Capítulo 2

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Maia

Acordo cedo novamente e, graças a Thor, finalmente é sexta-feira. Eu mal podia esperar para sair, beber e aproveitar o fim de semana como uma jovem normal faria.

Chego ao trabalho no horário de sempre, e logo Adan aparece vindo na minha direção com uma pequena caixa nas mãos.

— Trouxe isso para você — diz, me entregando o presente.

— Meu aniversário é daqui a cinco meses — respondo, tentando entender o porquê daquele gesto.

— Eu sei, mas como você não vive sem isso e é viciada, resolvi te ajudar.

— Acho que não cabe uma garrafa de vinho francês de quarenta e cinco anos aqui dentro — brinco, rindo.

— Não, mas se precisasse, eu daria um jeito — responde com um sorriso convencido.

Quando termino de abrir a caixa, fico surpresa: era um iPad novinho, ainda com aquele cheiro de novo.

— É pra mim? — pergunto, boquiaberta. — Não precisava, Adan. Eu ia comprar um na segunda-feira.

— Ah, claro, e ia pagar com o quê? Um rim? — Ele ri, me fazendo rir junto.

— Aaah, você é o melhor! — Digo, dando um selinho nele.

— Ainda bem que eu já me acostumei com essas suas doidices fora de hora — ele diz, rindo e lambendo os lábios.

Ah, céus, preciso de sexo. Estou desejando mais do que nunca o meu melhor amigo.

— Por isso mesmo que são doidices, querido, porque são fora de hora! — brinco, o fazendo rir.

— Vamos trabalhar, vai! — Adan diz, e eu concordo com um aceno.

As horas passam rapidamente. O relógio já marcava 12h45, e eu estava morrendo de fome. "Mais quinze minutos, Maia", pensei comigo mesma, até ouvir meu nome ser chamado. Era Augustos, meu chefe, vindo na minha direção com a sua habitual cara de poucos amigos.

— MAIA!!! — ele grita. — Por que você ainda não começou o prato especial? Não é porque você é garçonete que tem moleza aqui! Já se esqueceu de quem vamos receber hoje?

Ah, droga! Tinha me esquecido que hoje teríamos visitas importantes. Deixe-me explicar por que ele está tão nervoso: o Boon's está concorrendo a um espaço na La Fierro Corporação, e o prato que ele mencionou é o mais famoso da casa, preparado por mim!

— Não, senhor, não esqueci — digo, séria, encarando-o diretamente. — Estava só meditando antes de começar — sorrio, tentando ser convincente.

— Anda logo com isso! Quero tudo pronto às 14h29! — Ele sai sem me deixar responder, o que me deixa furiosa.

Lá se vai a minha hora de almoço, e ainda terei que cozinhar o prato principal. Que maravilha, sexta-feira!

Enquanto me concentro no trabalho, Adan me dá um tapa na bunda e ri.

— Acorda pra vida e vai trabalhar! — ele diz, me provocando.

Arregacei as mangas e fiz o que precisava ser feito. Como eu era especialista nesse prato, deu tudo certo. Era uma mistura deliciosa, que incluía lagosta ao molho de vinho tinto, arroz com salsa e couve-flor ao molho de vinho branco, entre outros ingredientes secretos.

— MAIA!!! — grita Augustos novamente. — Está tudo pronto? — Ele para ao ver o prato impecável. — Muito bem. Espero que o gosto esteja à altura da apresentação — diz, ainda carrancudo.

— Está, pode confiar — respondo, orgulhosa do meu trabalho.

Ouvimos a campainha, e Augustos corre para atender. Enquanto isso, apresso-me para finalizar os pratos. Quando tudo está pronto, dou uma olhada em mim mesma no espelho e não me sinto confortável para servir. Viro-me para Adan:

— Adan, leva o prato pra mim, por favor. Não quero ser mal vista — digo, meio cabisbaixa.

— Maia, você é linda! Eu fico duro só de te ver — ele diz, piscando para mim.

— Que horror! — rio. — É isso que eu provoco em você? Tesão?

— Você não faz ideia! — ele responde, me fazendo rir ainda mais.

— Mesmo assim, por favor, leva o prato?

— Levo, você sabe que faço tudo por você — diz, me dando um beijo no topo da cabeça.

— Obrigada, você é o melhor! — sorrio.

Adan pisca para mim e sai da cozinha com o prato. Assim que ele desaparece pela porta, vou até a janela circular e espreito para ver a reação dos convidados. Eles observam o prato com uma expressão que não consigo decifrar. Sinto um frio na barriga, torcendo para que gostem. Quando Adan volta, corro para ele.

— E aí? — pergunto, nervosa.

— Eles querem falar com quem preparou o prato — ele diz, me fazendo sentir ainda mais apreensiva.

"Ótimo, eles não gostaram", pensei.

Endireito a postura e vou até eles com meu melhor sorriso. Os dois me olham dos pés à cabeça até que um deles fala:

— Foi a senhorita que preparou?

— Sim, senhor. É o melhor da casa — respondo, tentando manter a calma.

— Então, meus parabéns. Está divino.

— Muito obrigada — digo, aliviada.

— Eu é que agradeço. E também informo que vocês conseguiram o espaço na La Fierro Corporação.

Augustos se apressa em responder:

— Ficamos extremamente honrados, senhores. Será um grande privilégio para o Boon's.

— Agradeço mais uma vez, mas preciso voltar ao trabalho — digo, sendo educada.

— Muito obrigada, senhorita...? — Ele estende a mão.

— Cappacito. Maia Cappacito — respondo, apertando sua mão e me retirando logo em seguida.

Quando chego à cozinha, solto um longo suspiro. Todos ao meu redor começam a rir, e logo eu também estou rindo com eles. Foi tenso, mas num mundo de loucos, precisamos ser loucos também.

O resto do dia passou tranquilo, mas admito: nunca sonhei em ser garçonete ou cozinheira em um restaurante chique. Sério, estou rindo, mas também chorando por dentro. Meu sonho sempre foi ser uma psicóloga renomada, mas, para pagar a faculdade, aceitei esse emprego. Aí veio o falecimento da minha mãe, e a desmotivação me fez parar.

E meu pai? Bom, ele é um bêbado, está internado numa clínica de reabilitação. Nunca fomos próximos, o que me machuca até hoje.

— Fim de expediente, galera! Quem vai pro Kisses and Fuck's hoje? — pergunta Adan.

Todos respondem em uníssono: "Euuu!" Mas eu só quero ir para casa, descansar e beber sozinha. Estava exausta.

— Maia, você não vem com a gente? — Adan pergunta.

— Hoje não. Quero descansar. Nos vemos amanhã para mais uma sessão de Arrow? — pergunto, torcendo por um "sim".

— Claro que sim! Vai direto para casa, hein? — diz ele, num tom de advertência.

— Sim, senhor capitão.

— Até amanhã — ele beija meu rosto.

— Até. Juízo, hein!

— Sim, senhora capitã — ele imita meu gesto.

Depois de arrumar minhas coisas, caminho direto para casa. Eu precisava descansar. Com certeza, dormiria até o meio-dia.

Amor: Incondicional ou Doentio? (PAUSADO) Onde histórias criam vida. Descubra agora