FIND ME

Noona!

~~Na Yeon~~

Talvez todos nós saibamos que homens morando juntos formam um tipo de gangue de sujeira e bagunça, mas minha mente não conseguia sequer imaginar como deveria ser uma casa dividida por DEZENOVE homens. Sim, uma casa só para 19 garotos, sendo que o mais novo deles tem 16 anos. É uma ideia genial, não?

Se chama corte de gastos.

A SM precisou cortar gastos então resolveu que seria super tranquilo colocar todos os meninos na mesma casa e não ter gastos com mais de um alojamento. E eu não me iludo a pensar que o lugar que deram pra essas crianças é grande porque sei que deve ser o menor possível.

Assim que a gravação do karaokê acabou (acabou comigo também porque eu não aguentava mais tanta gritaria e escândalo), voltei a passar pelo setor de planejamento e me entregaram a segunda parte das missões do dia – da noite, melhor dizendo. Eu deveria buscar o trainee Na Reum, que estava acompanhado por um membro, e leva-lo pra casa junto com os outros. Pelo que me explicaram, esse garoto ainda não tinha um lugar no alojamento do NCT, o que significa que ele estava jogado pela empresa sem lugar fixo – não que eu me assuste com essa possibilidade; eu e meu grupo dormimos nas salas de prática durante os seis primeiros meses de treinamento.

Jisung, Lucas, Jaehyun, Yuta, Mark, Chenle, Jeno e Doyoung ainda estavam comigo, colados em mim pra todo lado que eu me movimentava. Se eu parasse de respirar eles provavelmente fariam o mesmo. Às vezes o fato de ensinarem os idols a terem extremo respeito e medo de seus managers chega a ser irritante. Eu seguia meu manager desse jeito quando era mais nova?

Ah, e eu sabia que as pessoas estavam rindo enquanto eu andava pelos corredores sendo seguida por aquele bando de meninos com metade da minha idade. Aqueles que ficam responsáveis pelos grupos maiores e mais novos são sempre motivo de piadinha dentro da empresa. Mas, além dessa piada, eu ainda tive que aguentar uma menina desconhecida (provavelmente fã) que estava na entrada da empresa ter a capacidade de me perguntar se eu era mãe de um deles. Não, meu bem, não sou mãe de ninguém. Sei que tenho cara de velha, mas não é pra tanto.

E é impressionante como esses meninos são treinados a saberem a hora das coisas. Eles brincam e se divertem enquanto as câmeras estão ligadas, enquanto tem essa liberdade; e se calam completamente quando apareço na sala, ficam sérios e esperam minhas palavras. É um estúpido sistema de hierarquia e manutenção da ordem, que funciona em toda empresa e com todo idol. Ou melhor, com quase todos. Aqui temos o Lucas como exceção, claro. Ele não fica quieto; ele faz gracinhas aleatórias e conta piada pros mais novos no meio do silêncio. Totalmente hiperativo e não sei se tenho paciência para lidar com isso por muito tempo.

Posso destacar também que pouquíssimos idols estão acostumados com a presença de uma manager integral que seja mulher – e com certeza não é o caso desses meninos. Eles ficam ainda mais sem graça e inseguros sabendo que não podem interagir comigo da mesma forma que interagiam com o antigo manager. Pra mim isso é bom a princípio, não tenho minha autoridade abalada.

No entanto, a SM me fez mais uma de suas propostas ridículas. Querem que eu me mude para a casa do NCT porque o último manager morava com eles. Resumindo, querem que, além de babá, eu seja empregada doméstica. E o pior é que talvez eu tenha mesmo que aceitar essa proposta, porque, a partir do momento em que todos estão sob minha responsabilidade, sou também responsável pelo que acontece nos dormitórios, ainda que não esteja por perto. Mas... Quanto tempo eu resistiria vivendo com todos esses meninos?

"Ah, ela chegou!" – me aproximando vi Na Reum sorrindo enquanto cutucava o garoto que o acompanhava (preciso decorar nomes com certa urgência)

O trainee parecia animado, com certeza deve ter criado mais esperanças agora que tem um espaço de verdade entre os membros. Pode ser que ele realmente debute, pode ser que não. Nesse meio é tudo muito imprevisível e eu sinto que ele não deveria se animar muito antes da hora.

"Noona, eu separei isso" – Reum, com um sorriso tímido, se aproximou, carregando uma pequena caixa de papelão que deveria ter seus poucos pertences.

Por que todos eles resolveram me chamar de noona? Não que eu queira ser chamada de ajhumma pela minha idade, mas talvez devêssemos deixar essa relação menos pessoal...

