FIND ME

Não vá embora

~~Na Yeon~~

 Era difícil fingir que estava tudo correndo muito bem e mentir em todos os aspectos possíveis. Era ainda mais difícil ver os sorrisos dos garotos por pensarem que eu estava de volta à equipe e guardar que, na verdade, aquele compromisso era uma despedida oficial. Eu não contaria sobre minha demissão antes, é claro, isso tiraria todo o foco deles no evento e não seria bom para o grupo aparecer com cara de morte na frente das fãs – então eu apenas fingiria que não sabia de nada interessante até que acabassem.

 Não posso dizer que estou surpresa com a atitude de Han Se Min, eu já a esperava, para ser sincera. Ninguém cria tantas confusões e desafia os donos do poder sem esperar que haja uma retaliação; e tudo que fiz no tempo em que trabalhei foi lhe causar problemas, apontar irregularidades e meter o dedo onde não me chamaram. Não me arrependo de nada que tenha feito durante o tempo em que trabalhei, mas minha demissão era inevitável, digamos. Talvez eu devesse ter aguentado um pouco mais, sem expor meus pensamentos sobre certas coisas com a intenção de me manter mais no cargo, mas eu não seria Oh Na Yeon se me segurasse.

Olhar para a plateia de garotas um tanto histéricas pela última vez era um tanto refrescante, afinal, esse continua não sendo meu trabalho preferido. Ouvir as milhões de reclamações de staffs, ficar bisbilhotando presentes, ouvir declarações melosas em minha frente a noite toda, ficar de pé por horas fiscalizando tudo de longe; com certeza não é o emprego dos meus sonhos. No entanto, assim como era refrescante, era também assustador, pelo simples fato de ter que pensar em despedidas e em perder completamente a noção de como as coisas correriam para os meninos dali pra frente.

 Pensei que talvez o CEO já tivesse planos de me mandar embora antes mesmo de eu ter aparecido em sua sala e por isso me entregou uma última missão com o NCT, não que isso fosse lá tão importante àquela altura. Um fansign é um dos momentos em que o manager do grupo mais tem trabalho, é algo que requere muita atenção porque, tecnicamente, poderíamos lidar com uma fã homicida a qualquer instante, mas eu não cumpria bem esse papel naquela noite em específico.

 As garotas passavam por mim sem que eu sequer percebesse, se minha mãe estivesse no meio delas eu não a veria. Algumas vezes os staffs me cutucavam, me tirando do mundo da lua por alguns instantes para pedir qualquer coisa sem importância ou dizer que eu deveria estar controlando melhor o tempo que cada menina tinha perto dos membros. Minha atenção estava longe dos álbuns assinados e dos sorrisos forçados que os meninos exibiam às suas fãs; minha atenção estava em cada um deles.

 Analisando de fora, foi um tempo relativamente curto o que passei ao lado dos dezenove garotinhos mais novos da SM. E talvez eu não tivesse me apegado tanto a eles se tivesse exercido qualquer outra função na empresa, mas foi impossível fugir dessa aproximação sendo manager. Este é um cargo que te coloca como maior fonte de confiança, comprometimento e afetividade com os membros do tal grupo e, por mais que eu tenha tentado me afastar, foi a personalidade brilhante de cada uma dessas crianças que me fez permanecer – não só no meu emprego, mas também na minha vida.

 Não é como se eu pudesse fingir agora que não criei nenhum laço com todos os meninos, seria uma mentira extremamente descarada. Posso dizer que foi contra minha vontade inicial, mas não posso negar que aconteceu. Sem saber, eu precisava deles, porque precisava de pessoas ao meu lado, que confiassem em mim, me dessem forças e (é estranho dizer) que me fizessem sentir amada de alguma forma. Não seria tão estúpido dizer agora que vim a procura do meu filho, mas sai com outros dezenove além de Taemin.

 Aliás, talvez eu tenha sido mais mãe deles do que do próprio Taemin até agora. Eu levei os mais novos à escola, acompanhei consultas médicas, fiz curativos, me preocupei com rotinas pessoais, dei conselhos familiares, encobri casos amorosos, comprei brigas, assumi responsabilidades. Foi um período curto, mas digamos que dormir e acordar grudados por vinte e quatro horas fez com essa experiência parecesse mais longa. Pensar nessas coisas me fazia sorrir no meio do fansign, numa típica demonstração do ditado ‘seria cômico, se não fosse trágico’.