I Found You

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Março de 1994

[Narrador]

Oh Nam Ji entrou na sala, apressada e realizada. Era acompanhada pelo marido e Jong Ki, seu genro. Todos vestidos como se fossem à uma audiência pública, exibindo seus ternos alinhados e relógios de marca. Encarou a única filha e sorriu, indo até ela e dando-lhe um abraço, algo realmente raro de se ver naquela casa. Oh Na Yeon era uma garota tímida, sonhadora e cheia de talentos que completaria dezesseis anos em pouco tempo.

"Eu trouxe os documentos, Yeon-ah" – a mãe sentou-se na poltrona da sala, fazendo sinal pra que a filha a acompanhasse. Seguiram-nas os outros dois, o pai de Na Yeon e seu atual namorado

Na Yeon estava insegura, suas mãos suavam e ela buscava conforto no sorriso calmo do companheiro – ele agia com tamanha confiança e ela tentava acreditar nas promessas de que tudo daria certo. Nam Ji então tirou um envelope pardo de dentro de sua maleta, sorrindo como se aquele fosse um cheque em branco ou um testamento de fortunas. A mais nova passava o olhar pelos pais, admirando a serenidade com que tratavam um assunto daquele como se fosse apenas mais um caso de seu escritório de advocacia.

A adolescente passava as mãos pela poltrona, se livrando do suor, enquanto tentava controlar sua mania de piscar tantas vezes seguidas em casos de nervosismo extremo. Estava feliz por estar finalmente conseguindo alegrar sua família e demonstrar sua capacidade e seu talento. Estava feliz pela ajuda e presença de Jong Ki, por seu esforço em acreditar nela. Mas, no fundo, não queria tomar as medidas necessárias pra manter essa felicidade.

Nam Ji entregou o envelope à filha – ela ainda sem muita noção do que aqueles papeis poderiam conter – e esperou que assinasse. Era muito nova para ter a palavra final, mas era a verdadeira responsável e não poderia se abster totalmente. Na Yeon tirou as folhas de dentro do envelope e encarou o discreto título, sentindo seu corpo congelar.

"Desistência de guarda"

Engoliu seco, fitou os pais e o companheiro, todos eles pareciam muito certos de sua atitude, ela era a única a hesitar por alguns segundos. A única a pensar que talvez não fosse a melhor decisão. Mas tanta coisa estava em jogo, coisas demais pra que uma garota de 15 anos pudesse compreender e julgar. Seu próprio futuro, sua possível carreira, seu relacionamento, a aprovação e aceitação de seus pais...

"Já tínhamos nosso acordo, não é, filha?" – a mãe percebeu a relutância da menina e interviu, calma. Na Yeon assentiu e suspirou, na tentativa de afastar seus pensamentos duvidosos.

Mas, antes que ela pudesse assinar os documentos, o silêncio da sala foi cortado pelo choro fino e alto que vinha do quarto. Era como se ele soubesse o que acontecia no outro cômodo, como se soubesse qual seria seu destino a partir dali. Na Yeon largou papeis e caneta sobre a mesinha central e correu em direção ao quarto, sendo a única a se preocupar com o choro da criança de exatos um mês de vida.

Sabendo que seria procurada e convencida pelos pais, trancou a porta do quarto, desesperada por alguns minutos sozinha com a criança, seu filho. Sua presença acalmou o pequeno e, como se ele a encarasse pedindo pra ficar, Na Yeon hesitou mais uma vez. Hesitou e limpou as lágrimas solitárias que rolaram por seu rosto. Trouxe o bebê para seus braços, aninhando-o com todo carinho possível. O calor da mãe acalmou o garotinho, o choro foi substituído por um silêncio que dizia muito. Como se não estivesse com fome, com cólicas ou com qualquer outro problema comum de recém-nascidos, como se o choro tivesse indicado apenas um protesto, um chamado pela mãe.

Na Yeon sorriu o encarando, achava que os dois eram parecidos – mesmo que os outros dissessem que ele se parecia o pai. Perdeu a noção do tempo e continuou ali, em pé, com o filho tão pequeno aninhado. Um mês tinha se passado mais rápido do que ela esperava, tinha sido melhor do que ela esperava.

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