Capítulo 57 - Um encontro inesperado com alguém.

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   E quando ela fez seu último movimento, a luz foi apagada e as enormes cortinas vermelhas foram fechadas. Uma enorme onda de aplausos tomou conta daquele auditório e todos nós, atores e os dos bastidores foram ao palco e cumprimentamos o público, todos de mãos dadas agradecendo por terem vindo nos assistir.
   E assim a peça que demorou quase seis meses para tudo ficar pronto, acabava naquele momento.
   Saí dos bastidores e fui ao encontro da minha mãe e do Ricardo.

- Parabéns, Bia! - ela dizia me abraçando - Estava tudo tão lindo!

   Ela usava o macacão que comprara no shopping mais cedo. Ele era vinho com um decote v na frente e as costas à mostra combinando com um scarpin nude e uma bela bolsa de mão.

- Mãe... - tento dizer em meio ao seu forte abraço - Você está... Me apertando!

- Que orgulho, meu amorzinho!

- Mãe!

- Parabéns, Bia! - dizia o Ricardo.

- Ai, obrigada gente! Eu nem consigo acreditar que finalmente acabou. - digo rindo.

   E de repente, sinto um toque em meu ombro. Era o Caíque com uma bela jaqueta jeans. Ele estava lindo.

- Oi, gente! - ele diz para a dona Camila e o Ricardo.

- Caíque, esse é o Ricardo, meu namorado!

- E aí! - ele diz e o Ricardo estende a mão para cumprimentá-lo.

- Bia, nós vamos ali conversar com os pais do Carlos e da Gabi, está bem? - e o casal se foi nos deixando à sós.

   E um leve sorriso apareceu em meu rosto por ele estar aqui comigo. Eu com certeza adorava a sua compainha.

- Parabéns para nós porque daqui alguns dias finalmente teremos férias! - ele diz empolgado.

   E eu o abraço não contendo minha animação. Era bom estar abraçada a ele, sentir seu corpo contra o meu. Era bom senti-lo.
   E naquele momento eu me lembrei do que a Gabi disse sobre eu estar gostando dele. Será que eu realmente estava e não sabia? E no mesmo instante me afastei dele e senti meu rosto queimar.

- Você já parabenizou sua namorada pela dança? - digo.

   Eu jamais admitiria para a própria Alice, mas ela realmente dançava muito bem.

- Eu ia até ela mas não a encontrei.

   Parece coisa de novela, ou destino mesmo, mas no instante em que ele diz isso eu a vejo caminhando próximo à nós.

   Acompanhada.

- Eu não sabia que o pai dela viria. - e na mesma hora ele me olha como se tivesse dito algo errado.

   Ela estava com o meu pai?
   O meu pai veio vê-la?

- O pai de vocês, quero dizer. - ele diz sem graça.

   Com certeza a Alice era uma pessoa má, porque assim que nos viu veio em nossa direção e até aquele momento, meu pai não tinha me visto.

- Paizinho, o Caíque está aqui. Faz um tempo que vocês não se vêem. - ela dizia com uma voz enjoada.

   E ele me vê. E paralisa.

- Beatriz. - ele diz um pouco chocado - Eu não me lembrava que você estudava aqui.

   É mesmo?

- Não me diga. - digo tentando não parecer chateada.

   Aquele não era o Paulo que eu conheço. Este homem na minha frente podia ser tudo e todos, menos o homem que eu conheci. O meu pai jamais esqueceria algo assim, e teríamos nos abraçado assim que nos víssemos. Mas este que está na minha frente é alguém metido, orgulhoso e com certeza não é o meu pai.

- Ele estava me parabenizando pela minha ótima dança! - ela dizia tentando me deixar com ciúmes.

- Acho melhor nós irmos agora, filha. - ele diz colocando a mão no ombro dela.

- Tchau, Biazinha! Você vem, Caíque?

   Ele me olhou rapidamente e eu sorri para que ele não se importasse de ir, eu logo iria aonde minha mãe estava.

- Tchau, Bia. - meu amigo diz.

   Tchau, pai.

   E naquele momento eu segurei firme para não começar a chorar ali mesmo. Para ele, eu era apenas uma garota com quem ele já compartilhou a mesma casa. E só. Nada mais que isso. Naquele momento eu tive certeza de que ele não me considerava mais sua filha.

   Não chora, Bia.

- Bia, você também viu seu pai? - minha mãe diz.

- Vi sim. Agora mesmo. Você falou com ele?

- Não, apenas o vi de longe. Agora venha, nós iremos comer pizza.

   E eu a segui tentando parecer animada enquanto meu interior estava despedaçado. Não era nenhum pouco fácil ter a completa certeza de que o seu próprio pai não te ama mais.
   Quando entramos no estacionamento do Absoluto, o vejo com a Alice e sua eposa. Eles pareciam ser uma família feliz.

- Paulo? - minha mãe diz indo até ele.

   Eu a conhecia muito bem para saber que ela não foi até ele apenas para cumprimentá-lo.

- Este é o Ricardo, meu namorado.

   Ele olhou, acentiu e voltou a olhá-la.

- Soubemos que você se mudou para Porto Alegre no começo do ano.

- Mãe...

- Não, Bia. Eu pensei que você iria visitá-la.

- Camila... - ele tentou dizer.

- Além de se mudar para cá, coloca a sua outra filha no mesmo colégio que a Bia. É muita cara de pau sua. - ela estava nervosa mas mantinha a pose - O que você queria mostrar com tudo isso?

- Eu vou embora porque não estou afim de discutir com você!

- Só lembre muito bem de quando você precisar dela nas férias. Lembre muito bem, porque dessa vez você vai chamar a sua outra, ouviu bem?

- A Alice não gosta dessas coisas! - ele dizia rindo.

- Então a faça gostar, porque a Bia não vai ser humilhada desse jeito nunca mais! Pode esquecer os serviços dela naquele seu acampamento, Paulo! - e me puxou pelo braço em direção ao nosso carro.

   E eu a segui pensando em como as coisas estavam difíceis. E o choque de ver o meu próprio pai naquela noite ainda tomava conta da minha cabeça. Eram muitas coisas para se pensar e eu não estava afim de ficar remoendo cada uma delas que me faziam ficar cada vez mais triste.
  

O Som do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora