E lá estava eu em meio a um Rond de Jambe.
" - Papai! Eu vou apresentar o Quebra Nozes! - dizia dando um pulo em seu colo.
- Eu estou muito orgulhoso, meu amor! - ele dizia me dando um apertado abraço - Você será a melhor bailarina de todos os tempos!
- Eu te amo, papai. ..."
Três vezes na semana eu ia para o estúdio fazer ballet e sempre me vinham lembranças do meu pai quando eu dançava, ele era o principal motivo disso, pelo menos era. Por mais que ele sempre gostara de rock ele dizia para todos que quando tivesse uma filha ela dançaria ballet, e foi assim que aconteceu, desde os meus três anos eu faço aula e realmente amo o que faço. Quando ele se separou da minha mãe eu sempre ficava com vontade de chorar quando entrava no estúdio e lembrava que era ele quem mais me motivou a gostar da dança. E de um dia para o outro saiu da minha vida e mudou-se completamente.
- Muito bem meninas, podem melhorar um pouco mais caso queiram apresentar o Lago dos Cisnes! Vocês já podem ir, estão liberadas por hoje! - dizia nossa professora de ballet que apontava o dedo em direção à saída.
Caminhar pela calçada e ficar pensando em mil e uma coisas era algo bem comum comigo. Às vezes eu gostava de refletir o quão apressadas as pessoas eram e que viviam sempre na correria sem parar para perceber nas pequenas coisas do dia; o azul do céu e alguma outra paisagem era inspirador para desenhar algo inusitado; e o barulho das buzinas dos carros e motos dava para fazer um ritmo de música que me despertava o desejo de ir em algum show.
Sem dúvida o melhor daquela caminhada até a minha casa era sentir o cheiro doce de suspiro fresco da barraquinha da esquina. Eu quase sempre comprava um saquinho, sentava em um banco da praça e ficava observando o céu azul de Porto Alegre tentando imaginar algum novo desenho que eu faria naquele dia ou simplesmente pensar na quantidade de deveres da escola eu teria de fazer quando chegasse em casa. Mas meus pensamentos foram interrompidos quando ouvi um latido próximo.- Oi, amiguinho! - disse olhando para um filhotinho de cachorro todo sujo que me olhava desejando um suspiro. - Você parece estar com muita fome!
Eu adorava animais. De todas as espécies e tamanhos. Aquele filhotinho parecia estar abandonado e com muita fome. Quem sabe se eu...
- O que você acha de ter uma casa? - olhei para aquela bola de pelos embaraçados.
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Eu corria para arrumar a bagunça que tínhamos feito no banheiro antes que minha mãe chegasse e visse o caos que estava. Meu novo amigo pareceu não gostar muito de banho e seu pelo embaraçado fez com que o processo demorasse muito mais do que o previsto fazendo com que ele perdesse a paciência. Por sorte - ou medo mesmo - terminei alguns minutos antes de ouvir o barulho das chaves e a porta se abrir.
- Bia, cheguei! - ouvi sua voz se aproximando.
Ela chegou e viu, foi a primeira coisa que seus olhos repararam no meu quarto: o filhotinho.
- Beatriz Almeida Schultz, que cachorro é esse?! - ela dizia pasma.
- Eu o encontrei na praça sujo, abandonado e com fome! Aí eu pensei que seria uma boa ideia ele ter um lar. - disse sorrindo.
Ela olhou para aquela coisa pequena que a encarava bem quietinho. Minha mãe também adorava animais e por isso já tivemos cachorros, gato, coelho e uma tartaruga e todos morreram ou ficaram com meu pai. Ela precisava deixar ele ficar conosco, eu não teria coragem de colocá-lo na rua novamente.
- Bom, já que você deu banho e alimentou... - ela dizia pensativa.
- Você deixou? - disse dando pulinhos.
- Eu não disse isso! Mas já que você o tirou da rua, podemos sim ficar com ele.
- Sério? Muito, muito obrigada, mãe! - disse pegando aquela coisa fofa.
- E qual o nome que você vai dar para ele?
Por um instante pensei que somente o fato de ele poder ficar aqui era o bastante e me esqueci completamente de dar um nome. Mas eu sabia qual era.
- Ramires. - disse com muita certeza.
- Ramires?
- Sim, por quê?
- Tão... Inusitado! Tudo bem então. Bem vindo ao lar, Ramires! - ela dizia fazendo carinho nele.
A primeira coisa que fiz foi tirar uma foto dele e mandar para a Gabi enquanto minha mãe o levava ao veterinário.
"Eu com certeza quero pegar essa coisinha peluda. - Gabi."
Eu estava num nível de quase dor de cabeça com tantos deveres que a escola passava. Eu estava prestes a dormir em cima de todas aquelas apostilas de tanto cansaço mas despertei quando ouvi minha mãe gritar.
- Bia, corre aqui! - ela gritava.
Quando cheguei na sala vi minha mãe carregando várias sacolas, o Ramires na coleira e ela tentando pegar o cartão de crédito dentro da sua bolsa.
- Bia, abre a minha carteira e pague a conta para mim por favor.
- Oi, Ricardo. - disse sorrindo. - Você podia jantar aqui hoje.
- Bia! - ela disse pasma.
- Deixa outro dia, Bia. - ele disse sem graça. - Meu turno ainda não acabou. Aqui está o cupom fiscal. Boa noite para vocês! - e saiu.
- Bia! O que foi aquilo? - minha mãe dizia colocando todas aquelas sacolas na mesa.
- Foi o primeiro passo.
- Para quê?
- Para a operação cupido, oras! Mas me conte, o que tem nessas sacolas?
- Operação cupido?! Beatriz pode parar com isso agora!
- Calma, mãe. O que você comprou?
- Eu não quero que você faça isso novamente, ouviu?
- Sim, mãe.
Por um instante ela esqueceu o que tinha acontecido e abriu as sacolas. Havia ração, potinho de água e de ração, caminha, alguns petiscos e dois brinquedos para cães. Ela realmente se empolgou com a ideia de ter um novo integrante em casa.
- As vacinas estão todas em dia agora! - ela disse tirando a coleira dele.
- Parece que você arrumou uma dona bem legal, não é mesmo, Ramires? - disse olhando para o filhotinho que experimentava sua cama nova.
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O Som do Coração
Novela Juvenil"O que você faria se um popstar se tornasse seu melhor amigo?" "E se você se apaixonasse por alguém que te vê apenas como uma garota que vive precisando ser salva?" Esta é a história de Beatriz, uma garota comum que vê sua vida mudar a partir do...