FIND ME

Presente

~~Na Yeon~~

Eu sempre odiei o Natal, todo mundo sempre soube. Meus namorados me xingavam porque eu não queria sair de casa na véspera, meus agentes me xingavam porque eu não queria gravar especiais natalinos, minhas antigas companheiras me odiavam porque eu não queria gravar um cover da música de natal da Mariah Carey. Nunca fui religiosa, nunca vi sentido nenhum além do comercial. A verdade era que esse dia, 25 de dezembro, era apenas um dia normal pra mim.

Ou melhor, era pior que um dia normal.

Em um dia normal eu poderia trabalhar, treinar e me distrair com alguma coisa fútil. No natal eu era obrigada a ficar em casa, sem nenhuma opção de passeio ou distração já que tudo está fechado no feriado. Tudo fecha porque as pessoas festejam com suas famílias, trocam presentes e se enchem de comida. Eu não poderia ter absolutamente nada disso. não tinha família com quem festejar, não tinha com quem trocar presentes e também não podia sair da dieta por muitos anos.

Eu me odiava por não ter família, nem presentes, nem comida. Era tudo culpa minha no final das contas. Eu tentava suprir meu erro do passado fazendo dias solidários e doando brinquedos a orfanatos, mas já sabendo que meu filho provavelmente nunca receberia nenhum daqueles pacotes. Por que eu me daria o luxo de trocar presentinhos natalinos sabendo que meu filho era um daqueles que escrevia cartas sem esperança pedindo qualquer mínima coisa a estranhos e no fim terminava todo ano sem nada? Eu me acharia egoísta demais.

Por tudo isso, essa é a primeira vez que comemoro um natal de verdade. A primeira vez em mais de vinte anos. É tanto tempo sem sequer olhar para uma árvore decorada que eu me desacostumei – ao ponto de que não comprei nenhuma decoração para esse ano. Por um instante eu me esqueci o quanto minha vida tinha mudado de um ano ao outro, esqueci que tudo deveria mudar para melhor.

Minha mãe também era alguém que não se preocupava com datas comemorativas, menos ainda com o natal, especialmente depois que o papai morreu. Eu sei que provavelmente várias pessoas passam do mesmo drama que a gente, já que uma data que é tecnicamente voltada para a família não poderia ser comemorada sem família. Na real isso é uma falácia, eu deveria ter passado todos esses anos comemorando com alguém, ainda que fosse um estranho, mas comemorando.

Sabe, hoje eu percebo que não era necessário nenhuma festa, não era necessário nenhuma decoração. Eu só precisava estar bem comigo e dividir esse meu bem com alguém. Eu poderia ter saído de casa e partilhado com as crianças do orfanato pra quem doei os tais brinquedos, eu poderia ter encontrado meus fãs ou perdoado e entendido minha mãe. Passar esses dias solitária foi uma terrível decisão minha.

"Noona!" – a voz de Na Reum, gargalhando, invadiu a sala, trazendo vários sorrisos como resposta

Mas, aqueles vinte anos passaram. Eu já odiei o natal o bastante.

Talvez eu tenha odiado tanto por não ter entendido o significado, o porquê as famílias gostam tanto de se reunir, o porquê eu deveria me partilhar e perdoar os outros. É tudo totalmente diferente quando é compartilhado. A minha casa, antes completamente vazia, escura e monótona, agora cumpria todos os requisitos daquelas que aparecem em comerciais de margarina ou panetone. Pela primeira vez em vinte anos eu tinha uma árvore de natal decorando a sala, pela primeira vez eu a tinha decorado junto do meu filho.

Pela primeira vez em anos minha mãe estava preocupada em encontrar receitas e comprar presentes; estava preocupada em manter a decoração em ordem e arrumar uma ceia que fosse perfeita para a meia noite. Pela primeira vez eu não estava sozinha, nem um pouco sozinha. Agora éramos eu, mamãe, Taemin, Na Reum e a Pegg, a nova mascote da casa – uma cachorrinha sapeca que foi, inclusive, um presente da dona Oh Nam Ji a seu futuro neto.