Capítulo 24

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DIANA

—Declaro reaberta essa sessão, pode continuar senhora Gutemberg? –O juiz deu reabertura e eu respirei fundo e continuei.

—Sim, eu lembro que nessa noite eu levei minha primeira surra, na frente de todos os capangas de Charles. –Respirei fundo. —Quando ele atirou no homem eu lembro que comecei a gritar e ele disse pra mim parar de gritar, porque ele matou um homem, mas eu já havia matado a mulher da vida dele então eu não tinha o direito de gritar, comecei a chorar, eu era uma criança e então.... –Tive uma crise de choro, tomei um pouco de agua e continuei, olhei Octavio e ele chorava. —Ele desceu minha calça e me bateu com a cinta, eu tinha cinco anos, e ele só me soltou porque o conselheiro dele daquela época, um senhor de idade me tirou de suas mãos.

—Defensoria, tem alguma pergunta pra ré?

—Porque Charles acusava você de ter matado a mulher da vida dele?

—A mulher da vida dele era minha mãe. –Respirei fundo e funguei. —Minha mãe morreu no parto e desde que eu me entendo por gente, lembro dele me culpando, Charles tinha um ódio mortal de mim, e eu fico me perguntando, como ele não me matou? Eu fui crescendo e presenciei mais três mortes dele, duas delas eu tinha nove anos e uma eu estava com meus 14 anos, e nesse dia ele tentou abusar de mim. –Isso era terrível relatar. —Eu fiz lutas marciais desde novinha e se eu não fui estuprada por meu próprio pai, foi porque desde cedo soube me defender sozinha. Lembro que estávamos na minha casa, eu tinha chegado da escola e meu pai estava discutindo com um homem, pedi para que parassem ele mandou logo um, "fica fora disso vadia", e atirou no homem. Eu enfrentei ele, e comecei a xinga-lo, porque eu o odiava, sim eu odiava o meu próprio pai, porque ele me odiava também. Ele então pegou meus braços, segurou e começou a falar sacanagens para mim, eu estava pegando corpo e isso atiçou o desgraçado, ele.... –Parei e bufei, balancei a cabeça, lagrimas de raiva banharam meu rosto, e continuei. —Ele me jogou na cama e veio pra cima de mim tentando me beijar, eu virava o rosto de um lado para outro, e em um momento eu consegui soltar uma de minhas mãos e dei um soco no olho dele, então ele soltou minha mão pela a dor e eu consegui me escapar, mas ele me alcançou e me prendeu novamente e dessa vez eu lhe acertei uma joelhada e saí correndo para casa do conselheiro do meu pai, que me ajudou, sua esposa me deu um banho e me deram algo de comer, no dia seguinte Charles apareceu lá e prometeu que não faria nada disso mais, que eu podia voltar pra casa e se eu não voltasse ele me mataria, e então por medo de morrer, eu fui pra casa com ele.

Arthur

Meu Deus esse Charles era o diabo em pessoa, desgraçado se ele estivesse vivo eu mataria ele com minhas próprias mãos, filho da puta, quantas coisas essa mulher sofreu, por isso se tornou uma criminosa porque se revoltou.

—Você disse que atuou como chefe da máfia por seis anos, sabemos que você casou com Octavio Gutemberg, a dez anos, seu marido não sabia nada sobre suas práticas e sobre seu pai?

—Ele nunca soube de nada, casei com ele com o nome de Diana Silva, também uma armação do meu pai para obter informações da prefeitura, visto que Octavio se elegeria com certeza. –Nossa ela enganou até Octavio, garanto que ele não sabia dessas coisas. —Meu pai chegou pra mim um dia e disse, "você vai para uma boate hoje à noite, e vai sentar-se com Octavio, vai contar uma história de que você é órfã e precisa trabalhar ali pra sobreviver, meu amigo proprietário da boate já sabe o que fazer, vai fazer a cabeça de Octavio de que precisa se casar para ser elegido, e vai falar sobre você". Eu me recusei, então ele me bateu, eu com meus vinte e três anos, teria minha vida estragada, porque me casaria sem amor, e por uma mentira que eu teria que carregar pra vida, e pra mim naquela época era difícil, eu era uma moça sonhadora, queria casar, ter filhos, e Charles destruiu isso me ameaçando de morte, então fiz o que pedi e me casei com Octavio, comecei a gostar do casamento com ele, mas era difícil colher informações para levar para meu pai, sair escondido, isso me corroía por dentro, uma vez disse ao meu pai que teria filhos, e ele jogou na minha cara, dizendo: "para uma criança te matar como você fez com sua mãe?" Então eu nunca quis ter filhos, até ser pega de surpresa por uma gestação, que me fez repensar sobre a minha vida.

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