FIND ME

A última peça

~~Na Yeon~~

Respirei fundo algumas vezes, queria estar muito calma na frente das câmeras e não fazer nada que pudesse desestabilizar meu testemunho. Encarei Che Ri parada ao meu lado, eu via suas mãos tremendo, ela devia estar mais nervosa que eu – afinal, eu me acostumei a ser a encrenqueira que bate de frente com qualquer um, mas essa provavelmente é a primeira vez que ela se posiciona de uma forma que pode destruir sua carreira e reputação. É um ato de coragem e ainda não sei como agradecê-la por ter tomado essa decisão.

Ainda sem ter saído do saguão do hotel eu já podia sentir a energia vinda da sala do lado, onde todo mundo me esperava. Minhas pernas tremiam e mesmo com toda minha respiração bem controlada, inspirando pelo nariz e expirando pela boca, meu nervosismo continuava aparente. Quando Sin Won apareceu no cômodo tudo só piorou, porque sua presença queria dizer que era hora de enfrentarmos o matadouro do dia. Fazia muito tempo que eu e meu advogado não nos víamos pessoalmente, mas infelizmente não teríamos uma boa oportunidade para colocar a conversa em dia e dizer o que fizemos de bom na vida.

"Estão todos prontos" – Sin Won parou em minha frente, também claramente nervoso. Acho que eu nunca o coloquei numa situação tão complicada, nem quando o enviei pelo país caçando por uma criança sem nome que era meu filho – "Podemos ir"

Assenti, trocando um rápido olhar com a doutora Chae Ri. Estávamos nervosas e temíamos sim as possíveis e óbvias represálias que tomaríamos, mas estávamos, na mesma medida, certas do que deveríamos fazer. Certas de que aquela briga tinha que continuar, pela vida e segurança dos garotos que já estiveram em nossas mãos e pela justiça com todos os seres humanos que vivem debaixo do teto daquela empresa. Justiça por tudo que passei e deixei no passado, pelos danos que me causaram. Pelos danos que causam no presente. Juntas, assentimos outra vez, em uma confirmação de que continuaríamos nosso papel naquilo tudo.

Com o advogado à nossa frente, demos demorados passos pelos poucos metros que separavam o saguão da sala de reuniões ao lado, já bem preparada para nos receber. Aquela era minha primeira carta na manga, uma coletiva de imprensa. E eu atrai os repórteres por dois motivos: primeiro porque todos os curiosos do país querem saber por onde anda a antiga 'princesinha da geração', e depois porque meu nome voltou aos assuntos em alta quando publiquei aquela carta às NCTzens, porque minhas acusações são pratos cheios para a imprensa que adora pesquisar escândalos sobre empresas de entretenimento.

Fazia muito tempo que eu não via tantos flashes de câmeras e microfones em minha frente, aquela situação me trazia certas recordações dos anos 90. Passei o olhar pela quantidade de repórteres já posicionados na sala, mais do que imaginei que viriam, e encontrei até mesmo rostos conhecidos de minha época brilhante. Seus olhares afiados eram os mesmos, prontos para te engolir com qualquer pequeno erro. É uma sorte conhecer esse território antes de ter que pisar nele outra vez. Sorte que Dra. Kang obviamente não tinha. Tentei dar alguma segurança à ela por meio de meu olhar, mas eu não estava muito segura, na verdade.

Sin Won já havia preparado tudo e eu tinha também essa outra sorte de tê-lo por perto, de ter um amigo que me servia como advogado sempre que necessário – e que era um advogado realmente justo e preocupado com a verdade. Sorri em sua direção, em forma de agradecimento, e logo me sentei de frente àquela multidão alvoroçada de homens e mulheres engravatados. No meio dos profissionais da área eu podia ainda ver algumas garotas bem mais novas, representantes dos fansites do NCT, que eram parte da nossa estratégia de espalhar o mais rápido possível toda a verdade (e era realmente triste perceber o quanto aquelas meninas estavam desesperadas por algo).

Senti todos os olhares se encontrarem em mim, a mesma pressão de anos atrás quando precisei mentir sobre meu estado de saúde ou justificar o fim do meu grupo. Dessa vez, no entanto, era eu quem estava no comando e isso me aliviava um pouco. Meu advogado já havia se adiantado com os jornalistas e explicado basicamente toda a situação, eu teria alguns minutos de fala e depois abriríamos para perguntas. Torci pra que ninguém resolvesse desenterrar meu passado ou me ferrar através daquelas perguntas.