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No fim, é tudo a mesma coisa

~~Na Yeon~~

"Eu não permito que entre nesse quarto" – parei em frente a porta do quarto em que Renjun estava

Taeyong e Mark continuavam sentados nas cadeiras do corredor, encarando o chão, sem dizerem uma palavra. Ko Hyuk, o homem que antes estava na casa, era o antigo manager da unit do NCT Dream. E só de olhar pra cara dele já era possível entender qual era a intenção da SM ao contratá-lo. Colocar um homem mais velho, estúpido, grosso e duas vezes maior que eu pra tomar conta da unit dos membros mais novos é basicamente covardia – um plano simples e fácil pra assustar as crianças e mantê-las na linha.

Hoje em dia é bem mais claro pra mim entender a maneira como a empresa escolhe os managers. Me escolheram pra esse grupo agora porque tenho experiência e sempre fui conhecida por ser rígida e ter um espírito de liderança, mas só me colocaram aqui porque os managers anteriores já haviam feito o trabalho sujo. Ou seja, os anteriores já colocaram medo, controle e violência no vocabulário dos garotos do NCT.

Ko Hyuk queria entrar no quarto do pequeno Renjun. O menino chegou desmaiado ao hospital e parece uma criança de dez anos. Ele teve uma crise de pânico, além de ter sido claramente machucado de propósito. Eu tive que mentir aos médicos dizendo que realmente havia sido uma queda e assinei um milhão de papeis como tutora responsável. Eu serei responsabilizada por tudo isso no fim, mesmo que não faça ideia do que aconteceu de verdade.

E sabem por que o manager quer entrar no quarto? Para convencer o garoto a mentir também. Pra ameaça-lo a contar a história inventada de que tinha tropeçado em qualquer lugar e batido a cabeça. Eu sei bem como funciona o poder de convencimento de pessoas que são mais poderosas e influentes que você, eu sei bem como é o uso da força física nesse processo. Na minha época, quando precisavam punir alguma garota, pediam pra uma staff feminina fazer isso, afinal, homem não pode bater em mulher – o que não mudava o fato de que podíamos apanhar de qualquer forma. E isto não é nem um pouco incomum. Posso concordar com qualquer treinamento ou punição, mas violência e abuso de poder pra mim já é demais.

"Eu sou a responsável e você não vai falar com esse garoto" – cruzei os braços, encarando-o de perto. Não, querido Hyuk, eu não abaixo a cabeça pra quem quer que seja

"Só preciso conversar com ele" – respondeu, natural como se fosse um verdadeiro inocente

"Acha mesmo que sou estúpida a esse ponto?" – fui direta, segurando o sorriso cínico que sempre me escapa nesse tipo de situação – "Foi um empurrão ou bateu nele?"

Minha questão deixou-o calado, ambos sorrimos, sabendo que tipo de situação estávamos enfrentando. Era óbvio que ele não responderia, mas suas expressões diziam mais que o suficiente. Talvez eu nunca soubesse se fora um empurrão ou uma agressão direta, mas já podia ter a absoluta certeza que não fora um acidente, muito menos uma queda.

"Que tipo de mentira quer que ele conte? Posso passar o recadinho depois" – segui encarando-o diretamente nos olhos. Já me rebaixei muito durante minha juventude pra continuar deixando que os outros controlem minha vida

"Os outros garotos podem falar por mim" – desviou o olhar pra onde Mark e Taeyong estavam. Os dois ainda miravam o chão, brincando com os próprios dedos, balançando os pés. Ouvindo tudo e fingindo que não.

Olhando de fora, eu perguntaria porque ninguém fez nada quando Ko Hyuk machucou um membro mais novo. Mas é fácil justificar quando se sabe o que se passa dentro desse sistema. Eles simplesmente não têm escolha. Ou você faz o que seu manager pede ou ele transformará sua vida em um verdadeiro inferno. Um inferno que vai incluir corte de pagamento, corte de agenda, boatos falsos jogados por ele mesmo na mídia, dietas mais forçadas, menos horas de sono, pressão psicológica. A equipe vai te esmagar de todas as formas até que você desista e se entregue novamente ao sistema. Experiência própria.

