Capítulo 61 - Uma conversa de mulher para menina.

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   Ficamos a tarde inteira naquele café fofo. Com certeza lá seria nosso destino nos próximos encontros com o nosso trio.

- Ramires, o que acha de a gente ficar agarradinhos debaixo daquele meu edredom quentinho? - digo enquanto ele me olhava atentamente.

   Ele dá um belo de um latido.

- Acho que isso foi um sim, não é mesmo?

   Fomos para o quarto da dona Camila, já que ela tinha uma cama de casal bem grande e uma televisão - que não tinha canais, apenas dava para assistir filmes - que seria perfeita para:

• Beatriz e Ramires +
• Cama gigante e edredom +
• Um bom filme preto e branco =
• Era igual a um excelente momento para aproveitar aquele frio que fazia.

   Quando o nome do filme apareceu na tela, ouço minha mãe chegar da Galeria. Pauso o filme e ela leva um susto quando nos vê em seu quarto.

- Que bonito vocês! - diz tirando sua bota e deitando conosco. 

- Mas gente... Que folga!

- Bia, eu... Eu tenho que te falar algo antes.

   Ai, Deus...

   Quando ela fazia aquela cara, coisa boa não era.

- Ontem seu pai veio aqui e disse que quer que você more com ele. - ela estava séria - Eu não sei o que você vai querer, mas independente de sua escolha eu vou te apoiar.

   Ela deu um sorriso triste.

   É sério que ela pensava isso?

- Mãe, eu não vou ir morar com ele! Aquele homem não é a mesma pessoa que eu conheci! Eu nunca vou te abandonar, dona Camila! - digo dando um apertado abraço nela - Eu te amo, general!

   E ficamos abraçadas enquanto aquele filme antigo passava. A única coisa boa em toda a separação dos meus pais, foi que eu descobri que nós duas temos mais em comum do que imaginávamos. A verdade era que eu sempre fui mais apegada com meu pai, e depois de tudo isso é bom saber que a dona Camila é muito mais que uma amiga, que uma general, que uma mulher estilosa e louca. Ela é a minha mãe. E eu não quero dizer apenas laços de sangue ou um título, mas sabia que quando eu mai precisasse dela, ela estaria ali para me ajudar.

- Eu também te amo, filha. - e me deu um beijo no topo da cabeça.

   Sei que não era meu aniversário e muito menos eu tinha visto uma estrela cadente, mas naquele momento desejei que situações como esta, acontecessem mais vezes. Eu, ela e o Ramires no nosso apartamento colorido, assistindo a um belo filme abraçados. Era pedir muito por isso? Seja lá quem for que realize os desejos, por favor, realize este meu. É coração.

                          |•|

   Acordei naquela manhã sem ouvir o barulho irritante do despertador, isso significava que ou era final de semana, ou eu não teria aula ou estava de férias. Existe sensação melhor do que acordar e lembrar de que não precisa ir para o colégio? Na verdade existiam, mas naquele hora, essa era a melhor sensação.
   Fiquei enrolando na cama por um bom tempo juntamente com o Ramires, estava muito frio e eu não tinha nada para fazer então a situação que nos encontrávamos era maravilhosamente boa.

- O que acha da gente comer algo? - digo logo após ouvir meu estômago roncar.

   Ele salta imediatamente da cama e corre em direção à saída do quarto.

- Isso com certeza foi um sim! - falo rindo.

   Quando coloquei meus pés naquele cozinha ele já estava lá em frente à sua tigela esperando sua ração. Pelo jeito não era só eu que estava com fome.

- Aqui está!

   Fiz meu café da manhã e comi enquanto ouvia uma música bem relaxante, "Why de lose". Sabe aquele tipo de música mais lenta mas que tem uma essência que te faz levantar da cadeira e começar a dançar? Foi assim comigo. Me levantei daquela cadeira e enquanto comia meu misto quente, dançava na sintonia da música sentindo cada vibração da mesma.

Gabi:

gnt

espero vcs no shopping ok?

Bia:

ok

depois do almoço então

Carlos:

aham

estarei lá girls

bjos :*

                          |•|

   Cheguei um pouco atrasada do horário combinado. Eu sei... É horrível esperar pelo outros, mas é que eu perdi a hora.
   Quando passei pela porta principal do shopping e entrei na praça de alimentação os avistei sentados conversando.

- Que bonito, senhorita Beatriz! - o Carlos diz.

- Desculpa, gente. É que eu perdi a hora.

- Muito bonito, Beatriz Almeida! - a Gabi fingia estar brava.

   Eles não ficaram bravos pelo meu atraso porque sempre um de nós esquecíamos do horário combinado e acabava chegando depois.

- Então vamos? - digo.

   Era sempre assim. Em toda véspera do acampamento íamos ao shopping comprar algo que faltava: repelente, meias extras, garrafa de água térmica... Coisas do tipo. Às vezes nem precisávamos realmente de todas aquelas coisas, mas acho que dava uma empolgação a mais para a viagem.
   Fomos em lojas e mais lojas, e na maioria delas, só ficamos olhando as mercadorias mesmo, quase não compramos coisas. Mas o legal mesmo era estarmos juntos e poder compartilhar o mesmo nível de empolgação.

- Gente, já que estamos aqui - diz o Carlos - vamos já fazer o "dois ou um" para ver quem vai com quem no ônibus.

   Eu tinha me esquecido disso, éramos três e o ônibus tinha dois lugares em cada fileira. E para não sermos injustos, sempre fazíamos o "dois ou um" para ver com quem nós sentaríamos.

- Dois ou um! - dissemos juntos.

- Eu e a Gabi dois, Bia um. - ele diz.

   Neste ano os dois iriam juntos, ano passado foi eu e o Carlos. Mas tudo bem, eu não me importava de ir sem ele, e de todo jeito eu sentaria na fileira ao lado e daria para conversar normalmente.

- Você podia chamar o Caíque, Bia. - ele diz com um olhar malicioso.

- Não, ele vai com a Alice. Espera aí, vocês vão começar com este assunto de novo?!

- Relaxa, Bia. Mesmo que você não tenha se dado conta, a gente já sabe. Vai dar tudo certo. - a Gabi me implicava.

   O que vai dar tudo certo?!

- Podem parar agora com este assunto, ouviram? - digo dando uma risada falsa.

- Logo, logo você irá dar conta de que gostas dele! Você vai ver só!

- Não irei ver nada, Carlos!   

O Som do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora