Capítulo 56 - A peça finalmente acontece.

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- Cheguei, meu povo! - dizia o Carlos quando abri a porta do apartamento.

Havíamos combinado de nos encontrar aqui em casa para nos arrumarmos antes de ir para a escola.

- É melhor vocês começarem logo antes que cheguem atrasados lá. - minha mãe dizia rindo com toda a situação.

E ficamos em frente à minha penteadeira lilás com várias maquiagens organizadas em função. E alguns looks em cima da minha cama para decidirmos com qual iríamos.

- Eu prefiro a camisa azul marinho, Carlos. - digo.

- Eu também! - a Gabi dizia enquanto minha mãe concordava.

No dia anterior, a professora de Arte pediu para que fôssemos arrumados para a apresentação, nada de trajes de gala ou uniforme do colégio, mas que estivéssemos belos, que, querendo ou não, era um evento importante.

- Gente... - diz a Gabi - Acho que estamos prontos!

Estávamos tão empolgados com toda aquela situação. Na verdade, sempre que íamos em algum lugar e o nosso trio combinava de se arrumar juntos, era motivo de muita animação.
Quando terminamos de nos arrumar, eu usava uma camisa branca com mangas compridas e que tinha um laço preto na gola, a saia branca com vários botões na frente que a dona Camila comprou hoje mais cedo e uma sandália branca tratorada com o solado preto. E o cabelo solto mesmo. Nada demais, estávamos elegantes na medida certa para aquele tipo de ocasião.

- Então vamos para o carro antes que vocês se atrasem! - minha mãe dizia.

- Eu espero que dessa vez não tenhamos um déjà vu e que a bateria do carro descarregue. - digo rindo.

|•|

Como combinado, todos os alunos deveriam chegar duas horas antes do espetáculo começar. E desta vez deu tudo certo, o carro não estragou, não precisamos parar em uma rua deserta e não precisamos nos assustar com alguém aparecendo na janela - que na verdade era o Ricardo - assim como, quando fomos ao show da 5.1.

- Pessoal, me escutem por favor! - dizia a professora - Os figurinistas, maquiadores e atores se dirijam ao camarim imediatamente. O pessoal do roteiro fiquem juntos com o grupo de luz e som. E os cenografistas já deixem os cenários pré prontos! - ela dizia ansiosa - Rápido, gente! Não temos tempo!

Por sorte deixamos tudo organizado, só faltava uma coisa ou outra aqui e ali. Mas de resto estava tudo em seu devido lugar.
Agora só precisávamos esperar o público chegar e tudo acontecer para eu finalmente ficar livre desta peça, fazer as provas finais e entrar de férias. Finalmente!
Eu e meu grupo de cenografistas já tínhamos feito tudo o que precisava e cada um foi fazer algo diferente. Sentei-me em uma das poltronas e observei a correria de todos, iam de lá para cá e, de cá pára lá. Até que vejo o Caíque e a Alice abraçados, ele provavelmente estava desejando boa sorte para ela, já que a Alice seria a dançarina. Se eu não tivesse quebrado o braço e praticamente a costela, será que seria eu a dançarina? Ou não?
E por um momento me senti triste com aquela cena, acho que eu queria que ele estivesse aqui, ao meu lado, e que estivéssemos conversando sobre assuntos diversos.

- Bia? - era a Gabi - Você...

- Não, Gabriela. Não tenho mais chicletes, reparti todos que eu tinha com você e o Carlos.

- Não, não é isso. Você... Você está gostando do Caíque?

O QUÊ?!

- O quê?! - digo chocada - De onde você tirou essa ideia?

- É que eu ando reparando como você o olha e o jeito que fala dele...

- Não, Gabriela, eu não gosto dele. É só amizade mesmo.

- Você fala que é só amizade mas o seu coração sabe disso?

E eu fiquei pensando em tudo isso. O jeito que eu olhava para ele... Que jeito? E o modo como eu falava dele? Como assim? Como eu falava? Eu já ia perguntar para a minha amiga em busca de algumas respostas mas ela já tinha ido embora. Se ela estivesse certa, será que eu gostava do Caíque e não sabia? Ou até sabia mas escondia esse sentimento de todos - e de mim também - por ele ter uma namorada? Ou talvez a Gabi estivesse errada e eu gostasse dele apenas como amigo mesmo. Eram tantas perguntas sem respostas que eu preferi esquecer tudo aquilo e me concentrar na apresentação da peça.

|•|

- Sejam todos bem vindos à primeira peça teatral do Colégio Absoluto! - dizia a diretora bancando a fina diante a tantos pais - A peça se chama Rent e trata de assuntos que precisam ser discutidos com nossos jovens. Espero que gostem e tenham uma excelente noite! - ela dizia acompanhada de aplausos.

A cortina vermelha se fechou e as luzes se apagaram. Enquanto isso eu e os outros cenografistas colocavam o cenário em menos de um minuto.

Era agora.

As cortinas foram abertas com um pequeno feixe de luz iluminando um dos atores e a partir daquele momento todos tomavam suas devidas posições e a peça começava.
A cada capítulo de toda a história eu e os outros corríamos e colocávamos alguns objetos a mais. Os alunos cantavam e interpretavam seus personagens com muita habilidade. E naquela hora, eu senti orgulho de fazer parte daquela apresentação, mesmo que eu estivesse nos bastidores construindo - literalmente - o cenário e os outros que maquiaram, que fizeram os figurinos, o pessoal da iluminação e do som, os roteiristas, cada um que fez alguma coisa era motivo para se sentir confiante por ter feito parte de algo tão bonito assim. E não era pelo fato de eu ser uma aluna do Absoluto mas, realmente éramos dedicados e talentosos. E mesmo que alguns não fossem as melhores pessoas para se ter como amigos, mas uma coisa era óbvia, todos deram o seu melhor em tudo isso, em todos esses meses.
Eu olho para aquele palco e vejo todas as luzes apagadas e apenas um holofote seguindo uma garota que dançava graciosamente.

Era a Alice. E ela dançava maravilhosamente bem.

O Som do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora