Capítulo 2 - Prazer, Beatriz do Azar.

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Depois que eu discuti com meu pai não o vi pelo resto do dia/noite e decidi não ir jantar, no final das contas eu estava esgotada de tudo aquilo.
Acabei indo dormir mais cedo que o normal (normalmente eu dormia tarde como qualquer adolescente mas aquelas crianças me deixavam super cansada).

"Eu hein? Será que eu estava sonhando? Certamente eu estava sonhando, porque é praticamente impossível você estar em uma floresta onde as folhas das árvores eram feitas de chiclete e os rios de calda de baunilha. Sim, isso definitivamente era um sonho.

- Ei! Você ! - disse uma mulher com um vestido branco e com o cabelo cor de rosa escondida atrás de uma árvore.

- Eu? - aponto para eu mesma.

- Sim, venha !

- Por que você está cochichando? Que eu saiba estamos sozinhas.

- Fale baixo, garota! Podem nos ouvir!

- Ouvir? Quem?

- Os servos do destino!

- An?

- Venha até aqui! - ela diz me levando para uma caverna rosa.

- Solte meu braço! O que você quer e quem é você?

- Não posso dizer meu nome, mas sou uma amiga. Não temos muito tempo, eu só vim te avisar que muitas coisas mudarão em sua vida. Não conte à ninguém sobre isso ou o senhor do Destino irá se vingar de mim!

- Quê?

- Eu preciso ir antes que me encontrem... Adeus!

- Mas...

E tudo se desfez como uma fumaça."

- Legal! Ao invés de eu sonhar com caras gatos querendo me beijar sonho com uma louca que tem medo do tal "Senhor do Destino" - acordei olhando para aquele teto sem graça.
Existem três tipo de pessoas quando acordam:

1. Aquelas que acordam mais cedo, se arrumam e voltam a dormir para que ninguém as veja com cara de sono;

2. As "normais", que acordam com o rosto inchado, um bafinho e ponto;

3. E aquelas que acordam com o cabelo bagunçado, o rosto inchado e até aquele rastro branco de baba seca no canto da boca.

Eu podia ser todas, menos a três. Quem eu queria enganar? Eu com certeza era o tipo três, até a baba seca eu tinha. Por que eu não podia acordar bonita? - penso olhando para aquela pessoa "linda" diante do espelho.

|•|

Depois de um dia inteiro supervisionando aquelas crianças - que se achavam adultas, havia chegado o momento em que eu mais gostava: a hora de todas elas irem para casa.
Eu havia colocado eles em fila e estávamos ao lado de um laguinho de lama. E quando os pais chegassem levavam-os para casa. AMÉM!
Eu já falei que eu sou a rainha do azar? Não? Pois é, faltavam três crianças - e uma delas era o ruivinho que me chutou mas calma que o azar maior não era esse, o azar maior foi quando eu vi quem estava vindo em minha direção. Não podia ser... Eu estava toda bagunçada...

- Tchau, tia! - disse o ruivo.

Eu poderia até tentar me simpatizar com ele mas eu percebi que definitivamente ele amava me tirar do sério. Lembra do laguinho com lama? Imagina:

Beatriz+lama= Beatriz suja.

Sim, ele me empurrou no laguinho. Foi tudo tão rápido que quando eu me dei conta, estava boiando na lama toda suja da cabeça ao pés.

- Você está bem? - disse o Lucas me ajudando a levantar - Desculpe o meu irmãozinho, ele é um pouco agitado.

UM POUCO?

Lucas Giviolli era um dos garotos mais desejados da escola, era aquele típico menino que levavam as meninas aos delírios (inclusive eu) ele era um ano mais velho do que eu e tinha incríveis olhos azul.

- Eu... - tentei dizer algo.

Justo quando eu tenho a chance de vê-lo fora da escola eu estou suada, desarrumada e o pior, completamente suja de lama.

- Se eu tivesse um lenço te dava mas...

- Está tudo bem! - digo tirando alguns fios de cabelo do meu rosto.

- Ei? Eu te conheço de algum lugar. - ele diz se inclinando para mim.

- Sim, eu estudo na mesma escola que você.

- Mas você não tem cara que vai fazer o terceiro colegial este ano.

- Por quê? - digo desejando não ouvir o que eu imaginava que ele diria.

- É que você... - ele desvia o olhar- melhor deixar quieto.

- Agora você fala!

- Você tem cara de criança! - diz coçando a nuca.

Pelo menos ele não falou sobre... Quer saber esquece.

- Eu estou me sentindo meio mal pelo o que o meu irmão fez... Aqui! - ele diz tirando a blusa que estava amarrada na cintura - Usa a minha blusa para você se limpar.

- O-obrigada! - acho que tinha uma babinha no canto da minha boca naquela hora.

- Tchau...

- Beatriz.

- Beatriz. Nos vemos na escola! - e foi-se.

Para tudo! O Lucas... o Lucas... o Lucas Giviolli me deu a blusa dele! Alguém me belisca porque eu acho que estou sonhando! Naquela hora comecei a dar pulinhos e a gritar.

- O que aconteceu com você, Bia? - disse Moana assustada com a minha aparência.

- Você não vai acreditar, o garoto que eu gosto me deu a blusa dele! - digo em meio à suspiros.

- Legal... Mas quem fez isso com você? - ela diz apontando para a lama em meu corpo.

- Tenho que ir, Moana. - digo sorrindo.

Eu não acreditava no que tinha acontecido, o Lucas Giviolli tinha me emprestado sua blusa.

|•|

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