Capítulo 63 - Acampamento, chegamos.

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Realmente sentar nas poltronas do meio foi uma ótima ideia, isso porque os que sentaram no fundo sofreram algum tipo de pegadinha enquanto dormiam.
Não era nada fácil ficar 14 horas com o bumbum sendo esmagado em uma poltrona, mas pelo menos ela era confortável. A única coisa boa de termos saído às oito da manhã de Porto Alegre é que chegaríamos à noite em São Paulo e todos iríamos para seus respectivos quartos.
Eu sabia que não seria nada fácil ficar todo aquele tempo dentro de um ônibus e por isso tomei um remédio que me fez dormir a maior parte da viagem. No começo, eu e o Caíque conversamos e ouvimos música e os ônibus pararam algumas vezes para irmos ao banheiro e comer algo, mas a maior parte ficamos dormindo.
Abri os olhos com a professora avisando a todos nós que havíamos chegado. Mas o que mais me fez prestar atenção foi que eu dormia no colo do Caíque.
Quando aquilo aconteceu?

Minha cabeça estava em seu colo e ele estava encostado na janela com uma das mãos em meus ombros. Ele acorda também e me vê levantando de seu colo.

- Sua folgada! - diz dando um leve sorriso e bocejando logo após.

Eu rio da situação.

- Quando vi que você estava deitada em mim devia ter te tirado! - ele fala bricando.

- E por que não tirou? - ergo uma das sobrancelhas.

E no mesmo instante ele parece não ter o quê dizer e pega minha mochila na prateleira.

- Vamos logo, Beatriz.

E me guia para fora daquele ônibus segurando meus ombros.
Caíque Zimmerman sem resposta?! Isso não costuma acontecer.
Eram quase onze da noite e apesar de a maioria de nós termos dormido no ônibus, nossos corpos pediam por um bom banho e cama. Apenas isso. A professora guiou cada um para o corredor dos dormitórios que tinham quatro camas e você podia escolher com quem queria dormir, é claro que os dormitórios eram separados em feminino e masculino. A única coisa boa pelo fato de o meu pai ser dona daqui - isso, depois de toda a briga que tivemos - é que eu tinha o meu próprio quarto e banheiro, já que eu trabalhava aqui, e a Gabi sempre dividia aquela cama de casal comigo.
Pegamos nossas malas e fomos em direção ao meu quarto. Não era nada extraordinário, no entanto, eu adorava as paredes de madeira, a cama de casal com um cobertor amarelo todo vintage, as luzinhas pisca-pisca que eu tinha enrolado na cabeceira da cama e aquele tapete felpudo bege que combinava com o chão de madeira. Todos os quartos ficavam em mini casinhas de madeira também, era algo rústico com um toque moderno.

- Não consigo acreditar que finalmente chegamos! - digo me esparramando naquela cama.

- Então somos duas. Você quer ir tomar banho ou eu posso ir primeiro?

- Pode ir. Eu vou tirar minhas roupas da mala primeiro.

Ela foi para o pequeno banheiro que tinha naquele quarto. Felizmente não precisaria usar o banheiro dos campistas, não que ele não fosse bom, muito pelo contrário, existiam várias cabines com chuveiro e vaso sanitário e era super bonitinho, mas eu preferia ter um só meu. Qualquer um queria.
Abri minha mala e coloquei todas as roupas que eu trouxera em cima da cama. Sim, eu odiava deixar roupas dentro da mala, elas sempre ficavam amassadas e virava uma bagunça. Abri a cômoda que ficava ao lado da porta e vi que tinham algumas peças que eu tinha deixado da última vez que estive aqui. Coloquei todas nas gavetas e me peguei olhando para o porta retrato em cima da cômoda, era eu e meu pai alguns dias depois do meu aniversário de 15 anos. Tínhamos feito uma super festa nada tradicional para mim e logo depois viemos para o Acampamento. Sim, eu fazia aniversário em dezembro, dia 17. Estava de cavalinho nele, e a Moana - que foi quem tirou a foto - pegou o momento exato em que eu tinha contado uma piada e ele me olhava rindo. Bons tempos, isso foi ano passado mas parece que foi há tanto tempo. É como se a partir da virada do ano ele tenha mudado completamente. Até o ano passado ele ainda tinha um pouco da essência do Paulo que eu convivi.

- Pode ir, Bia. - a Gabi dizia enrolada na toalha.

Entrei no banho e me lembrei de quando as crianças jogaram o pobre sapo aqui dentro. Mau sabiam elas que eu nunca tive medo deles, são apenas animais inofensivos querendo um pouco de paz na vida.
Uma vez ouvi que as pessoas só amadurecer quando toma decisões erradas. Não sei se as coisas sempre funcionam assim mas, comigo foi, com certeza foi. Naquela época eu quase morri quando o próprio Lucas Giviolli tinha me emprestado sua blusa e mau sabia eu o quão babaca ele é. Mas como disse anteriormente, é tomando decisões erradas que nós vemos os nossos erros.

O Som do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora