Ophelia estava sempre de bom-humor. Exibindo aquele sorriso cintilante que, combinado à sua personalidade, reluzia mais do que o sol naquela manhã invernal. Fitz gostaria de dizer que seu bom humor era contagioso, mas infelizmente, a despeito da garota que falava sem parar, enganchada em seu braço, e do sol que havia resolvido dar o ar da graça naquele dia frio, o humor aborrecido do engenheiro era constante. Desde o momento em que fora obrigado a retornar à Academia para a Reciclagem.
Ela falava qualquer coisa sobre como o canto dos pássaros era mais ressonante daquele lado do campus quando avistou Alistair se aproximando. Ophelia o recepcionou, solícita como sempre.
- Bom dia, senhor! Como não seria um bom dia com esse sol maravilhoso – comentou, irradiando simpatia.
- Bom dia, Srta. Sarkissian – Alistair respondeu, polido, retribuindo vagamente seu sorriso – como está indo?
- Bem. Acredito que a Reciclagem não deva ser levada como punição, como bem comentou Victoria Hand. É uma ótima oportunidade para crescer e evoluir, reparando minhas falhas - disse.
Do seu lado, Fitz revirou os olhos discretamente.
- Excelente que alguém pense assim. Agora, correndo o risco de parecer descortês, eu terei de roubar sua companhia por alguns minutos, Srta. Sarkissian. Preciso trocar duas palavras com Leopold.
- Ah, tudo bem – ela agitou uma mão no ar, se fazendo de despreocupada – eu vou dar uma volta e curtir o sol. Nos vemos mais tarde, Leo.
Ophelia se afastou, sacudindo continuamente o cabelo.
- Leo? – Alistair perguntou com um sorriso audaz – quanta intimidade.
Ele encarou o pai, determinado, imprimindo uma nota clara de desafio em sua voz.
- Ela tomou essa liberdade por conta própria. Eu não disse a ela que me chamasse de Leo. Sabe que eu odeio esse nome.
- Sim, eu sei – Alistair respondeu, como se não se importasse com o comentário do filho – não estou aqui para falar de seu apelido ou de sua companhia. Embora eu deva acrescentar que, finalmente, você acertou. Ela é 'n' vezes melhor do que Lance Hunter. Pode ser uma boa influência para você.
- Influência? – Fitz franziu o cenho, expressando indignação.
- De qualquer modo – Alistair prosseguiu, ignorando a reação do filho - estou aqui para lembrá-lo. Você já me decepcionou duas vezes. Não vou tolerar uma terceira.
- Como assim, duas vezes? – agora, ele soou mais intrigado do que irritado.
- Sim. A primeira quando foi recrutado para a Reciclagem. A segunda quando foi classificado como Beta.
Fitz cruzou os braços em frente ao corpo, com insolência.
- Está se esquecendo de uma, não?
Foi a vez de Alistair arquear as sobrancelhas, confuso.
- Quando eu nasci – Fitz completou, categórico.
Saboreando a pequena e rara vitória no embate verbal, ele observou o pai engolir em seco, furioso.
- Não comece, Leopold. Não comece com seu histórico de complexos juvenis. Sabe muito bem porque está aqui e não adianta nada ficar irritadinho.
- Eu não esqueço o motivo que me trouxe aqui, Alistair. Isso martela na minha cabeça constantemente. O tempo inteiro... E, falando em o tempo inteiro, eu vi seus homens no Boiler Room ontem à noite. Você poderia deixar mais óbvio que está nos observando o tempo todo?
Alistair sorriu com satisfação e insolência.
- É necessário vigiá-los. Mesmo em momentos descontraídos. São esses os momentos mais reveladores de vocês.
- Claro – Fitz descruzou os braços – aposto que isso já contou pontos. Ou descontou.
- Sempre tem um ou outro que se descontrola em relação ao álcool e exibe um comportamento violento. Mas há outros que se limitam a serem desagradáveis e antissociais.
- Exatamente como eu imaginava. Tudo aqui se trata de um teste. Até essa semana de folga.
O engenheiro já suspeitava que aquela semana em off, entregue assim de mão beijada para agentes renegados, que falharam miseravelmente e precisaram retornar à Academia, se tratava de uma provação. Tudo para analisar a interação e a dinâmica de grupo.
- Aposto que foram seus homens que espalharam pelo campus essa ideia de Boiler Room. E todos caíram feito imbecis.
- Fitz, vou te falar uma única vez - De maneira ligeiramente ameaçadora e com o rosto endurecido, Alistair se aproximou mais do filho, porém, evitando encará-lo nos olhos e, por isso mesmo, perdeu o momento em que Fitz se retesou, um tanto amedrontado. Aquele temor momentâneo resultava de reminiscências de outros tempos – Não é da sua conta os protocolos adotados pelo corpo docente. Por ora concentre-se no curso e em seu treinamento, para tentar apagar essa mancha vergonhosa da Reciclagem de seu currículo.
Ele não deu tempo ao filho de replicar, girando nos calcanhares e afastando-se a passos largos, deixando o engenheiro para trás, sentindo a raiva cada vez mais crescente dentro de si se apoderar de todo o seu ser. Fechou as mãos em punhos nas laterais do corpo. Como se não fosse o suficiente, no exato instante em que desviou o rosto da figura de seu pai, que se distanciava e sumia de vista, seus olhos repousaram sobre Jemma Simmons, sentada no gramado, próxima ao lago que cortava o campus. Acompanhada de Will Daniels, a bioquímica o observava. Assim que os olhos de Fitz capturaram os dela, a cientista aparentemente fez menção de tornar o rosto para o outro lado, mas não havia mais como disfarçar. Eles o estavam fitando, provavelmente, espiaram toda a cena que se desenrolara entre ele e seu pai. Com um último olhar cortante e ferino em direção a seus dois colegas, Fitz virou-se, rumando para a entrada do edifício que comportava a Academia da SHIELD.
*
Enquanto caminhava pela calçada que margeava o prédio, duas coisas atormentavam Jemma: a primeira era a história que Will havia lhe contado a respeito de Fitz, incluindo o trecho que salientava que o engenheiro tinha verdadeira aversão a inumanos, o que fazia a bioquímica pensar que, talvez, todo aquele desdém fosse proveniente do fato de que ela andava sempre acompanhada de Daisy por onde fosse. A outra era a ideia de ter de procurar e abordar Fitz para que discutissem seu método de treinamento e todo o seu cronograma referente a tarefas de campo e laboratório.
Como se lesse seu pensamento, Fitz pareceu se solidificar frente à entrada da biblioteca. Jemma deteve seus passos ao avistá-lo.
Eles se encararam em silêncio e paralisados por um instante que pareceu eterno, antes de Fitz dar as costas a ela e se afastar. Jemma cerrou os olhos, abrindo e fechando os punhos, contando até dez mentalmente. Uma abordagem seria extremamente difícil, por maiores que fossem seus esforços.
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ACADEMIA SHIELD: Renegados
FanficApós cometerem falhas graves em missões como agentes efetivos da SHIELD, eles são obrigados a passar pelo temido e execrado Curso de Reciclagem se quiserem recuperar seus distintivos, suas posições na agência e, principalmente, seu crédito e sua hon...