Capítulo 17 - Minha gêmea veio me "visitar".

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Era hoje. Depois de um mês sem ir à escola lá estávamos eu, a dona Camila e a Gabi dentro do carro ouvindo ouvindo "Dê um rolê", como eu senti falta de toda aquela animação. Embora daqui há uma semana eu com certeza vou estar implorando por férias, mas enfim...

- Boa aula, meninas! Juízo, está bem? - minha mãe dizia para a Gabi e eu - E Bia, tome muito cuidado, ainda mais porque amanhã que você tira esse gesso.

- Sim, general! - Gabi e eu dizíamos em uníssono fazendo a típica pose de "sentido".

Fazia pouco mais de um mês desde o acidente mas parecia que hoje era o meu primeiro dia de aula e que tinham se passado muito mais dias do que realmente aconteceu.
Senti alguns olhares curiosos sob mim. Só faltava me perguntarem o que tinha acontecido, aquilo seria demais.
Gabi e eu andávamos pelos corredores do Absoluto quando ela para e coloca seu braço na minha frente.

- Bia, o que quer que aconteça lembre-se de que você é aquela garota que fala na lata e que não deixa ninguém te humilhar. - ela falava jogando meu cabelo de lado.

- Está bem, mas por que isso tudo?

- Por nada não. - ela tentou sair andando mas dessa vez fui eu quem a segurei.

- Você está me achando com cara de boba, Gabriela? O que está acontecendo? - ela já ia responder algo.

Mas o sinal toca.

- Gabriela! Fala agora!

- O sinal tocou, a gente tem que ir!

E dessa vez ela escapou... Mas no recreio sem falta ela teria que me contar o que estava acontecendo. A Gabi era a pior pessoa para disfarçar ou esconder algo, até hoje eu fico surpresa por ela guardar meus segredos.
Sentei no meu lugar de costume e mais uma vez a maioria dos alunos da minha sala me olhavam.

- E aí, Bia? Você está melhor? - disse o Murilo apoiando os cotovelos na minha mesa.

- Estou sim, valeu.

- Murilo sente-se! - disse o professor de Física - Bom dia, classe! Beatriz, você está de volta! Eu espero que depois do coma você tenha mudado! - ele dizia sarcasticamente.

Ele realmente estava tentando me irritar?

Ele definitivamente tentava me irritar, mas eu não iria deixá-lo vencer.

- Você está querendo dizer alguma coisa, professor? - disse imitando uma cara de inocente.

- Eu? Jamais! E assim, como você perdeu muitas aulas não vai entender nada do que eu disse hoje, mas pegue uma apostila emprestado o mais rápido possível.

- Agradeço sua preocupação, mas não é necessário. Eu já completei o que perdi e estudei sua matéria, não se preocupe, eu estou tão adiantada quanto o resto da turma.

Era guerra que ele queria? Era guerra que ele iria ter!

Ele olhou para o lado e voltou a sua expressão de costume.

- Bom, turma abram a apostila na página 46.

Eu realmente queria saber o que eu tinha feito para aquele homem me odiar tanto. Aquele showzinho todo que ele tinha feito era para quê? Era só pelo fato de a diretora ter - tecnicamente - me ajudado? Aquele professor queria me tirar do sério para que eu fosse suspensa de suas aulas, mas aquilo jamais irá acontecer. E da mesma forma que ele era sarcástico comigo eu seria.

|•|

Durante o recreio eu esqueci de falar com a Gabi sobre o que ela estava tentando esconder de mim. Mas a verdade é que meus pensamentos estavam concentrados demais em um certo alguém. Será que o Lucas não viria conversar comigo? Se fosse em outra situação eu iria sem nenhum problema, mas por causa do ocorrido ficaria parecendo que eu queria me mostrar só porque estava no hospital, então com certeza eu não iria chegar até o Lucas para conversar.

- Beatriz? - disse minha professora de Literatura.

- Sim? - disse sem graça.

- Aqui estão todas as matérias que você perdeu nas semanas que você faltou. Até na próxima semana isso tudo tem que estar completo, entendido? - ela disse sorrindo.

Aquela professora desde sempre é uma fofa, e olha que eu tenho aulas com ela desde o quinto ano.

- Obrigada, mas eu vou precisar só o que você passou na semana passada. É que a Gabi me emprestou e eu completei uma parte.

- Que ótimo então! - ela marcou a página a qual eu precisaria e me entregou - Aqui está!

Por que todos os professores não podiam ser como ela?

- Turma, silêncio! - ela dizia acenando os braços - Não se esqueçam que a partir de amanhã o horário do ensaio para a peça foi alterado! Na saída vai ter um cartaz com o horário para cada grupo, entendido? Depois não venham falar que eu não avisei! E ai de quem faltar!

Como eu tinha me esquecido da peça? Será que eu ainda iria poder dançar? Bom, pelo menos não antes de eu tirar esse gesso ridículo. Eu esperava de verdade que eu ainda pudesse dançar e não ter de ficar com a limpeza, era a pior experiência, a maior bagunça nos camarins, tinha que desmontar o cenário e ainda por cima varrer o chão e limpar a cantina que vendia pipoca e outras coisas.

- Professora? Posso entrar? - dizia a diretora com apenas a cabeça à mostra.

- É claro!

- Beatriz Almeida? - seus olhos percorriam a sala me procurando - Aí está você, eu posso tirá-la da sua sala por um instante, professora?

- É claro que pode!

- Por favor me acompanhe, Beatriz!

Seguimos por aqueles enormes corredores até a sua sala em completo silêncio. O que ela pretendia com aquela conversa? Eu não fiz nada de errado...

- Bom, Beatriz, fiquei sabendo o que aconteceu com você e alguns alunos me disseram que o Breno jogou a aranha em você de propósito. Como não tenho provas quero saber de você: É verdade o que me disseram?

Minha mãe e meu pai sempre me ensinaram que nunca devolvemos com a mesma moeda. E por mais tentador que fosse denunciá-lo e culpar a Amanda por ter mandado - o que era verdade - eu não era esse tipo de gente. E quanto menos eu me envolvesse em brigas melhor seria.

- Não, foi sem querer mesmo. Ele nem sabia que eu tenho fobia à aranhas.

No momento em que algum deles me implicasse eu iria me arrepender de tê-los acobertado? Com certeza. Mas era melhor assim, não queria que minha mãe fosse chamada na escola e muito menos ver o escândalo que ela arrumaria caso descobrisse a verdade. Era melhor para todos nós.

- Você tem certeza?

- Claro!

Não, não tenho.

- Muito bem, pode ir então.

Quando me levanto da cadeira o sinal toca. Droga, vou ter que enfrentar uma multidão andando na direção contrária a mim, voltar na sala, arrumar minhas coisas e só depois ir embora.

- Bia, aí está você! - dizia a Gabi - Pega aqui, eu arrumei suas coisas!

- Vou te agradecer eternamente por isso, Gabriela! - disse sorrindo.

- Venha, vamos logo! - ela dizia puxando meu braço "bom" - Hoje eu sou capaz de comer um boi inteiro!

Com o corredor mais vazio ficava mais fácil de sair daquela escola. Eu disse que ficava mais fácil, não completamente livre para andar normalmente. E depois de alguns esforços finalmente paramos no gramado da escola.
Sabe quando você olha algo sem se importar muito e depois olha novamente para confirmar o que viu? Foi assim comigo. Eu e a Gabi estávamos indo em direção à calçada quando vejo uma menina entrando dentro de um carro, ela também me vê e abre um sorriso.

- Merda! - disse completamente paralisada enquanto a Gabi acompanhava meu olhar.

Só podia ser brincadeira.

O Som do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora