FIND ME

Invernia

~~Na Yeon~~

Uma das poucas vantagens de ser Oh Na Yeon e ter um nome que às vezes ainda é reconhecido é poder entrar em lugares restritos em troca de algumas fotografias e autógrafos. Não é diferente em hospitais, não é difícil encontrar algum médico ou enfermeiro que aceite a oferta e me deixe passar. E foi exatamente esse o caso de hoje, eu consegui o aval para entrar na unidade intensiva a partir de alguns autógrafos. Somente os pais do paciente teriam tal acesso e em um horário determinado, se meu nome não fosse famoso, no caso.

Enquanto eu lavava as mãos daquele jeitinho apropriado e colocava as roupas especiais que os médicos me pediam, era como se meu coração fosse saltar pela boca; eu tinha que segurar pra que minhas lágrimas não rolassem sem meu controle. Já era tarde da noite e eu havia passado basicamente o dia todo naquele hospital, sem nenhuma notícia concreta, até que um dos médicos aparecesse pra nos dizer que Ten havia passado por uma cirurgia emergencial e sido encaminhado pra UTI.

UTI foi uma sigla que sempre me deixou assustada. A única vez que tive contato com ela foi quando meu pai passou mal, pouco antes de falecer, o que já fez minhas lembranças não serem nada agradáveis. Mas, além do meu pai, eu tenho a experiência de todo mundo – sempre que se ouve sobre esse lugar específico do hospital, é porque algo grave aconteceu. E então, antes mesmo que eu seguisse aqueles profissionais pelos corredores seguintes até o quarto em que Ten estava, fui bombardeada por desagradáveis cenas de filmes e séries, cenas de personagens nas UTIs, com aquele bipe irritante que acompanha as batidas do coração e todos aqueles tubos de respiração.

Eu queria estar preparada pra ver o que tivesse que ver, mas eu sabia que não estava. Porque eu sabia que a realidade de Ten naquela UTI não seria muito diferente daquelas cenas que se passaram pela minha cabeça. Minhas mãos ainda tremiam, embora eu as escondesse do médico que me acompanhava, com medo de que ele desistisse de me levar até o quarto. Tentei ir contra meus pensamentos e recriar em minha mente imagens de bons momentos que tive com meu tailandês preferido, tentei me convencer de que tudo estaria bem dali a algum tempo, tentei acreditar nos deuses e em sua bondade infinita que me concederia aquele milagre pessoal.

Por favor, deuses que me escutam agora, eu nunca pedi nada a vocês. Tudo bem, talvez eu tenha pedido muitas vezes sobre encontrar meu filho e sou agradecida por ter sido atendida, mas desde então eu não pedi mais nada. Não é por mim, é por esse garoto que está sofrendo sem ter culpa, é por esse menino que se machuca toda vez por culpa de adultos estúpidos. E, se eu puder pedir mais alguma coisa, peço que permitam que esses desgraçados queimem no inferno pela eternidade, todos eles.

"É nesse andar" – a voz do médico me tirou do mundo da Lua. Eu não estava distraída, estava desesperada. Assenti, concentrando ao máximo minhas forças pra conseguir me manter em pé e sair de dentro do elevador

Hesitei por alguns segundos antes de segui-lo pelo espaço que estava em nossa frente. A indicação sobre aquela parte ser uma área restrita ocupava uma placa enorme e me senti mal por ferir as regras, mas eu precisava ver o Ten, nem que fosse por alguns segundos. Como o médico pediu, antes que entrássemos especificamente na UTI, ajeitei minha máscara no rosto. Respirei fundo mais algumas vezes, buscando forças, e voltei a caminhar pelo caminho que me indicavam.

Estávamos num hospital que era conhecido por ser um dos melhores e mais caros da Coreia, o quarto de Ten era um dos mais bem equipados do prédio, conseguido especialmente por seus pais. Mesmo assim, mesmo sabendo que eu tinha uma das melhores equipes médicas do país na minha frente, eu ainda não me sentia segura, eu ainda tinha medo. Tinha medo de que tudo desse errado e que eu não pudesse apagar as memórias do atropelamento da minha cabeça caso ele não se recuperasse.