E quando ela fez seu último movimento, a luz foi apagada e as enormes cortinas vermelhas foram fechadas. Uma enorme onda de aplausos tomou conta daquele auditório e todos nós, atores e os dos bastidores foram ao palco e cumprimentamos o público, todos de mãos dadas agradecendo por terem vindo nos assistir.
E assim a peça que demorou quase seis meses para tudo ficar pronto, acabava naquele momento.
Saí dos bastidores e fui ao encontro da minha mãe e do Ricardo.- Parabéns, Bia! - ela dizia me abraçando - Estava tudo tão lindo!
Ela usava o macacão que comprara no shopping mais cedo. Ele era vinho com um decote v na frente e as costas à mostra combinando com um scarpin nude e uma bela bolsa de mão.
- Mãe... - tento dizer em meio ao seu forte abraço - Você está... Me apertando!
- Que orgulho, meu amorzinho!
- Mãe!
- Parabéns, Bia! - dizia o Ricardo.
- Ai, obrigada gente! Eu nem consigo acreditar que finalmente acabou. - digo rindo.
E de repente, sinto um toque em meu ombro. Era o Caíque com uma bela jaqueta jeans. Ele estava lindo.
- Oi, gente! - ele diz para a dona Camila e o Ricardo.
- Caíque, esse é o Ricardo, meu namorado!
- E aí! - ele diz e o Ricardo estende a mão para cumprimentá-lo.
- Bia, nós vamos ali conversar com os pais do Carlos e da Gabi, está bem? - e o casal se foi nos deixando à sós.
E um leve sorriso apareceu em meu rosto por ele estar aqui comigo. Eu com certeza adorava a sua compainha.
- Parabéns para nós porque daqui alguns dias finalmente teremos férias! - ele diz empolgado.
E eu o abraço não contendo minha animação. Era bom estar abraçada a ele, sentir seu corpo contra o meu. Era bom senti-lo.
E naquele momento eu me lembrei do que a Gabi disse sobre eu estar gostando dele. Será que eu realmente estava e não sabia? E no mesmo instante me afastei dele e senti meu rosto queimar.- Você já parabenizou sua namorada pela dança? - digo.
Eu jamais admitiria para a própria Alice, mas ela realmente dançava muito bem.
- Eu ia até ela mas não a encontrei.
Parece coisa de novela, ou destino mesmo, mas no instante em que ele diz isso eu a vejo caminhando próximo à nós.
Acompanhada.
- Eu não sabia que o pai dela viria. - e na mesma hora ele me olha como se tivesse dito algo errado.
Ela estava com o meu pai?
O meu pai veio vê-la?- O pai de vocês, quero dizer. - ele diz sem graça.
Com certeza a Alice era uma pessoa má, porque assim que nos viu veio em nossa direção e até aquele momento, meu pai não tinha me visto.
- Paizinho, o Caíque está aqui. Faz um tempo que vocês não se vêem. - ela dizia com uma voz enjoada.
E ele me vê. E paralisa.
- Beatriz. - ele diz um pouco chocado - Eu não me lembrava que você estudava aqui.
É mesmo?
- Não me diga. - digo tentando não parecer chateada.
Aquele não era o Paulo que eu conheço. Este homem na minha frente podia ser tudo e todos, menos o homem que eu conheci. O meu pai jamais esqueceria algo assim, e teríamos nos abraçado assim que nos víssemos. Mas este que está na minha frente é alguém metido, orgulhoso e com certeza não é o meu pai.
- Ele estava me parabenizando pela minha ótima dança! - ela dizia tentando me deixar com ciúmes.
- Acho melhor nós irmos agora, filha. - ele diz colocando a mão no ombro dela.
- Tchau, Biazinha! Você vem, Caíque?
Ele me olhou rapidamente e eu sorri para que ele não se importasse de ir, eu logo iria aonde minha mãe estava.
- Tchau, Bia. - meu amigo diz.
Tchau, pai.
E naquele momento eu segurei firme para não começar a chorar ali mesmo. Para ele, eu era apenas uma garota com quem ele já compartilhou a mesma casa. E só. Nada mais que isso. Naquele momento eu tive certeza de que ele não me considerava mais sua filha.
Não chora, Bia.
- Bia, você também viu seu pai? - minha mãe diz.
- Vi sim. Agora mesmo. Você falou com ele?
- Não, apenas o vi de longe. Agora venha, nós iremos comer pizza.
E eu a segui tentando parecer animada enquanto meu interior estava despedaçado. Não era nenhum pouco fácil ter a completa certeza de que o seu próprio pai não te ama mais.
Quando entramos no estacionamento do Absoluto, o vejo com a Alice e sua eposa. Eles pareciam ser uma família feliz.- Paulo? - minha mãe diz indo até ele.
Eu a conhecia muito bem para saber que ela não foi até ele apenas para cumprimentá-lo.
- Este é o Ricardo, meu namorado.
Ele olhou, acentiu e voltou a olhá-la.
- Soubemos que você se mudou para Porto Alegre no começo do ano.
- Mãe...
- Não, Bia. Eu pensei que você iria visitá-la.
- Camila... - ele tentou dizer.
- Além de se mudar para cá, coloca a sua outra filha no mesmo colégio que a Bia. É muita cara de pau sua. - ela estava nervosa mas mantinha a pose - O que você queria mostrar com tudo isso?
- Eu vou embora porque não estou afim de discutir com você!
- Só lembre muito bem de quando você precisar dela nas férias. Lembre muito bem, porque dessa vez você vai chamar a sua outra, ouviu bem?
- A Alice não gosta dessas coisas! - ele dizia rindo.
- Então a faça gostar, porque a Bia não vai ser humilhada desse jeito nunca mais! Pode esquecer os serviços dela naquele seu acampamento, Paulo! - e me puxou pelo braço em direção ao nosso carro.
E eu a segui pensando em como as coisas estavam difíceis. E o choque de ver o meu próprio pai naquela noite ainda tomava conta da minha cabeça. Eram muitas coisas para se pensar e eu não estava afim de ficar remoendo cada uma delas que me faziam ficar cada vez mais triste.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Som do Coração
Teen Fiction"O que você faria se um popstar se tornasse seu melhor amigo?" "E se você se apaixonasse por alguém que te vê apenas como uma garota que vive precisando ser salva?" Esta é a história de Beatriz, uma garota comum que vê sua vida mudar a partir do...