Capítulo 45 - Um beijo inesperado.

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Depois de várias tentativas para convencê-lo de que conversar na minha casa, sentados em um sofá e tomando um suco na companhia do Ramires era melhor do que ficarmos no meio da calçada com muitos barulhos de automóveis para atrapalhar nosso diálogo. Ele disse não mais uma vez e queria que conversássemos ali mesmo em frente a portaria. O.k. Ficaríamos ali ao invés de entrar no prédio.

- Você me cansa, Caíque. - digo colocando meu cabelo atrás da orelha.

- Beatriz Almeida, você que me cansa! - e rimos - Mas me diga...

- Seus... Seus pais brigaram com você?

- Por causa da suspensão? - ele dá uma risadinha - Não. Na verdade ela ficou orgulhosa por eu ter te ajudado.

- Desculpa de verdade! Aquele homem não acreditou em mim!

- Ei! Eu estava lá e vi tudo, entendeu? Sei que não foi sua culpa!

- É óbvio que foi! Se eu não tivesse beijado aquele idiota machista nada disso teria acontecido. Mas obrigada por ter me ajudado, acho que teria perdido a cabeça se tu não tivesses aparecido.

- Eu vou sempre te salvar. - diz me encarando.

E me encarou com um sorriso amigável. O Caíque podia ser uma celebridade mas quando estávamos juntos, é como se ele fosse um garoto de 17 anos normal, como qualquer outro mas ao mesmo tempo tão único.
Eu retribuí o sorriso com uma sensação diferente dentro de mim, não sabia o que era, mas definitivamente nunca havia sentido isso antes. É como se tudo ao redor estivesse pausado ou simplesmente não existisse e tudo o que era real, fosse apenas nós dois. E naquele momento nossos olhares penetravam um ao outro, ambos com uma sensação diferente em si mesmo. Eu com certeza nunca tinha sentido nada parecido e muito menos saberia explicar mas todo aquele furacão de sensações duplica, não, quadruplica quando o garoto em minha frente coloca suas mãos em meu rosto/pescoço e me beija.

E me beija.

|•|

Devo ter ficado deitada naquele chão do meu quarto, somente de toalha, toda encharcada, por muito tempo. Sei que quando me levantei para colocar uma roupa, eu já estava completamente seca e meu cabelo estava úmido.
A verdade era que estava chocada ao nível máximo para poder pensar em outra coisa. Ficar relembrando tudo o que tinha acontecido me deixava com dor de cabeça e eu precisava dividir com alguém antes que eu explodisse.

Bia:

Pf

venham aqui em casa agora

É URGENTE :(

Gabi:

ok

tô indo

só pq eu sei q vc nunca usaria essa palavra a toa

Carlos:

tô indo tb

daqui 15 minutos to aí

Por sorte meus amigos foram mais rápido que o esperado. Eu estava completamente confusa sobre contar ou não contar, era estranho...
Eles se sentaram em minha cama com expressões bastante curiosas sobre o que eu iria dizer. E contei, contei tudo o que tinha acontecido. Quando terminei, a Gabi me olhava chocada e o Carlos começou a dar gargalhadas.

- O que é engraçado? - digo.

- Isso tudo está parecendo a novela das oito! - ele diz rindo - Olha, não sei porque se bejaram, mas definitivamente vocês não se gostam.

- Pode ter sido porque você e a Alice são praticamente gêmeas.

- Nós não somos parecidas, Gabriela!

- Mas Bia, acho que foi só um momento carência ou sei lá o que. - o Carlos diz sorrindo.

Talvez ele tivesse razão, não existiam motivos para eu gostar do Caíque, éramos amigos e ponto. Nada mais do que isso. E eu acreditava que da parte dele também era assim. Ele podia ser um deus grego, legal, amigo e várias outras qualidades mas tudo o que eu sentia era carinho de amizade, nada mais que isso. E depois do que aconteceu com o burro do Lucas, eu queria distância de sentir atração por qualquer um que fosse.

- Oi, meninos! - minha mãe diz entrando com uma pizza em mãos.

- Pizza?! - a Gabi diz.

O cheiro de queijo invadiu meu quarto e nós três corremos em direção a caixa que guardava aquela pizza cheirosa.

- Calma, gente! - a dona Camila dizia quase correndo para não ser pisoteada por um bando de esfomeados, o que incluía eu.

Quando ela abre a caixa, nos deparamos com uma pizza cheia de brócolis. Brócolis?!

- Brócolis?! - nós três dizemos.

- Sim. - ela diz pegando un pedaço - É maravilhosa, acredite.
Cada um pegou seu pedaço e deu uma mordida desconfiada. E por incrível que pareça, era muito boa, não tanto quanto aquelas cheias de bacon e calabresa, mas era gostosa. Minha mãe e eu éramos aquele tipo de pessoa que não desprezava uma comida saborosa, não importava se era saudável ou não, porque logo depois íamos fazer algum exercício para queimar aquelas calorias, no meu caso era o ballet e ela fazia yoga.

- Eu falei que era boa!

Olhei em volta e vi que meus amigos também concordavam comigo, aquela pizza era realmente muito gostosa.
Eu já tinha passado por tantos momentos difíceis que uma das coisas que eu aprendi foi que um momento especial não precisa ser necessariamente algo material ou um momento de luxúria. Mas para eu, aquela hora era especial, apenas eu, minha mãe, o Ramires e meus amigos comendo uma pizza de brócolis na cozinha daquele apartamento colorido.

Eu tinha muita sorte de tê-los.

O Som do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora