Passado, presente e futuro

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~~Na Yeon~~

 Eu não sei por quanto tempo fiquei imóvel, eu não sei o quanto pude controlar minha expressão. Mas eu sei que nunca, em toda minha vida, tinha sentido uma angústia tão grande. Eu nunca tinha me sentido tão inútil, tão incompetente, indigna. Nem em todas as vezes que pensei em sumir ou fazer coisa pior meu coração foi tão esmagado quanto no momento em que, pela primeira vez, eu pude olhá-lo nos olhos.

 Dizem que mães sentem a presença de seus filhos, seus sentimentos, suas necessidades. Mas fui tão falha na maternidade (como em todos outros aspectos da minha vida) que não pude nota-lo mesmo estando embaixo do meu nariz. Aliás, eu não posso dizer que fui mãe um dia. Uma mãe de verdade não se coloca acima de seu filho como eu fiz, não importa o quanto eu queria desviar minha culpa, eu não tinha o direito de tê-lo deixado pra trás.

 No entanto, a partir do momento em que as coisas se encaixaram na minha cabeça, tudo parecia fazer um sentido absurdo. Era como se eu tivesse sido cega por todo esse período. A partir daquele momento, eu o sentia, meu coração tinha plena certeza daquela possibilidade, todas as dúvidas tinham sido aniquiladas. Pela primeira vez, eu olhei pra seu rosto e me enxerguei. Me enxerguei em seus olhos, em seus trejeitos. E o sorriso, que sempre soube ser conhecido, não poderia me lembrar mais de Jong Ki.

 Se me pedissem para descrever o que senti no momento em que notei estar de frente ao meu filho, eu não conseguiria. Apenas... É aquele garotinho, aquele que carreguei nos braços e que amamentei algumas poucas vezes. É o menino que nasceu antes da hora, apressado pra conhecer o mundo. É o maior desafio e a maior pérola que já passou pela minha vida. É o motivo que regeu todos meus passos nos últimos 24 anos.

 E sabem como é ter a sua vida parada em sua frente?

 Minhas mãos tremiam, as palavras entalavam em minha garganta. Eu não estava preparada, não havia me preparado – se é que é possível se preparar pra esse tipo de situação. Sentia minha boca seca e meus olhos molhados. Mas eu não podia fazer absolutamente nada. Parada naquele mesmo lugar, ainda que minha maior vontade fosse de explodir em lágrimas e abraça-lo por horas, tudo que eu podia fazer era encará-lo em silêncio.

 O que eu diria?

 Oi, eu sou sua mãe. Eu te abandonei quando era um bebê, mas espero que não tenha ressentimentos sobre isso.

 Impossível.

“Sunbae?” – ouvir aquela voz agora tinha um sentido totalmente novo. Taemin sorriu pra mim, provavelmente sem entender o porquê da minha estranha reação repentina – “Tudo bem?”

 Não sorria pra mim agora. Não me chame assim. Eu não sou sua sunbaenim, eu sou sua mãe!

“Noona” – mais alguém me chamando apareceu. Fechei os olhos com força, tentei recuperar o ritmo da minha respiração. Escondi o celular no bolso e, quando abri os olhos, desviei o olhar de imediato, tentando fugir da visão que poderia me descontrolar – “Ligaram do hospital, Jaemin acordou” – Doyoung, encostado na porta, também parecia estranhar minha cara pálida e minha expressão deslocada

“Eu já vou pra lá” – retruquei, me enroscando nas palavras.

 Tudo que fiz foi sair o mais rápido que pude daquele escritório e desviar de Doyoung na intenção de encontrar qualquer lugar em que pudesse ficar um pouco sozinha. Eu ainda tinha que ir cuidar de Jaemin no hospital, mas como eu teria psicológico pra isso depois de, quase sem querer, descobrir a verdade? Como eu socorreria outro garoto com a confusão de pensamentos que se formava na minha cabeça?

 Uma mínima parte racional de mim tentava duvidar, queria provas. Mas era como se eu não precisasse de nenhuma confirmação, de nenhum teste. Meu coração palpitava em plena certeza – e palpitava tanto que eu sentia como se ele fosse parar em algum momento. Doía, tudo em mim doía. Tanto que, quanto mais eu corria, mais sentia a força em mim esvaindo. Parei em um dos corredores, me encostei na parede gelada, minhas pernas bambeavam.

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