44- Notícia

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Fantine

Fico muito nervosa com a ligação do meu pai, mas por um reflexo acabo atendendo. Luciana fixou o seu olhar em mim e segurou a minha mão.

- O que você quer?

- Filha, sei que não mereço nem ouvir a sua voz, mas eu realmente estou com saudade.

- Saudade da sua filha ou do que você queria que ela fosse?

- Fantine, por favor. Ainda sou o seu pai!

- O que você quer?

- Quero te ver, minha filha. Quando você volta para o Brasil?

- Pra que quer saber? Eu não quero te ver! - Vocifero.

- Filha... eu preciso desse último contato. - Tenho uma sensação estranha ao ouvi-lo, meu corpo começa a formigar e sou obrigada à sentar.

- Último contato? Do que você tá falando?

- Eu prefiro te dizer pessoalmente.

- Me diga agora! Por favor! - Imploro, já sentindo a minha garganta secar. Eu estava com muita raiva, mas a curiosidade foi maior.

- Eu tenho uma notícia para te dar. Não estou muito bem de saúde. Estou com câncer, filha.

- O quê?! - Sinto o choro preso na garganta e Luciana aperta ainda mais a minha mão, super preocupada. A olho rapidamente e desvio o olhar. - De que tipo?

- De próstata, estágio IV. Já disseminou para alguns órgãos. Eu não dei atenção suficiente aos sintomas... mas fiz exames e vieram os resultados. Não desejo fazer tratamento, pois só vai prolongar o inevitável. Creio que chegou a hora de pagar pelos meus pecados. - Sua voz estava embargada e comecei a derramar as primeiras lágrimas. Meu pai não foi muito presente, me decepcionou muito não faz muito tempo, mas de forma alguma eu desejava a sua morte. Eu não estava preparada para perdê-lo. Acho que ninguém está preparado para isso...

- Eu... não sei o que falar. - Mais algumas lágrimas começam a cair e Luciana susurra para mim "o que houve?", mas eu nego com a cabeça.

- Tudo o que eu peço é uma última conversa com você. Eu estou no hospital, porque não consigo mais ficar sozinho em casa. As dores começaram a ficar mais fortes, principalmente nos ossos... não estou conseguindo me locomover sozinho. Acabei ligando para a sua mãe... ela relutou um pouco no início, mas depois me escutou. Eu sei que você não merece um pai como eu e me arrependo muito do que te fiz passar, mas só quero uma chance para poder olhar nos olhos da minha filha e dizer o quanto a amo. Eu amo você e nenhuma atitude errada que eu tenha tido pode anular o amor de um pai pela sua filha.

- Você demorou tanto pra dizer isso... agora que tá nesse estado começou a se abrir. Como eu sei que isso não é mais uma farsa sua? Confesso que perdi a confiança em você.

- Você pode ligar para a sua mãe, ela veio me visitar no hospital e viu todos os meus exames. Nessa altura do campeonato, não tenho mais porque mentir. Não me resta mais nada. - Senti veracidade em suas palavras.

- Ok... em sete dias eu retorno ao Brasil e vou te visitar.

- Muito obrigada, filha. Você não sabe o quão isso me deixa feliz.

Eu faria tudo outra vez Onde histórias criam vida. Descubra agora