Depois dos balões

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~~Na Yeon~~

Tive a sensação de que era mais tarde do que meu horário costumeiro para acordar. O sol já estava forte, entrando pela janela que, por burrice, eu não havia fechado direito na noite anterior – o que fazia a cortina voar com a brisa que invadia o quarto. Minha cabeça pesava um pouco, efeito das bebidas, mas não tanto quanto eu esperaria, felizmente não me embebedei como em dias de tristeza. Abri os olhos devagar por conta da luminosidade e tirei o cabelo que caia sobre meu rosto.

Por algum motivo parecia uma manhã diferente das outras, mas meu estado ainda meio sonolento não me permitia raciocinar direito. Comecei a perceber fatores estranhos. O primeiro deles foi que eu sentia um perfume que não era o meu; o segundo era a sensação de uma respiração quente e calma batendo perto do meu pescoço; e por fim a visão de um braço que rodeava minha cintura. Eu realmente tive um bloqueio mental que não me permitiu lembrar no primeiro momento o porquê daqueles fatores, embora fosse tudo muito óbvio. Talvez meu cérebro estivesse me impedindo de me arrepender de meus atos.

Fiquei alguns segundos brigando com meus pensamentos vagos até me dar conta de qual era a realidade. Suspirei, cocei a testa, cerrei os olhos por um instante, tentando cortar a tentativa do meu cérebro de retomar cenas claras da noite anterior. Me virei devagar, confesso que com certa apreensão, não que adiantasse, claro. Estávamos tão próximos que eu o beijaria se mexesse mais um músculo. Era uma visão bem diferente pras minhas manhãs, digamos. Uma visão que era estranha, errada, linda e satisfatória ao mesmo tempo.

Eu deveria ter um garoto da idade dele na minha cama? Não, claramente. As pessoas me achariam maluca se descobrissem, certo? Mais ainda se descobrissem que, antes de qualquer relacionamento clássico, eu não só cedi como cooperei para uma noite de sexo. Não que eu, uma mulher solteira de 40 anos, tenha que me preocupar com questões sexuais, convenhamos que isso na minha vida só representa mais uma coisa, não é nenhuma novidade. No entanto, eu sei que as pessoas não entendem dessa forma, por isso foi um tanto irresponsável de minha parte deixar que acontecesse.

Mas algo que aconteceu não pode mais ser mudado, certo?

E, se pudesse, eu nem sei se mudaria, sendo o mais sincera possível. Quem seria mentiroso o suficiente para dizer que teria vontade de apagar uma boa noite de sexo? E sim, foi uma ótima noite caso seja essa a dúvida. Eu não sou mais uma adolescente inocente pra ficar esperando relacionamento desenrolar a partir de abraço e mãos dadas; e Taeyong me pareceu muito bem disposto a enfrentar o meu estilo de pular fases. Ah, e eu detestaria destruir a imagem de garoto inocente e puro que algumas fãs provavelmente tem dele; devo dizer que é até espertinho demais pra seus 20 e tantos anos.

Eu não tentarei entender o porquê de ter me decidido levar um único e primeiro encontro à fase que levei, porque sei que seria uma tentativa em vão. Eu simplesmente senti que poderia, queria e deveria fazê-lo. Na noite de ontem, pela primeira vez em todo esse tempo, como mulher, eu o quis. Eu o desejei, como homem. Mesmo que isso me parecesse ridículo até dias atrás. E agora, observando-o ao meu lado enquanto dormia, eu estava ainda mais confusa. Porque queria, mas não devia. Porque tem outros milhares de pontos contra o que poderia ser 'nós dois'. Basicamente isso.

Passei a mão por seu rosto, de leve, na intenção de não acordá-lo. Eu não sabia como deveria reagir quando ele acordasse. Digamos que eu não esteja em uma fase em que meu maior desejo seja manter um relacionamento sério com alguém, menos ainda com um menino mais novo; mas também não posso agir como se ele fosse um qualquer descartável que usei por uma noite. Tudo já era difícil e eu fiz o favor de dificultar ainda mais. Parabéns, Oh Na Yeon, parabéns.

Mesmo tentando fugir, algumas lembranças surgiam pra completar minha confusão – principalmente lembranças do dia anterior. Talvez Taeyong tenha percebido que não era sua insistência que me afetava, nem suas palavras, mas sim suas atitudes, e então ele resolveu usar de todos seus artifícios românticos e carinhosos. Provavelmente não sou a única que se derrete fácil pra homens que sejam o mínimo mais humanos e atenciosos que a maioria. Não devo ser a única a corar ao receber um balão de coração ou a se deixar envergonhar ao ouvir elogios. Era fácil pra ele, a cada "você é linda", eu me derretia mais um pouco. E, em minha experiência de 20 anos a mais acumulados, é perceptível quando um homem te trata como uma mulher ou quando ele te trata feito um pedaço de carne. Talvez seja besteira, mas fez muita diferença pra mim que ontem, em todos os momentos, Taeyong tenha me tratado como uma mulher e não como um desejo sexual a ser conquistado. Uma mulher de quem ele gosta.

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