"Tennie hyung me ajudou a arrumar tudo" – completou, enquanto o tal hyung se levantava da poltrona no fundo da sala e ia até os outros membros do grupo

Encarei a pequena caixa, não caberia mais que meia dúzia de peças de roupa ali dentro. E era tudo que ele tinha. Hoje, olhando pra trás, não consigo entender como foi possível que eu arriscasse tanta coisa por uma carreira como essa, que te mata aos poucos, que te destrói. É o mesmo com esses adolescentes – se privam de tanta coisa pra não ganharem quase nada em troca. O que é o retorno desse trabalho? Amor de fã? Infelizmente amor não enche barriga, não dá saúde, não dá estabilidade. Mas, se é isso que eles escolheram, não posso me intrometer, não é?

"Okay, eu levo vocês pra casa" – suspirei, olhando aqueles dez garotos, começando a pensar melhor sobre onde tinha me metido

Para ser ainda mais legal, eu teria que fazer duas viagens, já que a SM não podia disponibilizar mais nenhum outro carro ou motorista e é impossível colocar onze pessoas em um carro só. A sala em que o SHINee treinava desde cedo ainda estava ocupada pelos quatro membros, então abandonei as minhas responsabilidades ali enquanto eu levava o primeiro grupo. Os garotos do NCT tinham uma boa relação com os sunbaes então não me traria problemas.

Aliás, eu mesma gostei muito desse grupo SHINee, os membros são bem educados e bem menos barulhentos que os novatos do NCT – porque são mais velhos e experientes ou porque sabem fingir bem na frente de outros sunbaes como eu. Eles me agradeceram inúmeras vezes pela conversa que tivemos, pelas canções do karaokê, por ter 'homenageado' Jonghyun. Admiro que estejam fortes no ramo mesmo depois de tantos anos e acontecimentos; eu não suportei o suficiente quando estive no lugar deles.

Fui até a garagem com os cinco membros que iriam no meu carro – Lucas, Jisung, Na Reum, Jeno e Yuta (sim, eu tive que perguntar os nomes para eles porque ainda não decorei). Escolhi os que tinham cara de mais quietos, estava exausta demais pra aguentar conversa no meu carro. Lucas foi exceção de novo, fiquei com medo de deixa-lo na outra sala e ser advertida depois caso ele enlouquecesse os staffs, membros e managers do SHINee.

Assim que entrei meus olhos se encontraram com um pequeno pingente que ficava pendurado ao espelho. Bufei. Jik havia me presenteado com ele alguns meses atrás. O dia fora tão corrido que eu não havia tido tempo para pensar nele ou no meu namoro falido... Até encarar o bendito pingente. Na Reum sentou-se no banco do passageiro e pude ver que ele também reparou no pingente – e não demorou pra que começasse a brincar com ele. Sua expressão ingênua, quase infantil, era fofa e engraçada.

"Presente de manager" – puxei a corrente que prendia o pingente ao espelho e entreguei-o em sua mão. Reum pareceu feliz e gabou-se da pequena joia para os garotos do banco de trás. Eles devem ter ficado alguns minutos só encarando e brigando por aquilo

Não pude deixar de rir. Presente de manager nunca é presente de verdade. É sempre algo que a pessoa não quer mais, não serve, não gostou; e que ela finge querer fazer uma boa ação ao seu subordinado. Aprendi isso quando descobri que meu manager me dava as roupas que a namorada dele não queria. E eu só queria me livrar de tudo que me lembrasse Eun Jik naquele momento.

Liguei o carro e saí, seguindo as instruções do GPS. Minha paz interior estava sendo restaurada graças à ajuda daqueles meninos que ficaram quietos durante o percurso. O menino japonês estava dormindo encostado no ombro do outro (que, por dedução, deveria ser o Jeno), o mais novo ouvindo música no próprio celular, Na Reum quieto do meu lado olhando a rua pela janela, e Lucas quieto, por algum milagre. Mas eu me enganava se achava que ele ficaria quieto pra sempre.

Esse menino não abria a boca, mas também não parava de me encarar. Sabe, quando uma criança está inquieta querendo te dizer algo, mas você disse que um monstro vai pegá-la se ela abrir a boca? Era exatamente essa a situação. Aquele menino me encarava tanto, diretamente de trás de onde Reum estava sentado, que aquilo começou a me irritar.

"O que você quer?" – aproveitei o sinal vermelho para me virar – "Não é possível que esteja me encarando tanto sem querer dizer nada"

"Ahm... Noona, eu estou com fome"