Capítulo 30 - Recebi um Quatro nada legal.

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   Naquele final de semana minha mãe me deixou sozinha com o Ramires e saiu para algum lugar que ela não quis me contar. Sim, ela estava extremamente brava por eu ter desobedecido minha professora de ballet. Mas é que quando se tratava de dança, estamos falando sobre minha paixão, e só de ouvir o nome, já me dava vontade de colocar minhas sapatilhas e sair rodopiando pelo apartamento. Eu realmente esperava que esse momento passasse logo e que voltássemos a nossa rotina de costume.

- Bia, o pai da Gabi está te esperando lá embaixo. - disse seca.

- Até quando você vai ficar assim comigo?

- Até quando você vai continuar com essas atitudes?

- Só porque eu achei que apenas uma vez não me faria mal, não quer dizer que seja sempre assim!

- Bia, você está sempre me trazendo problemas! Primeiro foi a vez que você ficou em coma no hospital, depois o assédio na festa e agora isso! Você tem que sossegar um pouco! Toda hora eu tenho que te socorrer em algo! - ela quase gritou.

- Então você acha que eu faço isso para chamar atenção? - disse em direção a porta querendo chorar.

   Aquilo tinha doído.

- Oi, Bia! - disseram a Gabi e seu pai.

- Oi, gente. - disse disfarçando minha tristeza.

   No caminho não disse muito, mas me esforcei ao máximo para que nenhum dos dois notasse algo de estranho, afinal, eu estava sempre alegre e comunicativa, era muito, muito raro algo me deixar triste mesmo.

                         |•|

- Bom dia, turma! - disse o professor de Física - Eu corrigi as provas de vocês. E para aqueles que tiraram menos que do seis terão que fazer a prova de recuperação.

   Como eu queria apenas deitar minha cabeça na carteira e fechar os olhos. Sim, eu estava muito chateada com as palavras da minha mãe, se fosse qualquer outra pessoa eu não teria dado a mínima, mas as palavras de alguém que você ama podem ser destrutíveis.

- Como esperado, senhorita Beatriz. - ele disse colocando a prova em cima da minha mesa - Você tirou quatro pontos. Turma, silêncio! Quando eu falo para vocês prestarem atenção nas aulas, é para que não sejam como a Beatriz que tirou apenas quatro pontos. - disse para todos os alunos - Nos vemos na recuperação.

   Por que ele tinha feito isso?

   A verdade era que ele adorava me envergonhar para todos na sala. Aquele professor queria me tirar do sério para me expulsar de todas as suas aulas, pelo resto do ano. Só que ele não conseguiria, eu iria fazer o impossível para manter a calma.

   Durante o recreio eu precisava urgentemente falar com a professora de Arte para ver em qual função eu ficaria na peça.

- Gente, vocês viram a Juliana? -disse.

- Não, mas ela deve estar no auditório organizando as coisas da peça. - disse o Carlos comendo sua barra de cereal.

- Acho que vou depois da aula mesmo, minha preguiça é maior que a urgência do assunto. - disse deitando a cabeça na mesa.

- Meninas, advinha quem eu vi nessa final de semana? - disse o Carlos.

- Sem adivinhações, Carlos. - disse a Gabi impaciente.

- Aquele menino com quem eu fiquei na festa da 5.1. Você não viu ele, Gabriela mas acredite, ele é um deus grego!

- Aonde vocês se viram? - disse.

- No cinema. Ele estava ao meu lado e por pouco não ficamos, aí chegou uma criança e derrubou pipoca nele. - falou rindo.

- Coitado, Carlos. - minha amiga falou rindo.

   O restante da aula passou bem rápido por sinal. Mas agora eu teria que estudar muito mais para outra prova de Física. E falando em provas, eu tinha passado em todas as outras matérias, pelo menos isso. Se a dona Camila souber disso o stress dela vai aumentar mil vezes, e também eu nunca tinha ficado de recuperação, mesmo tendo dificuldade nesta matéria e mesmo o Absoluto sendo um colégio extremamente rígido.
   Quando o sinal tocou, meus amigo foram para casa e eu fui em direção ao auditório para resolver minha situação.

- Cadê a professora? - disse para uma menina com uma prancheta nas mãos.

- Ela não veio, mas sou eu quem irei substituí-la. Precisa de algo? - disse sorrindo.

- Não, pode deixar.

- Eu te aconselho a ficar aqui, quem sabe ela chegue?

- O.k. Obrigada.

   Sentei-me em uma daquelas poltronas vermelha e macia enquanto vários alunos ensaiavam suas falas.

- Oi, garota do hospital! - disse o Caíque.

- Quem, eu?

- Sim, você vive no hospital! - disse rindo.

- Não venha com gracinhas, Caíque. Hoje eu não estou muito bem.

- O que aconteceu?

- Curioso. - disse sorrindo.

- É tão estranho te ver desanimada, você está sempre empolgada.

- Briguei com minha mãe e tirei um quatro na prova de Física.

- Quatro?! - disse me encarando - Deixa eu ver essa prova!

   Abri minha mochila com listras e tirei aquela folha com um quatro gigante.

- Ele fez questão de colocar o quatro na folha. - ele disse.

- Esse professor me odeia, de verdade. Ele faz de tudo para me envergonhar na frente dos outros.

- E como eu te conheço você nem liga.

- É isso aí! - disse batendo nossas mãos.

- E sua costela?

- Beatriz do Azar, prazer. - digo estendendo minha mão em sua direção.

   Ele ri.

- Estou bem sim.

- Com certeza você é a minha garota do hospital! - disse.

   Naquele exato momento nos entreolhamos percebendo que aquela frase tinha ficado estranha.

   Sua garota?

                       

O Som do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora