Pai

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~~Na Yeon~~

"Tome conta do seu filho"

Essa era a única coisa que se passava pela minha cabeça. Minha única lembrança, minha única culpa e preocupação. Tudo porque haviam me avisado, mas eu não havia levado aquele aviso a sério. Eu não havia suspeitado como deveria, não me policiei, não assegurei que meu filho estivesse bem em todas as vinte e quatro horas do dia. Eu duvidei que um psicopata maluco pudesse machucar meu filho. Fui idiota e irresponsável. E não é como se eu pudesse chorar agora por isso, não posso me dar ao luxo de viver no passado depois que as coisas já aconteceram e as promessas já se cumpriram.

A opção que eu tinha se resumia então a esperar, chorar, rezar e me jogar no consolo de Taeyong outra vez. Entrar em total desespero e tentar não desmaiar. Ser medicada com alguma dose de calmantes e passar algumas em um quarto, sendo observada. Talvez eu não soubesse exatamente como controlar minhas próprias emoções, talvez eu reaja de forma exagerada, ainda não sei bem. Eu não sei se todas as mães agem como eu quando percebem que seus filhos estão em situações de risco, no caso, quando estão saindo de uma ambulância.

É a primeira vez que acompanho algo do tipo. Todas as outras mães, com seus filhos de quase 25 anos, já devem ter passado pelo hospital diversas vezes, com gripes, febres, alergias, braços quebrados ou testas rasgadas que precisam de alguns pontos. Eu nunca fiz isso. Taemin provavelmente passou por todas essas fases da infância e adolescência, mas não era eu quem estava por perto. Sinto que eu surtaria mesmo se tivesse que hospitaliza-lo por uma simples gripe; mas, infelizmente, não era nada de simples e isso dificultava mais ainda que eu conseguisse lidar com aquela situação.

É a primeira vez que vejo e acompanho meu menino no hospital e isso já acontece quando ele é supostamente atacado por um maluco tailandês que planeja se vingar de mim. Acho que não seria fácil pra nenhuma mãe, então tento não me pressionar muito por reagir num extremo emocional. Minho e Taeyong ficaram comigo durante todas as primeiras horas, foram atenciosos, cuidadosos e calmos pra tentar me acalmar. Minho me contou as vezes em que ele e os outros membros do SHINee acompanharam seu maknae por hospitais, me disse como ele sempre saia bem e sorridente de todo quarto, independente do que acontecera. Queria me dar força e segurança e realmente me sinto grata, não só por suas tentativas, mas também pelo fato de terem cuidado do meu filho, mais que eu.

Em tão pouco tempo Taemin se tornou o mais importante pra mim; ele tomou conta de todo meu mundo e eu não saberia mais viver sem ele. Esse foi meu maior medo quando eu o vi dentro da ambulância, sendo bem sincera. Eu tive medo de perde-lo e esse medo não passou nem quando os médicos me disseram que tudo estava bem, que eram apenas ferimentos de raspão. Em pensar que mal tive tempo de sair do hospital e já voltei pra outro quarto...

Foram ferimentos que não consegui ainda entender exatamente. Minho foi o único que assistiu à cena, mas ele não sabia me dar detalhes; tudo que viu foi a fuga clara do manager tailandês depois de ter já praticado suas agressões. Foi ele quem chamou a polícia que, felizmente, conseguiu chegar a tempo e prender basicamente em flagrante uma pessoa que já estava sendo procurada por outro mandato de prisão. Irônico no mínimo. E acredito que o primeiro mandato tenha sido o desencadeador dessa atitude maluca do tal homem, porque além de se vingar contra mim, ele ainda poderia descontar sua raiva.

Quando Taemin chegou o mais preocupante não foram alguns hematomas causados por uma clara briga de punhos, mas os cortes que ele tinha no abdômen e no braço. Sim, do tipo causados por facas ou coisas dessa espécie. Eu não sei como uma possível briga chegou ao nível de facadas, mas Minho acredita que o tailandês não estava em seu estado normal. Eu também não sei se a intenção dele era somente machucar o meu filho, me assustar, ou ir mais longe, mas o que importa é que ele não conseguiu nenhum maior dano e que agora está finalmente nas mãos da polícia.

Suponho que a notícia já esteja se espalhando pelas redes e mídias, talvez já saibam até sobre o ataque que Taemin sofreu, mas não estou com cabeça para ficar conferindo sites de fofoca. Aliás, eu sinto como se meu corpo tivesse sido triturado e atropelado algumas vezes, foram muitas 'descargas elétricas' me percorrendo pra um único dia. Primeiro tive toda a questão com Ten e depois toda essa confusão com meu filho. Quase desmaiei, fiquei em observação, não consegui dormir, chorei tudo que tinha pra chorar. Taeyong já foi embora, Minho também. Key e Onew me ligaram, estavam tão desesperados quanto eu. O líder prometeu passar por aqui durante o horário de visita e felizmente pude acalmá-los com as boas notícias vindas da equipe médica.

Eu queria poder cometer crimes, queria ter esse tipo de licença, porque nenhuma parte da minha humanidade me faria desistir de matar aquele homem desgraçado se a lei não existisse. Sinto muito em decepcionar pessoas que tenderiam a me idealizar como justa e pacífica, mas qualquer mãe que disser que não tem vontade de matar alguém que agride seu filho dessa forma estará mentindo. Então eu tenho muita dessa vontade, embora não possa externa-la e tenha que me contentar com o fato de sua prisão. Imagino o quanto a mãe de Ten deve ter desta mesma vontade...

"Mãe..." – ouvir a voz fraca e calma de Taemin pela primeira vez em algumas horas me deu mais uma descarga elétrica, me tirou do mundinho dos meus pensamentos.

Até então eu estava sentada na poltrona, tentando me ocupar com uma revista que achei jogada pelo hospital, mas não conseguindo ler mais que uma linha a cada meia hora, esperando que ele acordasse. Me levantei quase instantaneamente quando o ouvi chamar e me aliviei quando vi seu sorriso. O pestinha parecia melhor que eu e teve a coragem de rir na minha cara quando pude soltar meu suspiro guardado por todas aquelas horas.

"Está rindo do meu desespero?" – o repreendi, finalmente conseguindo relaxar por saber que meu menino estava mesmo bem

"Faz um tempo que estou te olhando e você não percebeu" – retrucou, ainda sorrindo feito uma criança sapeca. Talvez ele sorrisse tanto apenas pra me acalmar, mas era reconfortante de qualquer forma

Sorri de volta, sentindo todo o peso do meu peito se desfazendo aos poucos. Por mais que tudo tenha sido uma confusão num só dia, tudo também estava se acertando em questão de horas – desde a recuperação de Ten e a prisão de seu agressor até a recuperação do Taemin. Olhei pro relógio pregado perto da porta do quarto, era 04:53 da manhã; eu não havia percebido as horas passarem, pelo menos não havia prestado atenção nelas. Me sentei no canto da cama, Taemin parecia meio abatido, mas bem, melhor do que eu esperaria. Puxei sua mão pra mim e entrelacei nossos dedos, precisava senti-lo tanto quanto podia.

"Ficamos preocupados" – o encarei, segurando minhas emoções remanescentes. Passei a mão por seu rosto, encarando alguns pequenos machucados mais de perto; e depois de leve pelo curativo que tinha no braço esquerdo, perto do ombro – "Não me assuste desse jeito outra vez, okay?" – coloquei mais força em minha mão, ao mesmo tempo em que arrumava algumas mechas de seu cabelo que se bagunçavam pelo travesseiro. Taemin assentiu, com um pequeno sorriso – "O que aconteceu?"

"Eu não sei explicar direito, foi um pouco confuso" – respondeu, agora mais sério, encarando o teto – "Eu desci pro estacionamento e vi aquele cara conversando com alguém, então eu avisei o Minho hyung pra que ele se encontrasse comigo" – Taemin falava tão pausadamente que era como se ele nem tivesse sido basicamente esfaqueado horas atrás. Ele é meu filho em tudo, menos na paciência – "Mas, ele veio gritando pra cima de mim quando me viu, eu acho que ele devia estar bêbado ou algo do tipo"

"E você sabe com quem ele estava falando?" – tentei investigar, mesmo achando que a resposta provável fosse o próprio Han Se Min. No entanto, a expressão de Taemin me dedurou que era alguma outra pessoa. Ele manteve o silêncio por alguns segundos e desviou o olhar pelo quarto, como se aquela fosse uma resposta que não queria dar, o que era bem suspeito – "Taemin-ah... O que foi?"

"Era meu pai" – respondeu, quase num sussurro, voltando a me encarar. E foi então minha vez de demorar alguns segundos para conseguir raciocinar sobre aquela resposta. Primeiro porque eu não esperaria jamais que Jong Ki estivesse no meio dessa história assim tão diretamente, e segundo porque eu também não esperaria que Taemin fosse tão facilmente chama-lo de pai na minha frente.

"Seu pai?" – perguntei, duvidando um pouco do que tinha ouvido antes

Taemin assentiu.

"Foi ele quem me defendeu, na verdade" – completou, em um fio de voz

Okay, estamos em um novo nível agora. 

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