Quem é você?

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~~Na Yeon~~

"Por que estamos fazendo isso de novo?" – me sentei em frente ao balcão, girando a xícara de chá entre os dedos

Não podíamos nos encarar, fugíamos um do outro, desviávamos os olhares às coisas mais desinteressantes do cômodo. Não somos mais adolescentes, não deviríamos passar por isso dessa forma. Um relacionamento não pode durar mais de dois anos sem se desmanchar?

"Não dá mais certo, Na Yeon" – completou, me dando as costas e encarando a parede em sua frente – "Você sabe disso"

"Não, não sei, Eun Jik" – levantei, já me estressando – "Você joga tudo sobre mim como se toda culpa fosse minha"

Desisti até mesmo do chá que havia preparado. Minhas mãos tremiam levemente. Respirei algumas vezes, tentando me controlar. Não é possível que ele esteja fazendo isso agora, quando achei que poderia confiar nele. Por que Jik insiste em me destruir?

"É culpa sua, Na Yeon!" – aumentou o tom da voz, finalmente se voltando a mim. Nossos olhares se encontraram pela primeira vez em toda aquela hora, senti como se fossemos estranhos. A forma como aqueles olhos me encararam dedurou que a pessoa que conheci não estava mais por ali – "Você mudou!"

Eu mudei?! Apenas eu mudei? Isso soa mais ridículo do que esperava.

"Fala isso porque voltei a trabalhar?" – não pude conter meu riso. Só podia ser brincadeira

"Você está fissurada por um único assunto, Na Yeon" – cruzou os braços, se aproximando – "Nada pra você tem importância além dessa sua loucura em encontrar alguém que eu nem sei quem é e que claramente você não encontrará!"

"Eu já te disse que é importante pra mim"

"Mas não é importante pra mim... Eu queria ser importante pra você, só isso"

(...)

Sabe, eu tenho quase quarenta anos, não é como se nunca tivesse terminado um relacionamento na vida – pelo contrário, foi o que mais fiz. Tudo termina em desastre quando o assunto é minha vida amorosa. Eu juro que realmente acreditei que com Jik seria diferente, mas ele apenas seguiu o mesmo caminho dos outros. Claro, eu não poderia obriga-lo a conviver com minhas loucuras, mas ele poderia ter tentado me entender.

Talvez eu seja mesmo culpada.

Talvez eu seja tão culpada e por isso nenhuma das minhas tentativas dá certo. Todas as vezes termino da mesma forma, me conformando com o fracasso de um namoro enquanto tomo um litro de álcool. Minha cabeça já estava estourando e eu nem havia terminado a primeira garrafa de soju. Nem a escuridão na maioria dos cômodos da casa servia como remédio, na verdade fazia efeito contrário. Tudo que eu tinha agora se resumia a uma casa vazia, escura e cheia de fotografias de uma relação que não existia mais.

Não chore, Na Yeon, é ridículo.

Ainda sentada no balcão da cozinha, observei o relógio. Já era mais de uma da manhã e eu tinha que trabalhar logo cedo – vale lembrar que meus colegas seriam dezenove garotos adolescentes. A xícara de chá ainda estava ali na minha frente, agora totalmente gelada. Será que eu deveria simplesmente ir dormir, acordar às sete, ir trabalhar e fingir que nada aconteceu?

Suspirei e enfiei a cara no balcão, largando a garrafa num puro sinal de derrota.

Estaria Oh Na Yeon derrotada mais uma vez?

Provavelmente.

Brigada com os pais, com uma carreira de sucesso destruída, a que ficou pra 'tia', largada pelo namorado, à beira dos 40 anos, e agora babá de um bando de crianças que ainda tem esperança no mundo.

É... Minha vida anda bem desesperadora e não há nada que eu possa fazer sobre isso. É inútil tentar, não é?

Me levantei, começando a recolher as fotografias de Jik que tinha pelos cômodos. Eu não insistiria naquele relacionamento porque não teria saída. Ele queria que eu abandonasse o emprego e a ideia de reencontrar alguém que é muito importante pra mim e eu não faria isso. Eu não sei o amava o suficiente para ser capaz de desistir de certas coisas por ele. Eu sequer tenho certeza de como era esse amor que tinha, ou se o tinha de verdade.

E sim, Eun Jik, a pessoa que estou buscando é mais importante que você, seu estúpido!

Joguei os porta-retratos com fotos nossas tirados da escrivaninha dentro da primeira gaveta que vi. Me lembrei de um pequeno envelope que estava guardado naquele mesmo compartimento havia anos. Eu estava bêbada o suficiente para ter vontade de tirá-lo de dentro da gaveta e olhar o que ele escondia. Não, eu não devia ter aberto. Eu não choraria por Eun Jik, mas chorei antes mesmo de abrir o pacote.

Era a única foto que eu tinha. Além de gasta pelo tempo, havia sido rabiscada. Não por mim, mas por alguém que sabe mais que eu e queria tirar uma onda com a minha cara. Óbvio, é o que a maioria das pessoas faz comigo. E talvez eu precise descobrir antes quem foi o emissor dessa fotografia para conseguir encontrar as respostas que procuro.

Com a ajuda de Eun Jik ou sem, eu não irei desistir.

E se esse foi meu objetivo ao voltar para aquele inferno chamado SM, eu vou encontrar o que procuro!


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