Longe Demais

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[Narrador]

 Na Yeon observava seu entorno com cuidado, curiosa em como a casa parecia tão harmoniosa quando seus moradores eram a personificação da desarmonia. Tinha imaginado que a missão de levar Jung Woo pra casa e explicar a seus pais o porquê de sua suspensão seria difícil, mas não sabia que teria uma recepção tão fria e estranha. Era olhada com desconfiança, talvez esperassem um homem carrasco, como os managers de sempre.

 Yeon tinha dito toda a situação à mãe de Jung Woo, que apenas respondia tudo com um olhar esnobe e um leve assentir com a cabeça. Até então, nenhuma palavra. O garoto tremia parado ao lado da manager, encarando o chão, ainda com a mochila nas costas, tão calado quanto sua responsável. A explicação acabara e Na Yeon agora encarava a mulher, esperando que ela dissesse algo. No entanto, tudo que a senhora da casa fez foi virar as costas e acender um cigarro, como se não tivesse nenhum interesse no assunto.

 E antes mesmo que a manager pudesse pronunciar mais alguma palavra, o pai do garoto surgiu vindo detrás das escadas – sem que ela pudesse enxergar, ele esteve ali durante todo o tempo apenas ouvindo e agora decidira finalmente se pronunciar.  Jung Woo se assustou ao vê-lo e chegou a dar alguns passos para trás, num instinto de proteção inconsciente. Yeon estranhou sua atitude, mas não teve tempo de lhe perguntar nada ou se dirigir ao homem que vinha na direção deles.

 No instante em que estava próximo o suficiente de seu filho o homem apenas deu-lhe um tapa no rosto. Forte ao ponto de fazê-lo perder o equilíbrio por alguns instantes. Na Yeon pensou em responder, mas estava tão assustada com a atitude repentina daquele pai que não conseguiu dizer nem fazer nada. Estava agora claro em sua cabeça o motivo pelo qual Jung Woo não queria sair da empresa. A manager encarou então a mãe, esperando que ela fizesse algo, mas a mulher seguia andando pela sala com ar despreocupado e o cigarro nas mãos.

“É um garoto outra vez, não é, Jung Woo?” – o silêncio foi quebrado pelas primeiras palavras do pai, ainda parado em frente ao filho. Seus olhos transmitiam raiva, assustando não só ao membro do NCT, mas também à sua noona

 Yeon encarou Jung Woo, viu suas mãos tremendo, seu olhar mareado. Pensou que deveria intervir, mas sendo observada pela mãe dele, desistiu. Normalmente não desistiria, mas sentia como se algo a prendesse e não agiu, não se intrometeu, só observou tudo em silêncio. O menino não conseguia levantar o olhar, não conseguia deixar que seus olhos encontrassem os de seu pai. Tinha medo da repreensão que poderia vir se ele visse as lágrimas escorrendo por seu rosto, vermelho por causa da agressão de minutos antes.

 Por um instante, a manager pensou em desmentir a história que havia levado e criar uma nova versão; pensou que talvez daquela forma pudesse salvar o menino da fúria de seus pais. Fúria que tinha um foco, um alvo, e não era seu namoro, nem seu afastamento do grupo, nem as consequências que aquela suspensão trariam a ele. O único alvo ali era que ele tinha um namorado, não uma garota, mas um garoto. O único problema aos olhos daquela família era esse, sua decisão em aceitar algo que já era seu há tanto tempo. E, obviamente, não por ele, mas pela imagem, pelo nome da casa.

 Na Yeon riu sozinha, incrédula. Suspirou, deu alguns passos sem rumo pela sala, deu as costas à cena, sem poder encarar a situação em que um garoto que tratava como irmão mais novo tinha que passar, sem ter feito absolutamente nada de errado. No tempo em que estava de costas, respirando fundo para tentar recuperar sua paciência, ouviu o mesmo barulho, se assustou outra vez. Quando se virou já era tarde, viu apenas Jung Woo com a mão no rosto, depois de ter levado o segundo golpe do pai.

 Desta vez a manager decidiu agir e planejou mentalmente as várias formas que poderia utilizar para mudar a situação. Devia pegar o menino pelo braço e sair correndo como se fosse tão adolescente quanto ele? Devia devolver a violência da mesma forma? Ligar pra polícia e fazer uma denúncia? Tentar conversar e convencer o casal de que nada daquilo era o real problema e de que não deveriam descontar tamanha força no próprio filho?

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