FIND ME

Recomeço

~~Na Yeon~~

“Podemos sair agora?” – perguntei, preocupada com sua segurança e privacidade por ser alguém tão público

“Não tem ninguém nas ruas à essa hora” – retrucou, sorrindo, enquanto continuávamos a caminhada

 Caminhada um tanto silenciosa, mais do que eu queria. Nada de interessante vinha em minha mente, já era de madrugada, e eu estava andando sem rumo ao lado do meu filho. Meio surreal, como se não fosse de verdade. Por mais que eu estivesse cercada de problemas (como ter acabado de ameaçar um homem que eu não sabia o quanto poderia ser vingativo), eu queria que aquele momento fosse apenas dele; eu queria dar meu sorriso e minha atenção a ele, então tentei ignorar as preocupações pelo menos pelo tempo em que estivéssemos um com o outro.

 Seul, com seus encantos próprios, é uma cidade grande e pequena ao mesmo tempo. Escolhi o bairro mais calmo que existia no mapa pra morar e nestes momentos vale a penas estar cercada de uma vizinhança silenciosa, que dorme cedo e que tem pequenos comércios abertos. Por exemplo, uma loja de conveniência que basicamente serve como café e sorveteria também. Que tipo de cidade teria uma pequena e simpática loja desse tipo aberta no meio da madrugada? Seul. E, por algum motivo que compreendo menos ainda, Taemin queria tomar um sorvete àquela hora da madrugada.

 Andamos sozinhos pelas ruas e em silêncio durante os poucos minutos de percurso que separavam minha casa da lojinha. Eu queria dizer tanta coisa, mas me sentia incapaz, como se não devesse. Antes de dizer qualquer coisa eu sentia que precisaria ouvi-lo. Ele prestava atenção no caminho, observando cada detalhe das casas, praças e jardins, como se quisesse se localizar. Ou talvez ele só quisesse fugir do meu olhar, que inevitavelmente era só dele, em cada segundo.

 É engraçado, antes eu não sabia quem era a pessoa a quem eu procurava, eu desconfiava de vários e procurava pistas, sem sentir absolutamente nada por nenhum dos meninos. Mas, agora que sei que Taemin é o garotinho que tanto procurei, parece que eu estava sendo vendada antes, de todas as formas – eu o sinto de um jeito inexplicável, meu coração bate mais forte toda vez que nos vemos, minhas mãos tem uma vontade quase própria de tocá-lo, de tê-lo ao meu alcance. É ele, eu sei sem que precisem me confirmar, sem que me deem testes, DNA, ou seja lá o que for.

 Taemin liderou nossa caminhada durante os últimos passos, eu apenas o observei com algum espaço de distância, era como uma criança descobrindo novas coisas. Ele entrou primeiro na pequena loja e foi muito bem recebido pela senhora da recepção, o que me fez entender a felicidade da qual sempre ouvi falarem sobre quando alguém trata bem o seu filho. É como se a pessoa tivesse sido boa diretamente com você. Sorri, retribuindo o cumprimento da mulher. Sorri, pensando que se meu filho fosse uma criança eu provavelmente o proibiria de comprar algo gelado durante uma madrugada até que fria.

“Qual seu preferido?” – nos aproximamos do balcão com as opções de sabores do doce. Taemin, que antes parecia tão radiante e sorridente, fechou a cara, numa expressão que eu podia compreender. ‘Ela não sabe nada sobre mim’, provavelmente foi este o pensamento em sua cabeça. Era o mesmo na minha, eu não sei nada sobre meu próprio filho – “Chocolate?”

“Sim” – respondeu, com o antigo sorriso de volta. Não consegui esconder minha felicidade, mesmo naquele pequeno momento – “Como sabe?”

“É o meu preferido” – o encarei, me encantando com seu riso sem graça. Como uma coisa aparentemente tão pequena pode deixar meu coração tão quente?

 Pra alguém que esperou por mais de vinte anos, é quase impossível expressar a importância de um mero sorvete, uma mera caminhada de algumas ruas, um silêncio prolongado. Mães saem com seus filhos a todo momento, vão juntos aos parques, bosques e sorveterias. Mas essa é a primeira vez que saio com o meu filho, é a primeira vez que escolhemos um lugar juntos e um sabor de sorvete.