Outro Recomeço

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~~Na Yeon~~

"Ele cortou o cabelo" - Jung Woo sussurrava, falando consigo mesmo, enquanto acariciava os fios escuros de Lucas, que dormia encostado em sua cama

Me aproximei devagar, fechando a porta atrás de mim ainda mais devagar, tentando não fazer barulho. Lucas insistiu pra entrar antes de mim e não tive como recusar, mas pelo jeito ele não aguentou esperar até que Jung Woo acordasse. Confesso que tive um dos maiores picos de adrenalina da minha vida hoje, quando cheguei em casa e o vi sangrando, sem saber exatamente o quão grave aquilo era. Lucas e Na Reum foram mais sensatos e inteligentes que eu naquele momento, eles basicamente guiaram nossos socorros e eu apenas obedecia tudo, dirigindo sem sequer prestar atenção nos semáforos que apareciam em minha frente.

Esse era outro problema que eu não esperaria ter que lidar, um dos meninos causando seus próprios ferimentos, por culpa de uma família tão incoerente e desastrosa como a de Jung Woo. Outra vez, não que seja muito diferente do que a minha fora anos atrás, frustrante. Agora, felizmente, ele estava bem, se recuperaria tão rápido daqueles ferimentos quanto dos causados por seu pai. Por mais que ele tenha se ferido várias vezes nas coxas, os cortes não foram profundos o suficiente para causar grandes danos ou perdas de sangue. No entanto, isso não significa que tirarei o olho dele.

"Realmente nos assustou, mocinho" - me aproximei de sua cama, o consultório de Kang Chae Ri era bem mais confortável e aconchegante que o hospital do centro. Jung Woo me encarou, sem graça, cobrindo-se ainda mais, na intenção de esconder as marcas que havia causado e seus curativos - "Está melhor?"

"Sim" - respondeu, ainda claramente envergonhado. Eu não queria que ele se sentisse mal, então desisti de insistir naquele assunto. Me sentei no canto da cama, do lado contrário de onde Lucas ainda dormia

"Quando sairmos daqui" - rompi o silêncio, voltando a ter sua atenção - "Quer ir pra China?" - na verdade aquela viagem seria uma surpresa, mas tive que utilizá-la como novo assunto. Jung Woo me encarou, um tanto confuso - "Quer visitar a família do seu namorado?"

"Eu? Eu não..." - se enrolou em suas palavras, estava surpreso e tentando achar formas de se dizer impossibilitado. Não porque não queria, lógico, mas porque se acharia indigno de uma visita como aquela. Eu sabia

"Já falei com sua sogra" - me adiantei, sorrindo. O encarei por alguns segundos, querendo passar alguma sensação de segurança - "Ela está ansiosa pra te conhecer"

Jung Woo não me respondeu naquele momento, ele apenas concentrou seu olhar no chinês deitado ao seu lado, sem tirar a mão do meio de seu cabelo. No meio daquele silêncio, eu pude acompanhar seus olhos se avermelharem, marearem. E depois vi as primeiras lágrimas descendo por suas bochechas. Eu não sabia exatamente se elas significavam alguma felicidade por saber que, em algum lugar de um país vizinho, ele era acolhido; ou se era alguma tristeza por saber que era melhor acolhido fora do país que dentro de casa. Mas eu não precisava saber seus motivos, então apenas o abracei e deixei que derramasse suas lágrimas encostado em meu ombro.

"Jung Woo-ah" - sem me afastar e ainda tentando consolá-lo, pensei em alguma forma de dizer palavras bonitas e de ajuda, mesmo sem saber exatamente onde eu chegaria com minhas frases. Respirei fundo e desisti de formular qualquer coisa mais bonita, busquei apenas ser sincera - "Nossas dificuldades são como essas cicatrizes" - passei a mão por seu rosto levemente, secando as lágrimas que escorriam - "Elas doem no começo e aparecem quando não queremos, mas, mesmo que não sumam nunca, elas param de arder em algum momento"

Eu sabia que ele estava triste, triste ao ponto de precisar buscar alguma solução radical para si mesmo. E, naquele momento, eu só torcia pra que aquela tristeza passasse logo, pra que aquele menino conseguisse entender o que eu havia dito. Por mais que possa ser doloroso, vai passar em algum momento. E isso é verdade, posso testemunhar com a minha vida ainda cheia de espinhos, mas que já foi algo bem pior. Se eu tivesse o poder de transformar um desejo em realidade agora, se um gênio aparecesse em uma lâmpada mágica, eu só queria que todas as dificuldades sumissem da vida desses garotos. Que todos esses pesadelos fossem apagados de suas memórias.

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