1- O inespeado

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Luciana

Era 12 de setembro de 2016, eu estava em São Paulo, brincando com o Rocky e a Branca. Meus cachorros são como meus filhos e sou muito grata por tê-los comigo. Coloco a comida deles e me viro para a janela, admirada com a vista da cidade. Me deixo levar pelos meus pensamentos, que se dirigem a outro país: Holanda.

A Holanda tem seus encantos, é uma outra cultura, costumes, culinária, meios de transporte (fiquei empolgada para percorrer o país de bicicleta). Mas não era só isso que me chamava a atenção. Me lembrei dela: Fantine. Soube que ela se mudou para Haia, não muito distante de Amsterdã. Meu corpo logo se agita. Coloco a palma da mão sobre o peito e ouço meu coração. Como ela estaria?

Ouço o barulho da chave na porta de casa e vejo o Léo entrar. Já estávamos juntos há 14 anos e ele era muito bom pra mim, embora nossa relação já tivesse caído na rotina. Ele sorri e me cumprimenta com um beijo no rosto.

— Oi, Lu. Passou bem o dia?

— Sim. — Respondo, sorrindo de leve.

— Bom, tenho novidades. Surgiu uma oportunidade para fotografar um casamento de um amigo meu, na Holanda. — Na Holanda? Sério mesmo? Às vezes o destino resolve brincar com a nossa cara.

— Sério? Quando? — Pergunto, enquanto tento conter minha ansiedade.

— No dia 15. — Ele sorri e segura a minha mão. — Sei que vai ser bem perto do seu aniversário e estive pensando... poderíamos aproveitar essa viagem para também comemorarmos. O que acha? — Ele me olha, esperançoso.

Mantenho o silêncio por alguns segundos e fico imaginando o que vai ser de tudo isso, mas num ato de impulsividade respondo. — Claro! É o momento perfeito! — Digo, meio que no automático.

Leo me traz para próximo dele e me abraça, enquanto susurra para mim. — Nosso momento. — Me pego imaginando o que vai ser disso tudo... até onde eu iria?

Me deito na cama, absorta em pensamentos. Eu finalmente estaria próxima à ela, pelo menos no mesmo país. Isso já fazia com que meu coração se acalmasse um pouco. Nunca mais tive contato com nenhuma das meninas, muito menos com Fantine. Simplesmente deixei estar. A saída do Rouge foi muito complicada e fui muito julgada ao longo dos anos... e creio que ainda sou. Mas não me importo, o passado já foi. Porém, é incrível como o passado pode "te atormentar" por algumas vezes.

Enfim, chega o dia 15, termino de arrumar a minha mala e a levo até a porta de casa. Vejo que Léo está vindo e coloca a sua mala junto à minha. Ele segura a minha mão e dá um leve aperto. — Então? Ansiosa para viajar?

— Muito! Vai ser uma experiência e tanto, nunca tinha ido para tão longe. — Eu rio.

— Você vai amar e creio que até vai voltar falando holandês. — Ele ri e não posso deixar de rir junto, assentindo com a cabeça.

— Certo. Melhor irmos. — Solto a sua mão pego a minha mala. Ele pega a sua e abre a porta.

Nos despedirmos dos nossos cachorros e ligo para a minha irmã, avisando que estamos saindo e que ela cuide muito bem dos nossos filhos. Pedimos um uber e vamos até o aeroporto.

Chegando lá, despachamos nossas malas e começamos a bater pé pelo aeroporto, pois nosso vôo acabou atrasando por duas horas. Léo é muito brincalhão e não posso deixar de rir das palhaçadas que ele faz. Ele me compra um pão de queijo (ou muitos) e aguardamos dar a hora do vôo. Ouvimos o chamado de embarque e entramos no avião. Nessa hora, um frio na barriga começa a me invadir, seguido de um pressentimento forte. O que seria isso? Fazia muito tempo que não tinha essa sensação. Respiro fundo quando o piloto anuncia a nossa partida. Chegou a hora de deixar o solo brasileiro e pisar no desconhecido solo holandês.

Eu faria tudo outra vez Onde histórias criam vida. Descubra agora