Capítulo 16: Nem Tão Estranhos Assim

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No carro, Jemma arriscou uma olhada de soslaio para o sujeito no banco do carona em quem ela havia derramado vinho. A noite era gélida e uma fina camada de névoa envolvia a cidade. Ela procurava manter a calma enquanto conduzia o veículo, as mãos mais firmes do que o necessário no volante indicavam sua tensão. Ainda sentia vontade de espalmar a mão na própria testa sempre que olhava para o homem ao seu lado e se lembrava do quão desastrosa estava sendo sua noite. Uma noite que sua amiga, Daisy, planejara ser divertida para ela a ponto de fazê-la esquecer momentaneamente de seus problemas, distrair-se e dissipar a tensão que vinha lhe acompanhando nas últimas semanas.

O silêncio do desconhecido não contribuía em nada para que ela se acalmasse. Ele mantinha os olhos fixos na janela, encarando a paisagem urbana repetitiva que os acompanhava durante o caminho. Jemma decidiu puxar conversa para quebrar aquele clima claustrofóbico do carro.

- Então... Costuma frequentar muitos pubs quando está na Inglaterra? - tentou, esboçando um sorriso gentil.

- Não se eu puder evitar.

Foi a resposta que ela conseguiu arrancar do taciturno homem ao seu lado, que nem mesmo se deu ao trabalho de olhar para ela ao dizer aquilo. O tom de voz impassível e a sentença áspera proferida por ele soaram como um banho de água gelada sobre sua cabeça, por isso, ela optou por desistir de manter uma diálogo.

Mantiveram-se calados durante todo o restante do trajeto.

*

- Tire seu casaco para que eu possa colocar na máquina de lavar - recomendou Jemma assim que adentraram seu apartamento.

Ele parecia levemente desconcertado na sala de estar da bioquímica, sentindo como se pisasse em ovos. Tirou o terno, meio relutante, e o entregou à Jemma. Foi então que a bioquímica notou que a camisa branca que ele vestia por baixo também estava manchada de vinho.

- Oh! Eu não havia reparado na sua camisa... Deveria deixar que eu a colocasse na máquina também - acrescentou com simplicidade.

O engenheiro, no entanto, ficou totalmente sem jeito ante aquela sugestão.

- Não é necessário! - apressou-se em contornar.

Jemma limitou-se a revirar os olhos, diante do desconforto do desconhecido.

- Ora, vamos! Eu vou encontrar algo para você vestir antes de colocar suas roupas na máquina - disse, caminhando até seu quarto em busca de alguma peça que ele pudesse usar.

Ainda que a contragosto, ele foi desabotoando a camisa. Sua respiração se tornou errática, de repente. Sua ansiedade ameaçando atingi-lo com força. Nem ele sabia explicar o porquê. Talvez, fosse o fato de estar no apartamento de uma desconhecida que, misteriosamente, lhe despertava alguma atenção. De certa forma, ela o instigava. E ele estava desnudando-se da cintura para cima em sua sala de estar. Isso aliado ao fato de que ele não era conhecido por ter muito tato social. Não havia como não se sentir incomodado...

Jemma ressurgiu, trazendo uma camisa masculina de gosto duvidoso.

- Isso foi tudo o que eu consegui achar. Lamento - desculpou-se enquanto estendia uma camisa com listras verticais, multicolorida, na direção dele.

O engenheiro examinou a peça de roupa com um nítido ar de desagrado, retorcendo os lábios e franzindo o cenho. Ela suspirou em resposta, mas estava divertindo-se internamente com a careta que ele estava fazendo ao avaliar aquela camisa. O estranho ergueu a cabeça para fita-la com um olhar interrogativo. Como se lesse seu pensamento, ela compreendeu e pôs-se a explicar - não que precisasse, mas já que ele parecia curioso...

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