Capítulo 8: Dress Code

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Naquela noite, a tarefa incumbida à líder do grupo, era entregar os trajes que deveriam ser usados pelos agentes durante as aulas e treinamentos no Curso de Reciclagem. Ela se sentia como um carregador de malas de hotel, levando todas aquelas peças de roupas dispostas em capas plásticas como se houvessem acabado de chegar da lavanderia, em um desses carrinhos de carga.

Ao bater à porta de Will Daniels e Grant Ward, o primeiro atendeu, trajado apenas com um roupão de banho, enquanto o segundo tinha somente uma toalha em torno de sua cintura.

- Ahn... Oi, me desculpe – disse Will, soando um tanto embaraçado - pensamos que era o cara da manutenção.

- Oi, Jemma! – por sua vez, Ward aparentava tranquilidade, deitado em sua cama e acenando para a bioquímica com um largo sorriso – os chuveiros do fim do corredor estão queimados, sabia disso? O cara da manutenção ficou de nos avisar quando tivesse consertado. Achamos que era ele – o operativo ergueu ligeiramente a cabeça, como se quisesse espiar algo por sobre o ombro de Jemma – Sua amiga não está com você?

- Não. Ela não está.

- Pena. Era o momento ideal para fazermos uma pequena festinha – sugeriu com ar malicioso.

- Ward, não! – Will o censurou. Seu amigo apenas o encarou de volta com as sobrancelhas arqueadas, como se não visse nada de mal no que havia acabado de dizer.

Embora não tenha demonstrado, Jemma ficou levemente desconcertada com a cena e amofinada com o comentário insolente de Ward, então, para dissipar seu súbito desconforto, entregou os trajes nas mãos de Will e disse apenas:

- Pelo menos vejo que cheguei na hora certa. Essas são as roupas que devem vestir para as aulas de Comunicações, Operações e Ciências e Tecnologia. Eu preciso entregar aos demais – finalizou com um sorriso amistoso.

- Obrigado... Jemma! – chamou ao perceber que ela se virava e tencionava se afastar – me desculpe, mais uma vez. Não foi intencional...

- Está tudo bem ­– cortou ela, sacudindo os ombros, fazendo-se de despreocupada – não foi nada.

Ela tentou não pensar no fato de que todos haviam sido comunicados, naquela tarde, de que a líder do grupo de recrutas passaria nos alojamentos para lhes entregar os trajes que deveriam usar durante os diferentes segmentos do curso. Espantou o pensamento para longe. Na certa, haviam apenas se esquecido disso.

Na terceira tentativa de Jemma em bater à porta de Ophelia, a recruta finalmente atendeu. O sorriso cintilante se desfez de imediato ao tomar conhecimento de que era Jemma quem estava batendo.

- No que posso ajudar? – perguntou em um tom gélido, embora mascarado de solicitude.

- Estes são os trajes que deve vestir para as aulas e treinamento - informou, entregando as capas nas mãos de Ophelia.

- Oh! Obrigada, Jenna. Até mais! – disse Ophelia com um último sorriso alegadamente simpático, antes de fechar a porta na cara da bioquímica.

- É Jemma! – sussurrou, irritada, para a porta de madeira trancada diante de seu rosto – Francamente... – concluiu, seguindo seu caminho rumo aos demais alojamentos.

Ela deixou para entregar os trajes de Fitz e Hunter propositalmente por último. Levantou a mão para bater à porta do alojamento que os dois amigos dividiam e então a abaixou novamente. Tomou fôlego até resolver finalmente bater. Não demorou para que Lance Hunter abrisse a porta para ela.

- Oh... Olá! – disse ele, um tanto desorientado diante da presença dela, mas se esforçando para soar agradável e casual.

