Capítulo 13 - Um popstar veio me visitar.

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   E mais um dia acontecia e eu estava naquele hospital. A sensação era de eu estava lá há meses, mas na verdade não se passaram nem 20 dias. Acho que aquelas roupas largas e verde claro, aqueles vários litros de soro e remédios que eu tomava na veia três vezes ao dia e aquele branco todo daquele cômodo me deixavam com a sensação de que eu estava vegetando ou algo do tipo.
   Quando me perguntavam o porquê de eu estar ali e eu respondia: Foi uma aranha. As pessoas me olhavam como se eu estivesse brincando e continuavam me encarando esperando a resposta. Mas para ser bastante sincera, eu também estranhava que tudo isso aconteceu por causa de uma aranha, eu realmente tinha fobia ao nível máximo em relação à isso, mas se alguém do futuro me dissesse que eu ia ficar em coma, quebrar uma costela e o braço pelo fato de eu ter visto aquele animal, eu diria que a pessoa estava exagerando e que talvez eu pudesse ter desmaiado ou coisa assim. Isso tudo parecia coisa de filme.

- Filha, que bom que acordou! - disse minha mãe.

   Desde o dia em que eu vim para o hospital, minha mãe estava ficando comigo (pelo menos foi o que ela disse) e por um momento eu parei para pensar se ela estava faltando no trabalho todos esses dias. Ela podia ser bem alto astral e saber esconder o que está sentindo, mas naquela hora pude ver olheiras abaixo dos seus olhos e sua expressão de cansaço e por mais que ela fosse linda, o cansaço era bem aparente. Me peguei sentindo culpada por tudo aquilo que estava acontecendo, por que eu tinha de ter fobia, ou então eu não podia simplesmente ter tido uma queda de pressão? Será que desde o momento em que eu vim para cá ela não dormiu na própria cama?

- Bia? Você nem está ouvindo, não é mesmo? - ela dizia estalando o dedo.

- Mãe, deixa eu te perguntar algo.

- Fala, Bia.

- Em algum dia dos que eu estou aqui meu pai veio?

Apenas sua expressão me disse.

- Não, não é mesmo? Então você está há quase vinte dias dormindo nessa poltrona?! - eu estava com muita raiva daquela situação toda.

- Bia, me escute! - ela disse colocando as mãos nas minhas bochechas - Está tudo bem, eu passo em casa para pegar roupas, às vezes eu como fora, está tudo bem meu amor! - ela sorria tentando esconder o cansaço de estar ali.

   E me abraçou.

- O importante é que você acordou, Bia. - e sorriu - Agora coma este maravilhoso café da manhã que uma das enfermeiras trouxe para você.

  Quando eu voltasse para casa eu e meu pai teríamos uma longa conversa. Ou talvez não. Acho que ele prefereria viver a vida dele, e eu respeitaria isso.
  Desde que eu me conheço por gente, devo ter visto meus avós paternos nem dez vezes, isso tudo porque eles se recusavam que meu pai se casasse com uma maluquinha pintora. Já minha mãe, tem apenas a mãe e em todo Natal ela vem nos visitar, éramos bem felizes, até quando meu pai se separou da minha mãe e não me viu mais nesse feriado ainda era bom.

"... Era véspera de natal e em todos os anos minha avó Judith vinha passar o Natal em minha casa. Acordávamos cedo e passávamos o dia todo cozinhando e decorando a casa inteira para aquela data.

- Bia, esse é seu! - ela dizia me entregando uma caixinha com uma fita dourada.

  Quando abri a caixinha tinha um globo de neve com uma miniatura de um farol e algumas montanhas.

- Eu adorei, vovó! - disse dando-lhe um grande abraço.

- Esse farol aponta para aonde tu queres ir. E Bia, não se esqueça que por mais que o caminho esteja escuro, existe sempre um farol para te guiar!..."

   "Existe sempre um farol para te guiar." Eu devia ter mais ou menos oito anos quando ela me disse isso e na época eu não entendi muito bem, mas hoje, essa frase é muito importante para mim. Acho que eu tatuaria um farol algum dia, quem sabe.

- Filha, você tem visita! - minha mãe disse entrando no quarto com um sorriso no canto.

- Oi, Beatriz! - ele disse entrando.

   O Caíque veio me visitar?!

- Eu vou deixar vocês a sós. - ela sorriu para ele e foi embora.

  Ele a encarou até ficarmos sozinhos naquele quarto branco e ficou ao lado da maca onde eu estava.

- Me chame de Bia, é que apenas os professores e meu pai que me chamam de Beatriz.

- E aí? Como você está, Beatriz? - disse sorrindo e dando ênfase no meu nome.

- O.k. Eu deixo você me chamar de Beatriz. Mas saiba que há uma grande chance de você me chamar e eu não responder, é porque às vezes eu esqueço.

- Tudo bem, vou fingir que é normal alguém esquecer o próprio nome.

- Qual é, vai me dizer que se você tivesse um nome artístico diferente de Caíque existiria uma gigantesca chance de você esquecer seu nome verdadeiro? À propósito, seu nome é Caíque mesmo ou é artístico?

- Eita, você fala, não é? - ele disse rindo - Sim, meu nome é Caíque! E nem me venha com desculpinhas sobre sua mania de esquecer o próprio nome.

  Apenas sorri reparando pela primeira vez que ele tinha belos olhos caramelo.

- Você não está mais parecendo um camarão.

- Muito engraçado! - disse fingindo rir - Estou morrendo de rir!

  Mas ele disse algo que eu não tinha reparado: eu não estava mais vermelha. Finalmente!

- Mas isso é bom, não é?

- Não me venha com desculpinhas em relação a sua zoação com meu antigo estado deplorável! - disse fingindo estar brava.

  Ele sorriu.

- Você parece uma pessoa que eu conheço, tipo, muito mesmo!

- Isso é apenas uma desculpa para arranjar assunto? - disse erguendo uma das sobrancelhas.

- Com certeza não! Mas você e ela são muito parecidas! Pena que meu celular acabou a bateria, senão eu te mostrava.

- Quando eu voltar para a escola você me mostra então.

- Pode ser.

   E sorri para aquele garoto com quem eu me simpatizava.

O Som do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora