Desconhecidos

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Era fim de tarde, várias crianças brincavam alegres no parque, resolvi me sentar em um dos bancos e fui inundada por pensamentos. Faltava apenas uns dias para o meu anivérsario, não  que eu estivesse ansiosa ou animada para tal dia, minha preocupação era o grupo de apoio da biblioteca. Droga! Franzi o cenho, certamente eles iriam fazer uma daquelas festinhas com confetes que sujam o cabelo todo, com drinks horríveis ou talvez um amigo oculto onde a maioria não gostava do presente que recebia.
Eu me perguntei se isso era mesmo necessário?! Se eles se importavam de verdade ou apenas fingiam para que eu não me sentisse excluída. Muitos devem achar que eu sou arrogante, pelo fato de eu não ser tão aberta a amizades ou a conversas totalmente embaraçosas.

 Eu posso dizer que eu fingia muitas vezes estar bem perto do pessoal da biblioteca, afinal eu não  estava lá porque gostava de ler ou limpar livros velhos e empoeirados. Minha tia Carla era bibliotecária e amava incondicionalmente livros, e como eu queria vê-la  sorrir eu entrei no mundo dos livros e desde então não consigo sair, minha tia se sente orgulhosa e eu me sinto Radiante por ela demonstrar.
Isso mesmo que está pensando eu moro com meus tios, Carla e Sebastião eles são amorosos e companheiros, moro com eles desde que eu era pequenina.

Estava tarde, o sol ia se pondo  no horizonte alaranjado com um azul intenso, muitas crianças já haviam ido  para casa e eu nem havia notado pois estava muito perdida em meus tortuosos pensamentos. Algumas ainda  brincavam entre si, felizes e saltitantes, eu podia sentir a harmonia delas e a despreocupação se amanhã  iria chover ou fazer sol. Com 17 anos eu era bastante diferente de quaisquer  adolescentes da minha cidade, não por escolha mas sim por destino. Não era fácil  morar em um país  como o Brasil, onde os jovens estão com o pé na lama, se é que você me entende. 

Olhei no celular já havia passado da hora de estar em casa, a bronca da tia Carla era certa! Não estava com cabeça para isso, peguei minha mochila coloquei-a nas costas e sai andando pela passarela de pedras cheia de folhas secas, as árvores se destacavam com seus galhos finos e despidos.
'' Esse ano o outono está bastante traiçoeiro", pensei.
Caminhei um certo tempo até chegar a avenida que como sempre estava cheia de carros barulhentos, que dificultavam minha visão.
Eu não sou muito fã de cidade grande, um ar poluído que dá desgosto respirar, pessoas e mais pessoas indo trabalhar ou voltando do trabalho como se fossem robôs, tudo igual, nada diferente para se admirar, somente prédios, um asfalto frio e esburacado que faziam os carros balançarem violentamente, e pior, um calor assustador.
Eu não gostava de transporte público, muita gente em um só lugar me deixava bastante incomodada, então  realmente não era uma boa ideia. Meus pés doíam e eu fazia careta, queria virar a próxima  esquina e dar de cara com a minha casa. A noite estava bastante escura, a iluminação das ruas estava péssima.
Adentrei em uma rua onde circulavam poucas pessoas, com alguns becos escuros, pressenti que a rua era perigosa e senti um arrepio na espinha.
- MERDA! Exclamei
Ruas assim costumam me assustar, respirei fundo e continuei andando sem olhar para os lados de cabeça baixa, segurando firme a mochila. Ouvi passos, pensei em olhar para trás, mas o medo não me deixou outra opção  a não ser andar mais depressa. Eu não  devia estar sozinha por aí, e quanto mais eu andava eu sentia que estava sendo seguida. Amedrontada entrei no primeiro beco que vi, imaginando que ele teria saída.
Os passos cessaram, tomei coragem e olhei para trás, vi uma mulher parada me observando cuidadosamente, estava escuro eu não enxergava claramente mas dava para notar que ela era mais velha que eu, cabelo curto e liso estilo Milla Jovovich em Resident Evil, magra alta com um casaco enorme, literalmente a cara da Milla.
Pensei: Quem é esse ser?!
Fiquei intrigada quando ela veio em minha direção lentamente.
Seria ela uma Maníaca? Meu coração disparou, eu a encarei tentando mostrar que eu era corajosa, mas ela desviou o olhar friamente.
"Se eu correr talvez ela não me alcance" pensei.

De súbito dois caras enormes e fortes se juntaram a ela, congelei percebendo que meu pequeno plano havia ido por água  a baixo.
Não conseguia ver o rosto dos dois homens, como eu iria fazer o retrato falado?! -DROGA, sussurrei.
Um dos caras disse em voz alta e clara:
- Jully Evangeline?
Eu quase tive um ataque cardíaco, como esse homem sabia o meu nome? Eu nunca havia o visto na vida! 

Respondi com audácia.
- E se eu for?
- Responda! Ele disse friamente, sua voz me intimidou, mas eu deveria não mostrar medo, ou deveria?!
Olhando-o respondi:
- Minha tia sempre diz, não fale com estranhos.
- Carla como sempre cuidadosa. Ele sorriu ironicamente.
- Espera aí, como sabe o nome da minha tia? Quem são vocês? Espiões?-Eu não roubei nada!

Ele sorriu alto.
- Ela se parece com ele, não há dúvidas.
Disse o segundo cara com os braços cruzados apoiando-se a um muro pichado que delimitava o beco.
- Diga o que precisamos saber garotinha!
Disse a mulher se aproximando, deixando a mostra na única  luz que vinha da lua, seus olhos azuis Marinho.
- Ei! garotinha não, eu tenho 17 anos sua velha!
Falei brava com os punhos  cerrados.
Os dois caras começaram a rir e eu retruquei.
- Qual a graça? Brutamontes!
Um dos caras veio rapidamente em minha direção, ele parecia bastante agressivo, no impulso a mulher se colocou a minha frente e o mandou parar. Ele parou imediatamente como se fosse um robô, me fazendo sorrir.
- Hum,  você é o cachorrinho dela? Eu falei sorrindo alto.
A mulher me parecia confusa e ao mesmo tempo sem paciência, nenhum deles disse nada, o silêncio reinou.
Finalmente ela retirou uma arma da cintura, lentamente a apontou para minha direção, eu não tinha mais nenhuma reação, só pensei " É o meu fim, Adeus mundo" Eu tremia sem parar, o que eu poderia fazer para aquela mulher me deixar em paz?! O que eu fiz de errado para eles estarem atrás de mim?! Se eles me sequestrassem não adiantaria muita coisa, eu não sou rica, não tenho nada a oferecer.
Tive meus pensamentos interrompidos quando ela gritou:
- Você escolhe, diga seu nome ou morra agora mesmo!
Estava notório que ela não brincava com o que disse, seus cabelos se movimentavam de acordo com a brisa da noite.

Pensei antes de falar qualquer  palavra, várias  coisas passaram na minha mente, meus tios, meus amigos e meu aniversário. Minha vida estava nas mãos de desconhecidos, olhei  para os lados vi que não havia outra maneira de talvez eu me safar dessa enrascada, respirei fundo e falei com a voz rouca e ofegante:
- Sim, me chamo Jully Evangeline.

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