Capítulo 52 - Uma descoberta nada interessante.

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Eu não era o tipo de pessoa que vivia desabafando para os outros, na verdade, me sentia um pouco folgada por fazer alguém sentar, deixar de fazer suas coisas para ouvir meus problemas. Mas enquanto eu contava para o Caíque a minha situação, por incrível que pareça foi bom. Foi bom desabafar, colocar para fora toda aquela pressão, aquele sentimento ruim que sentia desde ontem, foi bom compartilhar com alguém que se dispôs a te ouvir.
E quando eu terminei de contar tudo o que eu sentia, ele me olhava atentamente e mostrou um leve sorriso no canto dos lábios.

- Vem cá! - ele diz e me coloca entre seus braços.

E me abraçou. Só naquele momento percebi o quão importante pode ser um abraço.

- Obrigada! - digo sorrindo - Eu preciso voltar antes que eles briguem comigo.

E coloco meu óculos observando que ele me olhava curiosamente.

- Uau, eu não sabia que você usava óculos! - ele diz se levantando.

- Pois é, a pior coisa.

- Que isso, você fica uma gracinha com ele! - diz dando uma piscadela enquanto ria da minha expressão.

Alguma vez já falou esta frase: É bom demais para ser verdade? Foi assim comigo, era bom demais, estava com meu amigo e ele tinha feito eu me sentir melhor. Era bom demais. Mas nada dura para sempre.

- Quem fica uma gracinha, Caíque?

Era a Alice. Como ela estava furiosa, se estivéssemos em um desenho animado, daria até para ver fumaça saindo de seus olhos.

- A Bia. - ele diz indiferente - Por que você está tão brava?

- Por quê? Você quer mesmo saber? Você é meu namorado, não dessa daí que está doida para te roubar de mim!

- Epa, epa, epa! - digo me intrometendo - Não quero atrapalhar namoro algum! Eu e o Caíque somos só amigos, ouviu bem?

- E você fique quieta antes que sobre mais para você!

- Alice, já chega. Você está passando dos limites!

- Eu quem estou? Essa daí adora roubar tudo o que é meu! Roubou meu pai, quase roubou meu papel na peça e agora quer você!

- Eu não sou seu, Alice. - ele dizia tentando manter a calma enquanto alguns olhares estavam sobre nós.

- Cale a boca sua patricinha! - gritei - Você não tem o direito de falar assim! Foi você e sua mãe quem desfizeram a minha família! - dizia apontando o dedo em seu rosto - Então não venha dizer que eu quero roubar coisas que supostamente são suas!

- Alice vai embora daqui agora! Depois a gente conversa. - ele gritou.

Enquanto isso alguns alunos vinham até nós para acabar com aquela discussão.

- Eu não vou sair coisa nenhuma!
- Gente, parem com isso antes que os professores ouçam e dêem problemas para vocês! - a Gabi
diz.

- Eu estou vendo que você quer confusão, Alice. Mas eu não quero, então fique falando sozinha aí! - digo.

Foi o prazo de eu virar de costas (temendo que ela puxasse meu cabelo) que ela gritou:

- O meu pai está morando aqui em Porto Alegre, sabia? Desde quando comecei a estudar neste colégio, irmãzinha.

Eu travei.

- Você disse que eu desfiz sua família mas acho que o meu pai queria isso há um bom tempo. Afinal, ele não foi te visitar desde que chegou! - ela dizia com um ar de superior.

Eu continuei de costas, paralisada. Ela devia ter saído porque os outros alunos foram se afastando.

- Bia... - eram a Gabi, o Carlos e o Caíque.

Era muita informação de uma vez só.

- Eu preciso ficar sozinha! - disse me afastando de cada um deles enquanto corria para algum lugar em que eu pudesse ficar sozinha e pensar em tudo o que eu tinha ouvido.

|•|

Por quê?

Essa foi a pergunta que eu repeti e repeti na minha cabeça por incontáveis vezes. Por que meu pai tinha se mudado para Porto Alegre? Por que ele não tinha avisado? Eu não o julgaria, só queria saber o porquê de ele ter escondido tudo isso.
Me levantei daquela cama e fiquei em frente àquela janela de vidro que tinha uma bela vista para aquele céu estrelado. Aonde será que ele morava? Fiquei me perguntando se era mais perto do que eu imaginava ou se era longe o bastante para evitar encontros inesperados comigo e minha mãe.

- Bia? - era a minha mãe na porta do meu quarto.

Me virei e vi que ela segurava um pote de metal colorido.

- Você estava chorando? - diz se aproximando.

E no mesmo instante limpei meu rosto que deveria estar todo inchado e vermelho. Eu raramente chorava e me sentia frágil por me verem chorando.

- O que aconteceu, Beatriz? - ela dizia com as mãos em meus ombros.

- Ele está morando aqui.

- Ele quem?

- Meu pai. Desde quando a Alice se mudou para cá. - digo me sentando.

Suas sobrancelhas se ergueram. Ela também estava surpresa.

- Você o viu?

- Se eu o vi? - rio sarcástica - É mais fácil eu ver o Papa do que ele! - digo me sentando na cama - Foi a Alice quem contou.

- Que idiota ele! - e me abraça - Bobo dele que não veio te visitar!
E eu coloco minha cabeça em seu colo desejando que tudo isso fosse apenas um pesadelo.

O Som do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora