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China

~~Na Yeon~~

 Dois dias na China já pareciam estar sendo suficiente pra mudar o clima entre todo mundo, felizmente. Além de continuar se recuperando, Jung Woo estava feliz de novo, estava sorrindo de novo, esquecendo as dores dos últimos dias. E eu estou feliz por não ter separado os dois mais cedo, quando cheguei a pensar em contar o que sabia aos diretores; teria sido muito injusto e eu teria piorado a situação e a vida desses dois meninos.

 Lucas e Jung Woo combinam muito, estranhamente muito. Um pode ser o escândalo em pessoa e o outro a própria delicadeza, mas eles se equilibram de uma forma quase que natural. Eu não apostaria nos dois se não soubesse, é engraçado como os opostos realmente se atraíram nesse caso. E agora, estando livremente juntos, eles ficam juntos mesmo, como se fossem grudados um no outro – não de uma forma melosa ou irritante, mas de um jeitinho sem esforços.

 No entanto, esses dois se trancaram em casa desde que chegamos. A casa do Lucas é enorme, ótima, muito bem arrumada e sua família é ainda melhor, super receptivos, abertos e de um humor fantástico; mas eu ainda não queria que os pombinhos ficassem enfurnados na sala o dia todo, todo dia. Aos poucos, descobri que o medo de sair não era uma questão de reconhecimento (segundo a mamãe do chinês, a cidade é pequena demais pra que tenham problemas com a fama), mas sim o medo de encarar do lado de fora as pessoas que não são como a família de Lucas.

 Por minhas experiências pelo mundo, posso dizer que a China não é tão diferente da maioria dos países no resto do mundo nesse aspecto. Dois garotos que andam juntos continuarão a ser motivo de piada e olhares estranhos na rua, eu sei disso e sei que Lucas e Jung Woo querem evitar esse tipo de coisa, mesmo sem serem diretos. Mas eu não posso deixar que se tranquem em casa por sei lá quando tempo só porque outras pessoas acham errado que eles saiam. Então eu insisti até que consegui convencer os dois a irmos, pelo menos, almoçar fora – e tive o apoio dos papais do Lucas, felizmente.

“Querem comer alguma porcaria hoje?” – aproveitei o sinal fechado e encarei Jung Woo no banco do lado, Lucas estava no banco de trás – “Eu não estou a fim de seguir dieta”

“Hambúrguer?” – o chinês sugeriu, se pendurando entre os dois bancos da frente. Sorri com todo seu ânimo, esse menino sempre parece uma criança contente

“Okay” – assenti, seguindo com o carro

 Fazia muito tempo desde que eu fora pela última vez pra China, confesso que meu chinês já está até um pouco desgastado, mas esse ainda é um dos países que mais gosto de visitar. E, graças a ajuda dos pais do Yukhei, consigo me sentir ainda mais confortável mesmo fora do meu país. Enfim, não demorou até que eu achasse alguma lanchonete interessante. Mesmo lá era claro que os dois ainda estavam um pouco desconfortáveis, principalmente Jung Woo.

 Liderei nossa caminhada até o lado de dentro, tentando mostrar que não havia nada de errado, que não havia nenhum perigo enquanto eu estivesse por ali. Parece uma preocupação tão estúpida para qualquer pessoa que é ridículo ter que enfrentar esse tipo de coisa só porque são dois meninos juntos. Humanidade sendo humanidade, como sempre. E, como já esperávamos, o desagradável aconteceu, tão rápido que nosso pedido ainda nem tinha chego.

 Confesso que tive náuseas na hora, porque, por mais que fosse algo que premeditei antes de sair, tive uma mínima esperança de que não fosse acontecer. Quando escolhemos uma mesa e nos sentamos, Lucas e Jung Woo preferiram sentar lado a lado e, instantâneo como em qualquer outra situação, o chinês segurou a mão do namorado. Foi apenas isso. E foi suficiente pra que alguns garotos sentados por perto começassem com os comentários e olhares desnecessários. Eu esperei por alguns segundos, queria saber qual seria a reação dos meninos da minha frente, porque era óbvio que os engraçadinhos dali de perto falavam bem alto de propósito.