(Re) encontros

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~~Na Yeon~~

 Era início de tarde quando cheguei no hospital, depois de fazer uma viagem direta do aeroporto pra cá, sem sequer deixar minhas malas em casa. Peguei o primeiro avião que consegui, bem de manhã, não pude nem me despedir de Lucas e Jung Woo já que os dois estavam dormindo quando cheguei do jantar e quando saí; deixei apenas o recado que estaria voltando para a Coreia para ser entregue pelos pais do Yukhei.

 Eu não pude dormir direito a noite, tive muitos pensamentos sobre tudo aquilo que acontecia. Na China as coisas pareciam correr bem, mas a notícia sobre a saúde da minha mãe abalou não só minha viagem como também minha paz interior. Faz anos que não nos vemos, faz anos que não nos falamos diretamente. Desde que saí de casa, lá no começo dos anos 2000, eu e minha mãe fizemos um acordo indireto de que fingiríamos não saber da existência uma da outra. A última vez que nos vimos foi no funeral do meu pai, oito anos atrás, e nem mesmo nessa ocasião nós duas mudamos esse acordo.

 Hoje eu já não sei mais se essa conclusão foi a mais inteligente que poderíamos ter tomado. Brigamos e nos afastamos, mas nos esquecemos de que dias como esse poderiam acontecer, dias em que não poderíamos mais manter nosso descaso, dias em que não poderíamos nos ignorar. Como eu poderia ignorar o fato de que minha mãe está no hospital agora? Como eu ignoraria o fato de que poderia tê-la perdido na noite passada? E como ela ignoraria o fato de eu ser a única família que lhe restou?

 Eu sei que, mesmo que talvez eu não seja capaz de perdoar totalmente minha mãe, ainda quero que ela conheça o meu filho antes de qualquer coisa. Eu quero que ela o olhe nos olhos e saiba que aquela criança voltou, que ainda existe tempo pra remissões. Eu quero que ela tente mudar aquela visão e aceite seu neto na família, mesmo tão tarde, mesmo depois de ter expressado tanta felicidade em leva-lo pra longe quando ele era um bebê. O passado ficou no passado e eu sei disso melhor que ninguém; não posso esperar mais até que essas possibilidades se tornem impossíveis.

 Então, rezando pra que minha mãe estivesse tão bem quanto os médicos haviam me avisado, e pra que ela pudesse me receber bem e aceitar minhas propostas, eu avisei Taemin sobre onde estava. Eu dei a ele a escolha de vir ou não, porque não queria obriga-lo a encarar mais um membro de sua família, de sua imprudente e irresponsável família. Além da aceitação da minha mãe, eu queria que meu filho conhecesse sua avó apesar de todos os pesares. Ele também tinha esse direito e Taemin deixou claro depois que tinha essa vontade.

 Parei em frente ao quarto que me foi indicado e decidi esperar meu filho antes de entrar. Mil questões me deixavam nervosa e o fato de rever minha mãe era o maior deles. Oh Nam Ji nunca foi uma mulher fácil, nunca foi alguém que voltava atrás em suas palavras ou aceitava qualquer coisa que não fosse seu objetivo e, por saber disso, me sinto estranha reaparecendo depois de fazer tudo aquilo que ela não esperava da minha vida. Mas, mesmo com todos os perrengues da nossa vida, ela continua sendo a minha mãe e eu tenho medo de perde-la, como qualquer filho.

 Aliás, eu acho que, tão cedo quanto eu possa, preciso repensar sobre não dar o devido perdão à minha mãe. Eu, que fui uma mãe tão ou mais terrível, implorei pelo perdão do meu filho e fui aceita. Seria hipocrisia da minha parte não tentar uma mínima retomada de relação com a pessoa que me gerou e criou, ainda que seja nesse tipo de situação. Suspirei, tentando obter coragem para enfrentar a óbvia dificuldade que apareceria naquele quarto. Eu não queria chorar, mas talvez fosse difícil ver minha mãe debilitada depois de tantos anos, depois de me acostumar com sua ausência.

 Talvez tudo isso seja uma peça do destino querendo que eu entenda como foram as coisas pra Taemin, e como eu deveria ser como ele em alguns aspectos. Quem diria que uma mãe poderia aprender tanto com um filho, não é? E, por falar no meu garoto, ele não demorou a surgir no fim do corredor. Com seu sorriso doce de sempre, parecendo também um tanto nervoso. Taemin anda me ensinando mais sobre minha vida do que todos meus anos vivendo sozinha, viajando pelo mundo ou trabalhando. É ele quem me faz descobrir meus verdadeiros sentimentos e quem me faz pensar nas minhas atitudes porque, além de uma pessoa honrável, agora eu me policio para ser uma mãe que não o envergonhe.

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