FIND ME

Eu prometo

~~Na Yeon~~

“Eu sei de algumas coisas” – me levantei e peguei o envelope com os documentos que tinha conseguido roubar da empresa, junto com as prescrições que a dra. Kang me passou sobre o que examinou em Ten – “Talvez você saiba completar essas informações”

 Voltei a me sentar em sua frente, no sofá da sala. O garoto parecia nervoso, eu nunca tinha o visto daquela forma. Ten nunca foi de falar muito comigo, mas ele sempre é brincalhão e carinhoso com os outros meninos, então nunca me preocupei que algo estivesse acontecendo com ele. Parece que, de novo, eu não estava olhando direito. E uma coisa está martelando meus pensamentos agora que encontrei Taemin: podia ser qualquer um deles, ele poderia passar pelos mesmo problemas, podia ser a mesma coisa afetando o meu filho. Então, decidi que tratarei todos eles como se fossem meus filhos e encararei os problemas de frente – assim eu serei a manager que deveria ser e Taemin também poderá se orgulhar de mim como mãe.

 Eu não estava raciocinando muito bem por ter ficado a noite toda acordada, chorando e bebendo, mas me esforcei em manter minha atenção nos papeis e na fala do garoto em minha frente. Eu não poderia deixar nada passar e teria que bolar um plano que fosse suficientemente bom para afastar o manager violento sem prejudicar o NCT ou o próprio Ten. Nos meus primeiros pensamentos vi um ponto positivo de ter sido estrela no passado: eu teria contatos em qualquer meio que precisasse, fosse a grande mídia, a mídia amadora, televisão, internet – aqui na Coreia e na Tailândia.

 Com certo receio, Ten começou a folear os papeis que lhe entreguei (mantive comigo somente a avaliação secreta que a médica tinha feito dele). Ele fitava atento cada linha dos documentos, ainda sem dizer nada. Por cima eu conseguia ver que eram algumas antigas manchetes e retratações de um boato sobre o mesmo manager ter sido acusado de violência sexual também na Tailândia. As notícias eram datadas de 2013 e depois de 2016 e inicio de 2017, ou seja, mais de anos sem que nada fosse resolvido pela SM.

 Pelo olhar do tailandês eu imaginava que aquela notícia tinha algo relacionado a ele, talvez fosse ele mesmo o trainee citado anonimamente como vítima, ou talvez alguém que conhecesse. E não demorou pra que seus olhos se enchessem de lágrimas e ele me devolvesse todos os documentos, sem coragem para lê-los por completo. Um silêncio reinou no cômodo, eu não sabia bem o que perguntar ou o que esperar como resposta; eu mesma estava um tanto assustada com aquela situação (que poderia ser ainda mais grave do que eu sabia). Sai da sala e trouxe um copo de água, já pressentindo que precisaríamos dele.

“O que sabe sobre esses relatos?” – perguntei, ao voltar a me sentar em sua frente. Abandonei o copo e os papeis sobre a mesinha do centro e encarei Ten quieto enquanto mexia nas franjas da minha almofada

“Eu não sei sobre 2013, mas os seguintes...” – começou a responder, sem muita força nas palavras. Era angustiante pra mim perceber que aqueles eram pontos dolorosos de sua vida e que, sem ter escolhas, ele tinha que relembrar, recontar e reviver cada um deles

“Em 2016 a notícia já é sobre você?” – continuei seu raciocínio, percebendo que ele não conseguiria terminar

“Não era só eu” – completou, desviando o olhar para um canto qualquer da sala – “Quem espalhou tudo foi outro trainee”

“Outo trainee?” – questionei, sem conseguir assimilar quem poderia ter sido o outro garoto de quem ele falava. Eu não estava na empresa antes então não saberia dos nomes anteriores, mas poderia ser outro idol já debutado, até mesmo alguém do NCT – “Quem era? Alguém do seu grupo?”

“Ele ia ser do grupo, mas foi mandado embora por isso” – respondeu, com as primeiras lágrimas começando a escorrer por suas bochechas. É triste ver a fragilidade que esse meio causa em garotos tão jovens, me enoja, me dá raiva – “Eles dizem que Hansol hyung quis sair, mas a verdade é que ele foi mandado embora, ele foi expulso!” – diferente da timidez anterior, agora ele falava como se fosse explodir a qualquer momento, simplesmente despejando tudo que precisava contar e confiando em mim. Confesso que me arrepiei, há um tempo atrás nem eu mesma confiaria em mim, nunca achei que me tornaria uma mentora e uma fonte de segurança pra essas crianças – “E a culpa é minha, ele nunca me perdoou”