Garotos e Garotos

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~~Jung Woo~~

Eu tinha prometido ao Lucas, eu sei. Talvez eu seja terrível pra ele também já que sequer consigo cumprir minhas promessas. Mas não era uma promessa tão fácil, acho que nem deveria ter prometido – ou eu não tenha pensado direito porque prometi em um momento em que nenhum de nós dois podia imaginar o futuro. E o futuro parecia ser melhor que o passado um tempo atrás, mas acabou não sendo.

E eu não queria voltar ao passado. Eu juro que não queria, eu tentei me segurar, eu tentei me divertir e reencontrar meus amigos. Mas eu só consegui por pouco tempo. Meu pai sempre disse que eu era fraco, comecei a concordar com ele. Naquela época, por que eu não consegui lutar ou resistir? Eu vi como a Na Yeon noona se arriscava pra nos proteger, mas eu não fiz nada que pudesse me proteger ou proteger aos outros. E sinto como se devesse ter feito. Sinto que devia ter feito muitas coisas na minha vida, aliás, coisas que não fiz.

Eu devia ter sido um filho melhor?

Ou um filho normal pelo menos?

Meus pais só queriam um filho normal, mas eu nunca atendi às expectativas.

Meu pai sempre soube que eu não era como os outros garotos, mesmo que eu tentasse sempre esconder. Desde criança, eu sempre soube que eu não era como os meninos que estudavam comigo e eles também sabiam disso, já que tinham suas piadinhas preparadas todos os dias. As brincadeiras, as conversas, as roupas, parecia que eu nunca me encaixava nos padrões. Quando era pequeno eu não entendia porque me comparavam às meninas da sala, como se eu não pudesse simplesmente preferir pintar um desenho de rosa a pintá-lo de azul. E cada vez que meu pai ficava sabendo daquelas piadinhas, era eu quem levava bronca por não me comportar direito. Eu não sabia o que ele queria dizer com 'me comportar direito', eu não sabia o que fazia de errado sempre.

Na minha adolescência foi que as coisas começaram a ficar mais claras dentro da minha cabeça. Eu já tinha parado de pintar desenhos de cor de rosa e de brincar com as meninas durante o recreio, mas parecia que algo ainda estava errado comigo. Até que num certo dia eu percebi que gostava de um garoto da minha escola, um garoto que gostava de uma das minhas amigas. Mas o que se supõe é que garotos gostem de garotas, não é? Então por que eu me sentia tão estranho perto de um hyung? Analisei todas minhas outras relações sociais e não se parecia com nenhuma das minhas amizades, não era o mesmo sentimento.

Mas também não havia mais ninguém como eu então aquilo não fazia sentido. Quando íamos pra qualquer lugar, todos os garotos falavam sobre garotas e todas as garotas falavam sobre garotos. Por que eu era o único que não conseguia fazer a mesma coisa? E confesso ter resistido sobre aquela sensação por um bom tempo, esperando que ela desaparecesse, mas só acontecia o contrário, tudo ficava ainda maior. A primeira pessoa com quem conversei sobre foi aquela mesma amiga, alguém que me conhecia desde o primário.

Tudo que ela fez foi rir. Rir e dizer que eu devia estar maluco. Ela até me arrumou encontros às cegas com suas amigas, mas aquilo não parecia me curar em nada. Além disso, ela contou ao meu pai, contou que eu havia dito que gostava de outro garoto, na minha casa, ainda rindo. Pra ela ainda era uma piada, como as que faziam na minha infância. Eu era uma piada pra todo mundo, sempre. Aquela foi a primeira vez que meu pai me bateu de verdade. Ele dizia que já sabia, que já esperava que eu fosse ser aquele tipo de problema, que tinha falhado em me corrigir quando eu era criança.

E também foi naquela semana a primeira vez que eu me machuquei. Eu tinha visto uma cena parecida em um filme e parecia funcionar. Acho que naquela época eu só queria chamar a atenção da minha família, eu talvez quisesse testar se eles realmente se importavam comigo. Foi bom no momento, mas não me pareceu útil depois, só me deu algumas cicatrizes na coxa – e sim, eu pensei em um lugar onde poderia escondê-las depois. No entanto, por mais que não surtisse efeito nenhum a longo prazo (não recuperava a atenção dos meus pais, não fazia com que eu me sentisse melhor nem mais amado em casa), aquilo virou um vicio. Não funcionava a longo prazo, mas me distraia por alguns minutos, me fazia sentir como se eu pudesse arrancar minha pele e nascer outra vez, diferente. A grande maioria das vezes em que me escondi no banheiro meus pais não viram ou fingiram não ver.

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