Então, os outros membros não podiam fazer nada se não quisessem perder oportunidades, contratos, pagamentos e dignidade dentro da própria empresa. Um idol que vai contra seu manager é perseguido dentro da SM, mesmo que não esteja errado. Como eu já disse, a culpa sempre será sua, mesmo que não seja. Quando for um contra um, palavra contra palavra, em quem acham que CEO e outros funcionários acreditariam? No garoto idol novato de 16 anos ou em seu manager que tem dez anos só de carreira e é braço direito do diretor da sessão de idols?

"Não se preocupe em ficar aqui" – cortei o silêncio, tentando expulsá-lo de uma vez – "Todos já sabemos como essa história vai terminar de qualquer forma, não é? Eu terei a responsabilidade de algo que você fez e o menino vai levar a culpa, então... Não precisa perder tempo ficando aqui"

(...)

"Não pensem que estou sendo boazinha por isso" – me sentei na frente dos dois, enquanto esperávamos a entrega do pedido

Era de madrugada, hospital de Seul, com agendas a serem cumpridas na manhã seguinte. Mark e Taeyong ainda estavam esperando comigo, Renjun tinha dormido. Para minha sorte ele estava bem, o trauma não havia sido grave nem forte, o corte precisara apenas de sutura. Mas, por conta do estado de pânico e do desmaio, os médicos o haviam medicado.

Parei com o líder e o mais velho da unit Dream na lanchonete do próprio hospital e pedi algo para comermos. Pedi pra que eles contatassem os outros e avisassem a situação do mais novo. Com tanta correria só fui me lembrar que tinha deixado membros na empresa quando um staff do SHINee me ligou dizendo que Minho e Taemin tinham os levado pra casa. Larguei o celular sobre a mesa e enfiei a cabeça entre as mãos. Como é possível que tanta coisa aconteça em um dia só?

Onde você foi se meter, Na Yeon?

"Ele tem fobia de sangue" – Taeyong abriu da boca depois de séculos em silêncio, retomando o assunto que já havia se perdido. Claramente falando de Renjun. O líder, que descobri nem ser exatamente o líder do grupo todo, falava como se ainda estivesse em choque

"Ele tinha um irmão" – Mark completou, também falando pausadamente, sem me encarar – "Que morreu num acidente"

Assenti, entendendo que eles queriam me explicar a razão pelo pânico que Renjun demonstrava depois de se machucar.

"E como ele se machucou?" – perguntei, encarando os dois enquanto traziam nossos lanches pra mesa – "Sejam sinceros comigo"

"Vai fazer diferença?" – Taeyong finalmente 'despertou' da transe anterior e, afiado, me olhou nos olhos

"Não, não vai" – retruquei, sendo sincera – "Não vão acreditar em vocês e tudo vai terminar como se fosse realmente uma queda, um pequeno acidente. Renjun vai estar de volta ao time em menos de uma semana, o manager vai continuar trabalhando e vocês continuarão torcendo pra que ele não volte" – completei, retribuindo seu olhar – "Mas eu gostaria de saber qual o verdadeiro motivo de estarmos aqui"

"Esse manager gostava de implicar com a gente" – Mark respondeu, tomando a fala do colega. Ele parecia confiar em mim, ao contrário do líder ao seu lado – "Ele empurrou o Renjunie..."

"E você não vai fazer nada" – Taeyong o interrompeu, cruzando os braços e me encarando ainda mais. Estava estressado, irritado e resolvendo descontar frustrações em mim. Olha, menino, eu estou tentando ser uma manager bem legalzinha então não force a barra comigo – "É uma manager também, não é? Sua lista negra serve pra acabar com a gente também, não serve? No fim é sempre a mesma coisa"