25- Conversa (parte II)

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Luciana

Trauma psicológico. O que é isso? "Um trauma psicológico se refere às sequelas emocionais deixadas por uma experiência que causou muita dor e sofrimento." Eu nunca havia revelado o que aconteceu comigo para ninguém, nem mesmo para a minha família. Fiquei um bom tempo guardando só para mim, até chegar um momento em que tive que buscar ajudar profissional. Eu havia entrado em uma depressão profunda e o que mais me corroía por dentro era o vazio. Sabia que o vazio pode ser pior do que a dor, por muitas vezes?

Fui fazendo terapia ao longo dos anos e trabalhando mais esse vazio que eu estava sentindo. Até que, um tempo depois, se converteu em dor. Esse foi o período que mais precisei da ajuda da minha família e eles estavam lá para me apoiar. A verdade é que meu casamento já estava arruinado e Leonardo havia se afastado mais de mim. Me mudei para São Paulo com ele e voltei a me focar na música. Participei da banda de apoio da Negra Li, me infiltrei no teatro, liberei alguns singles meus, tive um duo e participei de uma banda. Ao longo desse tempo tudo parecia ter melhorado, mas o meu mundo voltou a ruir. Perdi meus pais, as pessoas que mais amo na vida. Foi tudo muito rápido e muito devastador. Eu não sei de onde tirei forças para continuar, mas segui em frente. Apesar que sinto muita saudade deles dois. Me dói tanto querer sentir o carinho deles e não poder. Agora só resta saudade.

Senti a minha vida se reerguer quando reencontrei com a Fantine. O amor da minha vida estava ali. Foi então que percebi que a vida havia me dado uma segunda chance. Era hora de recomeçar, escrever um novo capítulo na história. A vida pode acabar num instante, então por que não aproveitar?

Assim que acordo, vejo que ela está dormindo de lado. Como nós nos mexemos muito durante a noite, devo ter saído da posição em que estávamos na noite anterior. Me sento na cama e a observo. Acaricio o seu rosto, mas ela não desperta. Resolvo dar um beijo no seu rosto e susurro em seu ouvido. - Acorda, Fan. - Ela se mexe um pouco e abre seus olhos, direcionando seu olhar até mim.

- Lu. Oi. - Ela parece um pouco retraída.

- Oi. Podemos conversar? - Eu pergunto, um pouco ansiosa. Já anseio para ver onde aquela conversa iria parar.

- Claro. - Ela se senta na cama e me observa, com um olhar tímido.

- Por favor, não me afaste de ti. Tô sentindo que você tem medo de direcionar o seu olhar até mim. - Digo, com tristeza na voz.

- Lu, é muito difícil ouvir que você sofreu tudo aquilo e eu não pude ter feito nada pra impedir. Eu deveria ter lutado por ti, com todas as forças que ainda me restavam. Se eu tivesse feito isso, você não teria ido embora e já estaria separada dele. - Ela treme um pouco e eu seguro seu rosto entre as minhas mãos.

- Fantine, ninguém poderia ter previsto. - A beijo demoradamente e sinto seus lábios relaxarem um pouco mais. Assim que volto a olhar para ela, vejo seus olhos encherem de lágrimas. - O pior de tudo foi o dia seguinte. Parecia que não havia acontecido nada. Perguntei pra ele se lembrava de noite passada, mas ele disse que não. - Agora sou eu que estou com lágrimas nos olhos e ela rapidamente me abraça. Sinto seus braços me envolverem e eu acabo desmoronando. Ela acaricia meu cabelo enquanto estamos abraçadas.

- Eu estou aqui por você. Eu te amo demais, Lu. - Ela me beija com vivacidade e logo sinto meu corpo ganhar mais vida. Nos abraçamos mais uma vez e levantamos da cama. Fantine me dá a sua mão e vamos até a sala. - Vai ser bom eu preparar um bom café da manhã pra minha amada.- Assim que solta a minha mão, vai até a geladeira e a encontra vazia. - Ou não. - Ela ri baixo.

Eu faria tudo outra vez Onde histórias criam vida. Descubra agora