- Oi! – ela deu um sorriso terno e então desviou o rosto de Hunter para Fitz que arrumava seus livros, possivelmente em ordem alfabética, na pequena prateleira localizada na parede entre as duas camas. Ele havia virado a cabeça para trás ao perceber de quem se tratava, mas agora já voltara aos seus triviais afazeres – aqui estão seus trajes para as aulas e treinamentos – disse, farta de repetir aquela frase pelo que parecia ser a quinquagésima vez na última meia hora.

- Ah, não! Uniformes... – Hunter coçou a nuca, aborrecido e surpreso.

- Não são uniformes. São os trajes adequados para as aulas de Operações, Comunicações e Ciência e Tecnologia – garantiu ela.

- Uniformes – tornou Hunter.

Jemma revirou ligeiramente os olhos, o que passou despercebido pelo seu interlocutor. Lance já havia tomado as capas plásticas com suas roupas entre as mãos e as levado para a sua cama a fim de abri-los e analisar melhor as peças.

Ela reuniu alguns poucos resquícios de coragem que lhe restavam.

- Fitz! – chamou em um tom de voz baixo, porém, firme.

Surpreendido por ouvi-la dizer seu nome, o engenheiro virou-se novamente na direção dela.

- Esses são seus – disse, indicando as roupas nas capas que acabara de tirar do carrinho de carga e agora segurava em seus braços, deixando claro que ele deveria se aproximar para pegá-las.

E foi o que ele fez. Após hesitar, engolir em seco e, finalmente, caminhar meio vacilante até ela. Fitz não foi nada gentil. Apenas tirou rapidamente o embrulho das mãos de Jemma, mal dizendo um obrigado, jogando-as sobre sua cama e voltando a organizar seus livros.

Jemma havia feito intencionalmente. Ela poderia ter simplesmente entregado tanto as peças de Fitz quanto de Hunter para este último, que foi quem atendeu à porta. Assim como fizera em diversas outras situações naquela noite. Mas queria dar os trajes diretamente nas mãos do engenheiro, aproveitando o ensejo para falar com ele sobre o cronograma que deveriam adotar como equipe. Contudo, ele sequer lhe deu essa chance.

Ela encarou suas costas por um momento, ainda surpresa com o quão rude e desagradável ele conseguia ser, antes de tornar o rosto na direção de Hunter e perceber que ele massageava a nuca, um tanto desconfortável, olhando de volta para ela. O recruta deu um meio sorriso sem jeito antes de agradecê-la.

- Por nada – tornou ela, amofinada. Então seguiu seu caminho pelo corredor de acesso aos alojamentos.

Hunter fechou a porta.

- Cara, por que tratá-la dessa forma? Qual é o lance com ela?

Fitz interrompeu o que estava fazendo para encarar o amigo com uma sobrancelha levemente arqueada.

- Não sei do que está falando. Eu apenas peguei meus trajes e agradeci a ela. Simples - ele deu de ombros e colocou o último livro na prateleira, encerrando sua arrumação.

Hunter agitou uma mão no ar como se espantasse um inseto voador, decidindo que era melhor deixar aquele assunto para lá. Não conseguiria arrancar nada de seu, atualmente, lacônico e enigmático amigo. Por isso, se pôs a avaliar seus trajes com cautela, tirando-os de dentro dos sacos plásticos. Sua expressão foi de analítica para uma careta de reprovação.

- Consegue me imaginar dentro desse terno? Ou pior: nesse jaleco? - perguntou, erguendo os trajes, cada um em uma mão, de modo que Fitz pudesse dar uma boa olhada em ambos.

O engenheiro cruzou os braços, recostando-se à parede.

- Consegue me imaginar com o traje de Operações? - retrucou.

De sua parte, Lance apenas suspirou.

- As garotas vão usar o quê? Saias xadrez e meias ¾?

- Não, elas vão usar terno também.

- Pena. Pelo menos saias xadrez poderiam atiçar meu imaginário durante uma aula particularmente chata de Comunicações.

Fitz sacudiu a cabeça em reprovação.

- Cresça, Hunter!

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