FIND ME

Mãe

~~Na Yeon~~

“Não vai mesmo embora?” – coloquei os cafés na mesa, o encarando. Taeyong negou, abandonando o celular e pegando o copo em sua frente. Bufei e desisti, teria que ficar com companhia. Voltei até o balcão e peguei algumas tortinhas mais atraentes, mesmo estando sem fome. Agradeci a atendente e fui para a mesa onde ele estava, sentando na cadeira em sua frente – “Se vai ficar tem que comer um pouco pelo menos”

 Ele provavelmente estava sem fome como eu, mas eu tenho estoques de energia, ao contrário desses meninos que vivem em dieta 24 horas por dia, todos os dias – e que já gastaram toda a energia nas apresentações de horas atrás. Empurrei as tortinhas pra mais perto dele, percebendo que queria me enrolar.

“Qualquer um percebe que está abaixo do peso” – insisti, roubando uma das tortinhas – “Então para de me enrolar e come logo”

 Madrugada, sono, lanchonete de hospital e dois olhos brilhantes e inchados me observando. Não é muito agradável quando alguém fica te encarando como se estivesse estudando sua alma e era ainda pior pra mim imaginar que tipo de perguntas aquele garoto estava se preparando pra me fazer. Até então eu tinha sido a única a abrir a boca ali, Taeyong só concordava ou discordava de tudo, sem dizer nada. Eu não sabia se ele estava envergonhado, cansado ou abalado depois de ter finalmente liberado todas as lágrimas comigo.

“Eu sei que sou muito mais bonita que as mulheres da minha idade, mas não precisa ficar me encarando desse jeito” – brinquei, conseguindo arrancar-lhe um sorriso. O primeiro em muito tempo. Ri, feliz pelo sorriso e pelas rosquinhas finalmente saindo do prato – “Se quer perguntar alguma coisa seja direto”

 Pareci muito segura, mas na verdade eu sempre tenho um pouco de medo de perguntas. Sempre existem aquelas que não podemos ou sabemos responder e, àquela altura, eu já tinha perdido várias das minhas respostas. Taeyong me encarou por mais alguns segundos, terminando a torta que tinha em mãos.

“Por que enfrentou o CEO hoje?” – fitou-me, com o olhar curioso – “Não tem medo de ser mandada embora?”

“Não faça perguntas difíceis” – suspirei, rindo. Nem há uma razão racional para as minhas últimas atitudes, então nem me esforço em tentar justifica-las – “Deixei de ter medo dessas pessoas depois de uns anos. Se quiserem me demitir...”

“Achei que pensava na gente” – cortou minha fala, sério. Uma resposta que eu não esperaria, mas que deveria esperar. Dei a entender que não me importaria de ir embora e, ao mesmo tempo, deixar o grupo pra trás. De novo, pega pela agilidade de um cérebro mais jovem – “Por que faz essas coisas se não se importa com o grupo?”

“Não coloque palavras na minha boca” – retruquei, desistindo de dar mais um gole no café (que já estava basicamente gelado). Eu pensaria que talvez algum outro membro fosse me cobrar, mas eu não esperaria que Taeyong fizesse isso, que estivesse esperando um envolvimento meu com o grupo – “É justamente porque me importo com vocês que tomo essas decisões” – o encarei, mas ele não parecia me dar muito crédito – “O que aconteceria se eu não me arriscasse? As coisas ficariam iguais, vocês continuariam com medo e eu seguiria as mesmas regras idiotas de sempre”

“E por que virou manager?” – me encurralou outra vez. Ganhei um tempo tomando um gole demorado do café (que estava com gosto horrivelmente amargo). Era visível que Taeyong queria testar minha confiabilidade, queria saber se podia confiar mesmo em mim ou não, se podia confiar seus membros à minha guarda. Embora seja difícil contornar suas questões, é interessante ver como ele tem cuidado quando o assunto é seu grupo, a segurança de todos os membros em minhas mãos

“Eu sei que se preocupa com todos” – retruquei, tentando convencê-lo e sair do assunto ao mesmo tempo. Eu também não teria como explicar o motivo por ter voltado à empresa, muito menos na posição de manager – “Mas eu já fui como vocês um dia, eu sei como tudo acontece, qual é a pressão, quais sãos as injustiças... Eu vou lutar pelos seus membros com você e não contra você”