Capítulo 5 - A imprevisível vida de uma estudante.

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   Acordei com o barulho insuportável do despertador. Por que inventaram isso? Eu sei o porquê. Mas por quê?
  Tomei um rápido banho e me lembrei do quanto meu cabelo estava macio.

- Bom dia, Bia! - minha mãe diz colocando cereal em uma tigela.

- Bom dia, super mãe! - digo me sentando.

- Essa eu nunca tinha ouvido.

- Eu acabei de inventar. Esse cereal de bolinhas de chocolate lembram o cocô do Jubileu. - digo colocando uma colher cheia na boca.

   Jubileu era o meu coelho de estimação que infelizmente morreu de velhice há dois anos.

- Você não tem respeito pelos que já morreram não, Bia? - ela diz se sentando.

- Eu não estou desrespeitando o Jubileu! Mas que parece, isso eu tenho razão, não tenho? - digo rindo.

- Tem sim. - ela ri também e olha para o seu relógio - Bia do céu! Faltam cinco minutos para a sua aula começar!

- O quê?! - digo me levantando. Eu não podia chegar atrasada justo no primeiro dia de aula - Vamos então!

    Até que ela começa a rir, não, dar gargalhadas, isso sim.

- Qual é a graça? - digo desconfiada.

- Foi ótima a sua reação. - diz enxugando as lágrimas que escorriam pelo canto do olho - Ainda faltam vinte minutos, Bia.

- Eu não acredito que você fez isso! - digo me sentando - Eu quase morri do coração, dona Camila!

- Foi ótimo! Mas se você não comer isso logo, a minha brincadeira vai virar verdade. - ela diz colocando a tigela na pia.

   Nos dias que tínhamos aula, um dia era a minha mãe que levava eu e a Gabi para a escola, e no outro era o pai dela que nos levava. E hoje era a minha mãe.
   Era sempre assim, minha mãe passava na casa da Gabi e a cada dia uma de nós escolhia uma música e íamos cantando até a escola.

- Bom dia, pessoas! - a Gabi diz entrando no carro.

- Como hoje é o primeiro dia de aula de vocês, é claro que eu que irei escolher a música. - minha mãe diz se gabando.

- Mas é humilde esta pessoa, não é mesmo? - digo.

   E de repente o som das nossas vozes é interrompido com o som da música "Mulher de Fases". E cantamos a letra inteira até chegarmos em nosso destino.
   Eu acabara de fechar a porta do carro e ia me virar quando minha mãe assovia.

- Bia, hoje eu vou ficar até tarde na galeria, está bem? - ela diz pegando algo em sua bolsa - Aqui. - ela joga um pacote com balas - Para dar boa sorte!

- Tchau, mãe!

    Gabi e eu ficamos frente a frente com a entrada do colégio, era um novo ano e eu esperava de verdade que coisas boas acontecessem.

- E lá vamos nós para o segundo ano do ensino médio, Bia. - ela diz sorrindo.

- Esse ano vai ser maravilhoso, eu tenho certeza! - sorri de volta e entramos com o pé direito dentro do prédio.

    Olhamos as listas das salas e Gabi e eu estávamos na mesma sala - como sempre. Os corredores estavam lotados de alunos se abraçando, rindo é tinha gente até se beijando.

- A escola está mais tumultuada do que o normal, reparou? - a Gabi diz colocando sua mochila na terceira mesa e eu na sua frente.

- Também reparei nisso. Venha, vamos lá para o pátio enquanto o sinal não toca. - digo indo em direção a porta quando o sinal toca - É, pelo jeito o destino não está a meu favor.

    E logo entrou na sala um professor ruivo com olhar sério.

- Bom dia, turma! Espero que tenham aproveitado as férias porque para este ano vocês precisarão estar bem descansados. - ele ri - Eu sou o Leonardo, professor de Física. Sejam bem vindos ao segundo colegial!

    A aula foi interrompida com alguém batendo na porta.

- Com licença professor Leonardo. - disse a diretora - Posso ter cinco minutos da sua aula, por favor?

   Por que ela pergunta isso? É óbvio que ninguém vai ser tão corajoso ao ponto de dizer: "Não, você não pode! E vá embora daqui!"

- Claro!

- Sejam bem vindos a mais um ano letivo, alunos! O inspetor irá entregar a agenda de vocês e todas as apostilas que usarão neste semestre. Assim como todo ano eu digo, este ano não será diferente: Perdeu a apostila a mensalidade do mês aumentará mais R$ 150,00, estamos combinados? Eu acho que sim! - ela diz sorrindo falsamente - Beatriz Almeida? Eu espero que não tenhamos problemas este ano. - e saiu.

   É sério que ela ainda lembra disso? Ano passado eu deixei meu despertador ligado sem querer e ele tocou uma música de Heavy Metal no último volume exatamente quando a própria estava na sala. Depois disso ela vive pegando no meu pé.
    Depois de alguns horários o sinal tocou: era o intervalo.

- Carlos! - digo dando um super abraço no meu amigo.

- Que saudade que eu estava de vocês, meninas! - ele diz nos levando para a fila do barzinho.

- E as novidades? - Gabi diz dando um gole de água.

- Adivinha quem passou o réveillon na praia e aos beijos com um cara super maromba? - ele diz pagando seu lanche para a mulher - Eu mesmo! Foi maravilhoso! A partir de agora decidi que só fico com caras mais velhos.
    
    Gabi e eu pegamos uma barra de cereal e o acompanhamos até uma mesa.

- Sabe quem está na minha sala? - ele diz.

- Quem?

- O gostoso do Lucas Giviolli! - ele diz fazendo uma cara de prazer - É uma pena que é o nosso último ano aqui.

- Falando nele... - e contei o que aconteceu.

- Você vai devolver a blusa dele, não é?

- Ei, eu não sou ladra!

- Ô toupeira! Eu estou falando para você ir conversar com ele!

- Ele tem razão, Bia! Aproveita e vai agora - ela diz olhando para a blusa dele amarrada em minha cintura e desvia o olhar para algo atrás de mim - Essa é a sua chance, ele está logo ali.

   Virei minha cabeça e olhei para aquele garoto incrivelmente gato.

    Essa era a minha chance.

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O Som do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora