ACADEMIA SHIELD: Renegados

Capítulo 40: Orgulho e Desprezo

Ela folheava distraidamente um livro qualquer sobre mecânica quântica – a fim de ocupar sua mente, desviá-la de rotas sombrias e afastar os pensamentos que haviam desencadeado uma crise de ansiedade mais cedo – quando ele surgiu, saído de trás da prateleira de livros na qual ela havia se recostado.

- Hey! – disse simplesmente, a surpreendendo.

Jemma fechou o livro com um estrondo devido ao sobressalto; suas pupilas se dilataram, a respiração tornou-se ofegante, seu coração acelerou. De imediato, ela levou uma mão ao peito, como se o gesto fosse, de alguma maneira, eficaz na tentativa de acalmar suas batidas cardíacas frenéticas.

- Fitz! – ela exclamou, atentando-se tardiamente para o volume elevado de sua voz, então olhou ao redor, preocupada, conferindo se havia perturbado a quietude natural e imperativa à biblioteca – Me deu um susto! – prosseguiu, diminuindo o tom.

- Sinto muito – ele sussurrou em resposta – disseram que você estava doente.

Jemma não deixou de notar os olhos preocupados e o semblante tortuoso do engenheiro.

- Foi só uma indisposição – respondeu simplesmente.

- Tem certeza?

- Sim.

- Não há nada que queira me contar – ele insistiu.

A bioquímica o perscrutou. Um alarme soou, de repente, em sua cabeça. Jemma fez o possível para disfarçar a surpresa que ameaçava tomar conta de sua face. Fitz parecia ligeiramente apreensivo e angustiado. Ela perguntou a si mesma se ele carregava as mesmas suspeições de suas amigas...

- Foi apenas uma indisposição – ela repetiu, tentando espantar as suspeitas do engenheiro para longe.

Por um momento, pareceu que ele estava travando um violento conflito consigo mesmo. Respirou fundo, baixou o olhar, encarou um ponto qualquer no chão por segundos que pareceram se arrastar, intermináveis. Uma discussão acirrada ocorria dentro de sua mente. Seu lado racional e o emocional digladiavam.

- Olha... – começou hesitante, então puxou fôlego por entre os dentes e ousou prosseguir – eu tenho lutado em vão contra meus sentimentos... Não tanto contra meus desejos, admito. Mas tenho tentado, em vão, reprimir o que sinto, repelir isso... Porque eu estou passando por cima dos meus próprios princípios, afinal – declarou, reticente. Dizer aquelas palavras parecia demandar um enorme e intenso esforço.

- O que quer dizer? – perguntou Jemma, genuinamente confusa e desorientada diante daqueles pensamentos verbalizados que, por ora, não pareciam fazer o menor sentido.

- Eu te amo – disse de uma vez, antes que sua coragem vacilasse.

Espiou a reação da bioquímica por um instante. Mas ela estava inerte. Não ousava se mover. Era possível até que houvesse suspendido a respiração. Os lábios dela se encontravam entreabertos, os olhos escancarados.

- Eu me apaixonei por você – como ela nada disse, limitando-se a encará-lo atônita e a cena começava a se tornar mais embaraçosa do que ele havia previsto, Fitz optou por continuar seu relato, não temendo as consequências – e você estava certa. Não temos porque continuar escondendo... Eu estou disposto a te assumir... Como minha namorada.

Ela continuou a fitá-lo por um longo momento. Súbita e fracamente, deixou escapar um pequeno fôlego por entre os lábios que ainda encontravam-se entreabertos. Intimamente, o engenheiro agradeceu por isso. Enfim, ela estava tornando a respirar.

Todavia, o semblante da bioquímica sofreu uma drástica transformação. O choque cedeu espaço à consternação. Foi a vez de Jemma baixar o olhar a fim de avaliar aquelas palavras. Engoliu em seco, assumindo uma expressão severa, a face marcada por linhas rígidas. O engenheiro a observava inquieto e ansioso. Ela estava tão adorável com o cabelo todo preso em um modesto rabo de cavalo no alto da cabeça, trajando roupas casuais e sem uma gota de maquiagem em seu rosto que ele sequer conseguia acudir ou refrear seus sentimentos. Compreendeu, por fim, que a amava mais do que nunca naquele momento e sentiu um profundo alívio por ter finalmente expresso isso em palavras diante dela. Só desejou que ela falasse alguma coisa. Qualquer coisa. Ansiava violentamente por uma resposta. Enfim, após um longo instante de silêncio, ela decidiu se pronunciar.