FIND ME

Cuidados e Chantagens

Eu apenas me sentia derrotada.

Ouvia a sirene daquela ambulância e as vozes dos médicos se repetindo em minha cabeça.

E o sangue ainda estava lá, nas minhas mãos.

 Tinha se passado pouco mais de meia hora quando Taeyong chegou ao hospital, acompanhado dos pais de Ten e de um de seus managers. Na Yeon estava sentada na sala de espera desde o momento em que chegara naquele hospital, sem conseguir tomar qualquer atitude ou reagir. Foi a única a acompanhar o tailandês até o pronto socorro, logo depois que o ‘acidente’ acontecera. Ela estava chocada o suficiente para não conseguir avisar ninguém ou mesmo tirar a jaqueta suja de sangue que usava.

 Quando o líder do grupo chegou, sem ter muita noção do quão grave era ou não a situação de seu amigo, sem saber ao certo o que havia acontecido, a primeira pessoa que encontrou foi Na Yeon – e, como ele não poderia falar diretamente com os médicos antes que seu manager desse um aval, resolveu ir até ela antes de qualquer coisa. Taeyong podia estar assustado e nervoso com tudo aquilo, mas não estava tanto quanto sua noona, que tinha presenciado a cena.

 E ela tinha plena certeza de que aquilo havia sido arquitetado pelo manager tailandês que tanto assombrou o passado de Ten. Em suas suspeitas, ele provavelmente o fizera para calar a boca do garoto que pareceu ter sido o responsável por aponta-lo como abusador perante a justiça, coisa que na verdade havia sido feita por Han Sol, com apoio de sua agência, depois de muito esconder seu próprio caso. Nada muito desconhecido, é fácil ver atitudes assim em dramas e filmes serem chamadas de queima de arquivo. Na cabeça de Na Yeon aquela suspeita era muito clara, no entanto, só ela sabia da violência sofrida pelo tailandês, só ela sabia sobre o verdadeiro culpado, então mais ninguém saberia apontar a razão pelo garoto ter sido atingido. Nem os outros membros, nem a polícia.

 Já havia gritado sobre a culpa do antigo manager aos quatro ventos dentro daquele hospital, assim que chegaram, mas tinha sido apenas uma medida de uma mulher desesperada, então ninguém prestara atenção. A polícia provavelmente apareceria por ali em um futuro próximo, procurando por testemunhas e depoimentos, mas Na Yeon não sabia se conseguiria falar sobre o acontecido tão cedo, menos ainda apontar suas suspeitas que poderiam parecer infundadas – e que teriam como consequência a exposição da verdade sobre o caso de abuso sofrido pelo garoto, algo que ela não queria.

 Taeyong a observou por trás durante alguns segundos. Ele mesmo não fazia a menor ideia do que poderia ter acontecido, em sua cabeça (e pelas palavras de seu manager que mascarara a situação) aquilo só poderia ter sido um acidente, um atropelamento por acidente. Ele sabia que sua noona estava com o colega no momento em que tudo aconteceu, mas não sabia que seu conhecimento sobre a vida de Ten era o responsável por deixá-la ainda mais perturbada naquele momento. Foi apenas quando se aproximou mais que percebeu a expressão de choque da mulher.

“Hey” – ele correu e se abaixou em sua frente, assustado com o quanto ela parecia desligada do resto do mundo. Yeon não se movimentou, não desviou seu olhar perdido das próprias mãos, ainda vermelhas. Taeyong a encarou, buscando por alguma forma de melhorar seu estado. Naquela hora, era o mais novo quem precisaria cuidar daquela que sempre fora a cuidadora – “Não devia continuar assim”

 Para Na Yeon, era como se a presença do outro fosse ilusória, como se ela sequer o percebesse por ali. Estava centrada demais em suas próprias culpas e preocupações, de forma que cortava qualquer fator externo. Mas Taeyong não desistiria de ajuda-la apenas por não ter obtido nenhuma resposta, pelo contrário, foi encarando seu olhar perdido e seu rosto ainda molhado pelas lágrimas, que ele decidiu que cuidaria dela até quando fosse necessário. Observou ao seu redor, procurando com os olhos pelo banheiro mais próximo.