E se você se apaixonasse por alguém que te vê apenas como uma garota que vive precisando ser salva?" Esta é a história de Beatriz, uma garota comum que vê sua vida mudar a partir do...