Capítulo 26 - Alguns apelidos renascem das cinzas.

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   Por que ela fazia isso? Não podia simplesmente me perdoar por não querer preocupá-la? Por ela não precisar saber que tem uma filha que não consegue se defender de um psicopata?

- Por favor, mãe! - dizia implorando - Me conta como foi!

   Depois que o encontro dela acabou e ela foi me buscar na livraria, eu perguntei como tinha sido mas não me disse nada. Ficou o caminho inteiro até em casa em silêncio, mesmo eu implorando para saber de um detalhe sequer. Tudo isso era porque eu tinha escondido algo dela? Mãe, você está agindo feito uma criança!

- Para que você quer saber? Conversamos, comemos e pronto! O que mais poderia acontecer? - ela dizia.

- Mas falaram sobre o quê?

- Beatriz, da mesma forma que você me escondeu o que aconteceu contigo eu também posso fazer isso!

- Então tudo isso é porque eu não queria te preocupar? Desculpa, está bem? Eu só não queria que você me achasse tão indefesa a ponto de não poder ir num show porque serei assediada! - disse triste.

- Bia eu só... - ela se sentou ao meu lado e colocou seu braço em torno de mim - Eu jamais me perdoaria se algo acontecesse com você! - e me deu um beijo no topo da cabeça.

- Agora vai tomar um banho e deitar enquanto eu coloco comida para o Ramirez! - ela dizia o pegando no colo.

   Pelo menos ela tinha me perdoado. A verdade é que eu não tinha omitido por maldade, eu só queria poupá-la de tudo isso.

Bia:

o Caíque jogou a bomba no ar e a Alice deu detalhes para a minha mãe

Carlos:

o que?

Gabi:

a Alice contou para sua mãe do que aconteceu na festa?

Bia:

contou e agora não posso sair mais

Carlos:

que vaca

Bia:

os dois são vacas

Gabi:

ele também é uma vaca? Kk

Bia:

a Alice vai se arrepender de ter feito isso

mas pelo menos minha mãe me perdoou

Carlos:

vamos descobrir algum podre dela e jogar no ventilador

Gabi:

adoro planos assim

                          |•|

   Naquela manhã estávamos eu, minha mãe e a Gabi dentro do carro a caminho da escola. Era a mesma coisa de sempre, eu na frente e a Gabi no banco do passageiro ouvindo alguma música qualquer que estivesse naquele amontoado de fitas e cantando a letra enquanto fazíamos gestos e mais gestos. E pela primeira vez naquele dia minha mãe estava mais empolgada que o normal.

- Bia, não esquece que você tem ballet! - ela dizia passando seu batom marrom enquanto descíamos do carro.

- Está bem!

- Tchau meninas, amo vocês! - disse e foi embora com seu Pontiac.

   Ela estava diferente.

- Sua mãe está bem? Ela costuma ser bastante empolgada, mas hoje está mais ainda! - a Gabi dizia jogando seu cabelo de lado.

- Eu estava pensando nisso agora! Eu acho que já sei o que é. - disse indo em direção àqueles corredores lotados.

   Alunos apressados+Beatriz do Azar= desastre.

   Aquele corredor estava lotado com alunos apressados em direção à suas respectivas salas de aula já que era a semana de provas. E como eu sempre digo que meu nome não deveria ser Beatriz Almeida e sim Beatriz do Azar, mais uma vez o azar se manifestou em mim.
   Apenas senti um impacto e a gravidade me puxando para aquele piso. Eu havia trombado com alguém e estava caída no chão.

- Ei, olha por onde anda! - disse gritando.

   Era o Breno. O menino que me jogou a aranha.

- Saia da frente, pingo de gente! - ele disse se levantando.

  Breno, meu querido. Você não devia ter dito isso!

- Você enlouqueceu? - gritei.

- Você nunca se olhou no espelho não? - disse rindo.

   E eu fiz a primeira coisa que me veio à mente. O empurrei. O.k. Sei que não é grande coisa mas eu não queria levar uma suspensão justo na semana das provas mais importantes.
   O empurrei e dei meia volta, indo em direção à sala de aula com vários olhares sobre mim.

- Vai se ferrar, Beatriz meio palmo!

"... - Sinto muito, Beatriz mas a sua altura não permite que você entre nesse brinquedo. - dizia minha professora.

   Eu tinha ido com a turma da quarta série para um parque de diversões e fiquei a semana toda desejando que esse dia chegasse para que eu pudesse ir no "Tobogã Tubarão" era o brinquedo mais legal de todos, com muitas curvas e que dava direto para uma enorme piscina de bolinhas.

- Você é pequena demais para escorregar! - ela continou.

- Beatriz meio palmo! - diziam alguns meninos enquanto todos riam de mim.

   Mal sabia eu que aquele apelido pegaria mais rápido do que jamais imaginaria..."

   Durante muito tempo aquele apelido foi esquecido... Breno eu te mato!
   Fui até ele com o obtivo de chutar, socar, estapear... Qualquer coisa que fizesse aquele garoto se arrepender do que tinha dito. Naquela hora não me importava se ia ficar suspensa pelo resto da semana ou coisa do tipo, eu só queria estrangular aquele ser. Mas a Gabi me conhecia muito bem e me segurou antes que eu arrumasse alguma encrenca.

- Vamos, Bia! Ele não vale a pena! - ela dizia segurando meu braço - Beatriz! - gritou - Vamos agora!

- Tem razão, você não vale a pena! - e dei meia volta em direção a sala de aula.

   Por que algumas coisas tem que ser relembradas? Eu sofri demais com esse apelido e esse garoto tinha que me lembrar - e a todos - do quão caçoada fui?
   Entrei na sala de aula junto com alguns alunos e um professor.

- Alunos, façam com bastante cuidado porque já iremos entrar no segundo bimestre. Boa prova à todos! - disse entregando a avaliação para cada um de nós.

   Era impressão minha ou este ano estava passando mais rápido que o normal?
        

O Som do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora