Capítulo 66 - Uma série de acontecimentos ocorrem.

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   Depois do almoço era a vez de fazermos trilha.

- Gente, vocês tem meia hora para descansar! - a Moana diz.

   Estávamos eu, a Gabi e o Carlos deitados em uma rede na varanda do refeitório. Aquele dia ensolarado e quente com um vento fresco era ótimo.

- Bia, se pai está te chamando. - a Moana diz baixo.

- Meu pai? O.k.

   Eu estava gostando tanto de aproveitar aqueles dias com meus amigos que não me lembrei de que o meu pai estaria lá.
   Entrei em seu escritório e mais uma vez ele estava mexendo em seu computador. Mas dessa vez ele me olhou assim que entrei.

- Me chamou? - digo seca.

- Sim, sente-se por favor. - ele fala sério.

- Se a Alice veio dizer que eu tenho algo haver com o tornozelo dela, é mentira. Ela quem me derrubou do barranco e eu caí no rio.

- Beatriz! - ele aumenta o tom de voz - Não foi por isso que eu te chamei. Quero saber se você ainda vai continuar trabalhando aqui.

   Eita...

- Não. - digo.

   A verdade era que eu tinha pensado muito em tudo isso, só que não fazia mais sentido trabalhar aqui.

- Você tem certeza? Você ama este lugar.

   Amo mesmo.

- Já passou pela sua cabeça o que eu senti quando a sua filha me contou que você estava morando em Porto Alegre? - falo.

- Então é por causa disso?

- Pelo jeito você não pensou em como eu me senti, não é mesmo? Não é somente pelo fato de não querer ter me feito uma visita mas é que você só me chama quando precisa de mim, e eu estou cansada disso. Estou cansada de te olhar e ver que tu não és mais aquele homem legal que eu considerava meu pai, aquele que me encorajou a dançar ballet, que sempre prezou pelos pequenos momentos. Para você eu sou aquela menina que um dia morou com você e agora trabalha no seu acampamento. Só isso. Então não, eu não vou trabalhar aqui mais. - as lágrimas ameaçavam cair e uma delas escorreu sem que ele visse.

   Fui em direção à porta para sair dali o mais rápido possível.

- Beatriz.

   Não olho para ele, apenas paro para ouvi-lo.

- Você tem certeza do que disse?

- Nunca tive tanta. - e saio.

   O mais ridículo foi que por um momento eu desejei que ele me pedisse perdão por ser um babaca e que mesmo que ele morasse com outra família, a nossa relação voltasse a ser como antes. Mas é óbvio que isso nunca aconteceria, ele era outra pessoa e eu tinha que aceitar isso.

                         |•|

   Fizemos a trilha por várias horas mas não foi tão boa quanto das outras vezes. Minha cabeça estava ocupada demais pensando que eu não viria mais para cá em todas as férias, era horrível pensar nisso mas era o certo a se fazer. Não era justo comigo alimentar esperanças de que a minha relação com meu pai voltaria a ser como antes toda as vezes em que eu viesse para cá.
   E depois de um belo banho estávamos ao redor da fogueira comendo cachorro quente e conversando com todos.

- Vamos começar com o luau? - a Moana fala com um violão em mãos.

   É óbvio que a 5.1 começaria, eles cantavam super bem. O Caíque pega o Violão e canta juntamente com os outros uma de suas músicas mais famosas, essa era mais lenta e foi perfeita para o momento aconchegante naquela hora.
   O céu estava completamente estrelado, todos cantavam a música felizes e eu agradecia por aquele momento feliz.
   E quando eles acabaram todos aplaudiram acompanhados por assovios.
   De repente a Moana surge com um ukulelê com vários adesivos. Eu sabia muito bem de quem era e o quê ela pretendia fazer.

   Não, não, não...

- Bia, sua vez! - ela me entrega o instrumento.

- Não, que isso. - digo sem graça - Outras pessoas querem cantar.

   E eu fixei aquela ideia de que alguém iria se manifestar e me livrar de passar vergonha. Mas do nada surge uma voz e todos a acompanham.

- Vai, Bia! - era o Caíque. Ele tinha começado.

   Caíque!

- O.k. Vamos lá.

   Eu quase não tocava no meu ukulelê e nem cantava. Era por este motivo que eu o deixava no quarto daqui, para que ninguém descobrisse.
   Olhei para todos com olhares curiosos. Eu não queria nem um pouco fazer aquilo, porém não dava para desistir agora. Fechei os olhos, respirei fundo e imaginei que eu estivesse sozinha em meu quarto tocando apenas para mim.

   E as palavras foram saindo.

   Cantei "Céu Azul", do Charlie Brown Jr. E quando abri os olhos todos me encaravam fixamente. Alguém começou a bater palmas e o restante acompanhou.

- É isso aí, Bia! - diziam.

- Parabéns!

   Pelo menos não tinha sido um completo caos. Mas eu com certeza não gostava de cantar para os outros.
   E a cantoria continuou com outras pessoas cantando e mostra do seu talento.
   De repente ouvimos uma menina gritar e praticamente dar um pulo de onde estava sentada.

- Um sapo! - ela grita e todas as outras a acompanham.

   Eu não suportava ouvir gritos e tratei logo de pegar o animalzinho, já tinha feito isso antes e não me importava de fazer de novo. Nem eu e muito menos o pobre sapo merecíamos ouvir toda aquela gritaria.
   Peguei ele e o coloquei longe da fogueira para que ninguém o incomodasse.

- Tchau, senhor sapo! - digo sorrindo.

   Quando volto à fogueira todos estão me olhando: alguns com espanto, outros surpresos...

- Foi só um sapo! - digo voltando para o meu lugar.

O Som do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora